Bolsonaro promove intervenção militar no governo, frente crises em série

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Publicado Sexta, 14 de Fevereiro de 2020 às 15:20, por: CdB

Com as novas nomeações, o governo tem atualmente nove militares no primeiro escalão, de um total de 22 ministros.

Por Redação - de Brasília
O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promoveu, nas últimas horas, uma intervenção militar no próprio governo, diante das crises em série que se abatem, constantemente, sobre a gestão neofascista, em curso. No Palácio do Planalto, haverá apenas ministros militares, o que não implica em um selo de segurança contra crises futuras.
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O general Braga Neto comandou a intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro
Com as novas nomeações, o governo tem atualmente nove militares no primeiro escalão, de um total de 22 ministros. Além disso, o Palácio do Planalto conta com cargos de destaque ocupados por egressos das Forças Armadas, como o próprio presidente, que é capitão reformado do Exército, o vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva; além do porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, também general da reserva. Entre os civis, atualmente, o presidente anunciou que Osmar Terra sai do Ministério da Cidadania, sendo substituído por Onyx Lorenzoni. Este deixa a Casa Civil, como já se especulava, para dar vez ao general Walter Souza Braga Netto, que atualmente é chefe do Estado-Maior do Exército e comandou a intervenção militar no Rio de Janeiro.

Ditadura

Mesmo no período mais agudo da ditadura, durante o governo Médici, a pasta da Casa Civil, então chamada Gabinete Civil, jamais foi ocupada por um militar. Na época, o titular era o jurista Leitão de Abreu. No Gabinete de Segurança Institucional, está o também general Augusto Heleno. Na Secretaria de Governo, outro general, Luiz Eduardo Ramos, que substituiu um colega de patente, Carlos Alberto dos Santos Cruz – dispensado após atritos com o astrólogo Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro. Só não veio do Exército o secretário-geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal. E o vice-presidente é o general da reserva Hamilton Mourão. Lorenzoni foi fritado em fogo baixo, com a retirada de suas funções ocorrendo dia após dia, ao longo de meses. Ele assume, agora, a pasta da Cidadania, responsável pelo Bolsa Família e que nos últimos dias apareceu no noticiário por contratação uma empresa suspeita de ser “laranja” para desvio de recursos.

Aparelho estatal

Na semana passada, Bolsonaro já havia promovido alterações no Ministério do Desenvolvimento Regional (que cuida do programa Minha Casa Minha Vida), com Rogério Marinho no lugar de Gustavo Canuto. Marinho, que ocupava a secretaria especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, foi autor do substitutivo da “reforma” trabalhista. Ele comandou a tropa para aprovar a “reforma” da Previdência, no ano passado. A presença militar no governo tem crescido, desde o início do ano passado. Havia cerca de 2,5 mil militares em cargos de chefia ou assessoramento, conforme dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Eles também respondem por aproximadamente um terço dos ministérios. Reportagem da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW), publicada nesta sexta-feira, também aponta crescimento da presença militar no aparelho estatal, com efeitos financeiros. “Facilitou-se a entrada deles na política. Eles recebem um adicional de 30% sobre seus soldos ou pensões. A rigor, isso deveria ser desnecessário”, constata a DW.

Carreira militar

“Assim como as autoridades judiciais, os militares de alta patente estão entre os funcionários públicos altamente privilegiados que continuam a receber vencimentos obscenamente altos, mesmo após a aposentadoria”, avalia o jornalista Alexander Busch, correspondente de América do Sul para a DW. Para Busch, provavelmente muitos militares não teriam mudado para cargos civis sem incentivos financeiros. “Porque o presidente – que no final de sua breve carreira militar por pouco escapou de ser exonerado do Exército com desonra – trata seus antigos superiores como se fossem moleques de escola. Quem faz qualquer crítica discreta é substituído. Bolsonaro quer receptores e executores de ordens totalmente submissos”, conclui.
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