Berlim, Johnny Depp ator e militante político

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Publicado Domingo, 23 de Fevereiro de 2020 às 03:53, por: CdB

Em Berlim, o ator Johnny Depp surge como um combatente político contra a poluição industrial que afetou gravemente uma população de pescadores, no Japão, mesmo porque é o ator e produtor do filme Minamata, nome da pequena cidade onde a poluição por mercúrio causou mortes e afetou crianças, entre 1951 e 1970.

Rui Martins, do Festival Internacional de Cinema de Berlim:
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O outro look de Johnny Depp
Johnny Depp vive, no filme Minamata, dirigido por Andrew Levitas, o lendário fotógrafo da antiga revista Life, William Eugene Smith, conhecido por suas fotos durante a Segunda Guerra Mundial, pelas fotos da Clínica do dr. Schweitzer, na África Equatorial. e pelas fotos feitas na pequena cidade japonesa de Minamata, cuja população estava sendo envenenada pela poluição causada por uma indústria química local. Inicialmente, Eugene Smith não queria ir até Minamata, como lhe pedia o editor da revista Life. Mas acabou sendo convencido e suas fotos serviram para revelar ao mundo os distúrbios neurológicos causados na população de pescadores japoneses de Minamata pelos resíduos químicos não tratados de mercúrio lançados nas águas da Baía de Minamata, por uma indústria local com cumplicidade das autoridades locais, poluindo os peixes, alimentação principaldos habitantes da cidade. A poluição tinha começado em 1956, mas foi acobertada pelos dirigentes da cidade até 1961, quando as fotos de Eugene Smith mostraram ao mundo os males causados nas crianças e na população. Em Minamata, Johnny Depp reencontra o engajamento político como ator e como produtor de um filme de denúncia contando uma história real. "Senti imediatamente um estranho fascínio pela experiência de Eugene Smith, por seu compromisso com o trabalho e pelo sacrifício que ele fez", contou Johnny Depp, também produtor do filme, no contato com a imprensa. No filme, ele encarna toda a força das imagens, mesmo porque tão logo leu o roteiro do filme com a história e o pesadelo vivido pelos habitantes de Minamata, Johnny Depp, que sentiu a necessidade de divulgar os fatos: "Nunca imaginei que algo tão horrível pudesse acontecer. Como leitor, senti que essa história tinha que ser contada. Eu acho ser necessário se usar o poder da mídia e do cinema para abrir os olhos das pessoas para algo que aconteceu. Temos a sorte de poder honrar a memória dessas pessoas mostrando o que elas viveram. Poder usar o cinema para enviar uma mensagem é para mim um sonho ". Johnny Depp, convertido num ativista contra a poluição, acentuou também no contato com a imprensa a importância da militância política e do poder coletivo, pois sozinhos somos muito pequenos para reagir: "Na vida, todos nós temos que enfrentar problemas insuperáveis como doenças e crises. Mas no I Ching, existe um belo símbolo a respeito. Você enfrenta essas enormes dificuldades, mas não será capaz de vencê-las lutando sozinho ou gritando. O poder dos pequenos é a ideia de que juntos reconhecemos o problema para combatê-lo pouco a pouco."
Por Rui Martins, de Berlim no Festival Internacional de Cinema.
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. É criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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