Bolsonaro se isola ao brigar com governadores e renegar pandemia

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Publicado Quarta, 25 de Março de 2020 às 13:28, por: CdB

Bolsonaro voltou a criticar nesta quarta-feira, medidas de restrições contra o coronavírus e mencionou possível ameaça à normalidade democrática do país. Isolado, após se indispor com os principais governadores brasileiros, o mandatário neofascista eleva o tom contra as medidas sanitárias recomendadas por seu próprio governo.

Por Redação - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ficou ainda mais isolado dos governadores nesta quarta-feira, após entrar em atrito direto com o governador de São Paulo, João Doria, durante reunião sobre o coronavírus, e de perder o apoio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, devido ao pronunciamento no qual voltou a minimizar a pandemia e criticou medidas dos Estados.
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Bolsonaro se atrapalha na hora de vestir a máscara higiênica, ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que está com o cargo em risco
Bolsonaro voltou a criticar nesta quarta-feira, medidas de restrições contra o coronavírus e mencionou possível ameaça à normalidade democrática do país. Isolado, após se indispor com os principais governadores brasileiros, o mandatário neofascista eleva o tom contra as medidas sanitárias recomendadas por seu próprio governo. Em entrevista a jornalistas, na saída do Palácio da Alvorada, o presidente também afirmou que “alguns poucos governadores” —citando especificamente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC)— estão cometendo “um crime” e “arrebentando com o Brasil”. — O que é que preciso ser feito? Botar este povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problemas de saúde, mais nada além disso. Caso contrário, o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil — disse. No imaginário de Bolsonaro, há uma espécie de conluio entre os governadores, para retirá-lo do cargo. — Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem. Ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil — disse o presidente, citando a possibilidade de saques a supermercados.

Confronto

Bolsonaro ainda acusou Doria e Witzel, durante a videoconferência realizada nesta manhã, de fazer demagogia em relação à crise do novo coronavírus. Doria, por sua vez, pediu a suspensão por um ano do pagamento das dívidas dos Estados com a União, e cobrou diretamente Bolsonaro para que lidere o país com serenidade em meio à crise gerada pela pandemia do coronavírus. Na conferência, Doria iniciou sua fala lamentando o pronunciamento feito na noite passada por Bolsonaro, em cadeia nacional, no qual minimizou a pandemia de coronavírus e criticou as medidas de restrição à circulação adotadas por governadores. O governador paulista disse, dirigindo-se ao presidente, que ele deveria “dar o exemplo” e “liderar o país, não dividi-lo”. Bolsonaro reagiu com agressividade à fala do governador e partiu para o confronto. Em sua tréplica, Doria apenas disse que o presidente precisará de “muita calma, muito equilíbrio e serenidade” para liderar o país nesta crise, que chamou de gravíssima.

Mandetta

O governador paulista também fez elogios ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também presente ao encontro, ao destacar o que chamou de “forma republicana” do ministro, além do seu “equilíbrio”. Além da suspensão do pagamento das dívidas com a União por 12 meses, Doria defendeu ainda que o governo federal atue junto ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pela suspensão, também por um ano, do pagamento das dívidas dos Estados com esses organismos multilaterais de crédito. O tucano também pediu que portos e aeroportos sigam abertos para permitir a importação de insumos, a antecipação do pagamento de parcelas da Lei Kandir aos Estados e a alertou que o governo paulista tomará medidas judiciais caso o Ministério da Saúde atue para confiscar equipamentos médicos, como respiradores, adquiridos por São Paulo.

Rio de Janeiro

O governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), logo após a videoconferência com Bolsonaro, alertou que pode responsabilizar legalmente empresários que desrespeitem os decretos de restrição de funcionamento de estabelecimentos para atender o que o presidente pregou em pronunciamento de rádio e TV. Witzel elogiou o fato de ter sido retomado o diálogo com o governo federal, mas criticou o fato de Bolsonaro defender publicamente a retomada da atividade econômica — com a reabertura de escolas e do comércio, entre outros setores — mas não assumir o ônus de tomar alguma medida concreta para obrigar governadores e prefeitos a seguirem isso. Ele fez uma advertência ao empresariado. — Senhores empresários, contrariar determinações das autoridades constituídas, que normatizaram isso no papel, pode trazer aos senhores responsabilidades. Ao descumprir as determinações sanitárias qualquer um está sujeito a ser responsabilizado. As determinações são claras: fiquem em casa. O home office é uma das medidas adotadas. O empresário que decidir seguir o pronunciamento (de Bolsonaro), poderá juntamente com quem fez o pronunciamento ser responsabilizado por suas ações e omissões — afirmou.

‘Resfriadinho’

Pouco antes da reunião com os governadores, Jair Bolsonaro disse, no Twitter, que o comércio deve reabrir em meio à pandemia de coronavírus, que já infectou mais de 2 mil pessoas e matou 46 no Brasil. Ele se diz favorável à necessidade de cuidar dos idosos e de pessoas portadoras de doenças. “38 milhões de autônomos já foram atingidos. Se as empresas não produzirem não pagarão salários. Se a economia colapsar os servidores também não receberão. Devemos abrir o comércio e tudo fazer para preservar a saúde dos idosos e portadores de comorbidades”, escreveu o presidente na rede social. A publicação no Twitter acontece no dia seguinte a pronunciamento em rede nacional de rádio e TV feito por Bolsonaro, no qual ele voltou a minimizar a pandemia, classificando o Covid-19, doença causada pelo coronavírus, de “gripezinha” e “resfriadinho”. O discurso foi alvo de críticas dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e dezenas de autoridades.
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