Barbosa aponta golpe contra Dilma, que prevê queda de Temer

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Publicado Quinta, 01 de Dezembro de 2016 às 10:14, por: CdB

Para Barbosa, que comandou  julgamento da Ação Penal 470, o impeachment de Dilma Rousseff não passou de "uma encenação”. O ato parlamentar, porém, fez o país retroceder a um "passado no qual éramos considerados uma República de Bananas"

 

Por Redação - de São Paulo

 

Enquanto o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa chama de farsa o impedimento da presidenta deposta, Dilma Rousseff prevê que o presidente de facto, Michel Temer, terá o mesmo destino. Será derrubado para que seu sucessor seja escolhido pela via indireta, em eleição no Plenário do Congresso.

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Dilma e Barbosa, em raro encontro no STF: afago que não voltaria a se repetir

Para Barbosa, que comandou  julgamento da Ação Penal 470, o impeachment de Dilma Rousseff não passou de "uma encenação”. O ato parlamentar, porém, fez o país retroceder a um "passado no qual éramos considerados uma República de Bananas”.

Barbosa atribui o comando do processo que resultou no golpe de Estado, em curso, à quadrilha de políticos corruptos que queria apenas se proteger da Justiça. O ministro aposentado falou à colunista Mônica Bergamo, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. Ele acrescentou, ainda, que o governo de Michel Temer corre o risco de não chegar ao fim.

— Aquilo (impeachment de Dilma) foi uma encenação. Todos os passos já estavam planejados desde 2015. Aqueles ritos ali (no Congresso) foram cumpridos apenas formalmente — denuncia.

Conluio

Parcela majoritária do Congresso e o então vice-presidente Temer integraram um conluio para derrubar a presidenta da República.

— Utilizaram-se da estrutura de poder para reunir em suas mãos a totalidade do poder, nasce o que eu chamo de desequilíbrio estrutural — acrescentou.

Ainda segundo Barbosa “essa desestabilização empoderou essa gente numa Presidência sem legitimidade. Unida a um Congresso com motivações espúrias. E esse grupo se sente legitimado a praticar as maiores barbáries institucionais contra o país”. O ex-ministro considera que, devido às circunstâncias, o governo de Michel Temer pode não chegar ao fim.

Dilma concorda

Dilma Rousseff, por sua vez, em um debate na Central Única dos Trabalhadores, noite passada, denuncia o "golpe dentro do golpe”. Em linha com o que Barbosa dizia, quase que ao mesmo tempo, a cassação de Michel Temer, em 2017, abrirá espaço para que o novo presidente seja escolhido pelo Congresso.

Diante do risco, Dilma defendeu eleições diretas já.

— Assistimos estarrecidos e perplexos todas as tentativas de dar um golpe dentro do golpe. Temos que ter a ousadia de defender mais uma vez eleições diretas para presidente — afirmou.

Dilma se referia à possibilidade de cassação da chapa encabeçada por ela e composta pelo presidente Michel Temer ocorrer depois do dia 31 de dezembro.

— É isso que se chama golpe dentro do golpe. Você cria a temporalidade para que haja eleição indireta — afirmou.

Ela também fez referência ao caso Geddel Vieira Lima.

— O Estado se exceção é capaz de criminalizar alguns atos legítimos e perdoar outros que não são legítimos. Estes dois pesos e duas medidas está ficando claro em várias ações. Sobretudo na dimensão para certas questões. Não é considerado crime por advocacia administrativa defender que se libere a construção de um edifício de 106 andares numa área de patrimônio histórico — afirmou.

Diretas já

Para Barbosa, as eleições diretas para a Presidência, como sugeriu a presidenta Dilma, podem reparar os "trunfos" que foram perdidos pelo cargo com a chegada ilegítima ao poder. Sobre uma eventual prisão de Lula, Barbosa é enfático: “se não houver provas incontestáveis, quem perde é o Brasil”. 

— Sei que há uma mobilização, um desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de ser sequer julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação. Há um esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito negativo do mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável — afirma.

Segundo Joaquim Barbosa, o grupo que assumiu o poder, após o golpe de Estado, segue na intenção de paralisar as investigações da Operação Lava Jato.

— A sociedade brasileira ainda não acordou para a fragilidade institucional que se criou quando se mexeu num pilar fundamental do nosso sistema de governo, que é a Presidência (da República). Uma das consequências mais graves de todo esse processo foi o seu enfraquecimento. Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave como é o impeachment não tinham clareza da desestabilização estrutural que ele provoca — concluiu.

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