A Petrobras não é o governo

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Publicado Quarta, 11 de Fevereiro de 2015 às 07:00, por: CdB
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Rodrigo Rimon Abdelmalack, editor-chefe da redação brasileira da DW
  A popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT) despencou nos últimos dois meses: o número dos que consideram seu governo ruim ou péssimo saltou de 24% para 44%, revelou a mais recente pesquisa do Instituto Datafolha. Nem mesmo durante os protestos que abalaram o país em 2013, a popularidade da presidente atingiu um nível tão baixo. Isso mostra como o auge que atingiu a crise da Petrobras – com desvio de recursos bilionários, segundo investigações ainda em andamento conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal – está sendo vinculado à figura da presidente. Especula-se até a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff por improbidade administrativa. O espaço que tais especulações têm ganhado na mídia brasileira pode levar à interpretação errônea de que se trata de um passo lógico no saneamento da empresa que o brasileiro tanto identifica com seu país. Afinal, o eleitor sabe que a saída de Graça Foster e de cinco diretores do comando da estatal não é suficiente para resolver os problemas da Petrobras. Será preciso muito mais para recuperar a credibilidade perdida. O novo presidente, Aldemir Bendine, até então presidente e membro do Conselho de Administração do Banco do Brasil, não poderá fazer simplesmente tabula rasa. Em época de desaquecimento econômico internacional e de baixo preço do petróleo, ele terá ainda que sanar os problemas na gestão dos contratos denunciados pelas investigações anticorrupção. Ou seja: nem a Petrobras tem como recomeçar do zero, nem a conjuntura é propícia a uma rápida recuperação. Contudo, reduzir o saneamento da Petrobras à dimensão política seria um erro, tanto para o Brasil como democracia quanto para a Petrobras como empresa. De fato, estatais frequentemente são exploradas para atender a fins políticos; e seus tomadores de decisões sabem que, em caso de emergência, o dinheiro público estará lá para cobrir as perdas. Para os críticos, uma ocasião oportuna para retomar o velho argumento de que a solução para a Petrobras seria uma privatização completa. Mas isso seria simplificar demais o problema. Da mesma forma como seria errado instrumentalizar a crise da estatal para explorá-la apenas politicamente. Não resolveria o problema de ninguém. Naturalmente é salutar o simples fato de um esquema de corrupção tão pérfido e nocivo vir à tona e ser investigado, e de seus acusados serem julgados e condenados. Também é perfeitamente correto cobrar da líder do Executivo que comunique tudo o que sabe, assim como incentivar que faça uso de seu poder como instância de controle. Isso deveria ser evidente. Porém, como disse a própria presidente, é preciso punir as pessoas, não a empresa. Só assim seria feita justiça aos milhares de profissionais capacitados que transformaram a Petrobras em uma das maiores empresas petroleiras do mundo, atuante em 17 países, e com uma receita anual de mais de R$ 300 bilhões. O objetivo dos eleitores deveria ser defender a Petrobras, protegê-la da mera instrumentalização política. Só assim ela será capaz de executar as mais que urgentes reformas, necessárias para tirá-la da lama ideológica em que se encontra.   Rodrigo Rimon Abdelmalack, é editor-chefe da à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) Brasil.
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