Centrais sindicais apontam para inatividade do governo em áreas políticas vitais

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Publicado Quarta, 06 de Janeiro de 2021 às 13:20, por: CdB

As práticas do governo, consideradas “estarrecedoras”, apenas pioram a crise. E o cenário que se apresenta, no curto prazo, é visto como desolador. Na avaliação das centrais, o país está atrasado na implementação da vacina por irresponsabilidade do presidente da República.

Por Redação - de Brasília e São Paulo

Na primeira reunião de 2021, nesta terça-feira, as centrais sindicais definiram prioridades e querem envolver Congresso e instituições contra a falta de ações do governo Bolsonaro. Os dirigentes avaliam que não haverá retomada do crescimento econômico sem vacinação contra a covid-19. Enquanto isso, é preciso manter medidas de proteção, como o auxílio emergencial e o programa que preservou empregos e renda, via suspensão dos contratos, afirmam os sindicalistas.

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Paulo Guedes foi convocado por Jair Bolsonaro (sem partido) para uma reunião de emergência, no Palácio do Planalto

Mas as práticas do governo, consideradas “estarrecedoras”, apenas pioram a crise. E o cenário que se apresenta, no curto prazo, é visto como desolador. Na avaliação das centrais, o país está atrasado na implementação da vacina por irresponsabilidade do presidente da República.

— Sem essa preocupação (vacinas), como é que você vai colocar o pessoal para trabalhar abertamente? Hoje, Bolsonaro demonstrou sua incapacidade — afirma o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

Pela vida

O sindicalista refere-se à declaração do presidente, de que ele não pode fazer nada porque o país estaria “quebrado”.

— Aquela frase deveria ser acompanhada de outra: peça demissão — afirmou.

As atitudes de Jair Bolsonaro mostram “despreparo e irresponsabilidade”, acrescenta Juruna. Segundo o líder sindical, as centrais vão procurar os candidatos à Presidência das Casas Legislativas, instituições que têm papel central para definir o que ele chamou de “orçamento de guerra” e pressionar o governo Bolsonaro. Os governadores, prefeitos, empresários e instituições de classe serão procurados para uma campanha nacional em defesa da vida, da saúde, do trabalho e de direitos.

— Estamos correndo contra o tempo — observou.

Pressão

Para o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Dieese e um dos coordenadores do Fórum das Centrais (CSB, CTB, CUT, Força, Nova Central e UGT), “vai ser bem pior do que a gente observou no ano passado”.

Segundo afirmou, a agilização de uma campanha de vacinação em massa é questão diretamente ligada à economia. Além disso, o fim do auxílio emergencial e do programa de proteção do emprego e da renda, além de aumentar a pobreza e a desigualdade, levará mais gente de volta ao mercado, elevando o desemprego.

— Vai aumentar a pressão da procura (por trabalho). Tudo isso combinado com o risco de não ter imunização, o que vai pressionar o sistema de saúde — avaliou.

Orçamento

Enquanto isso, emenda Clemente, o governo faz o contrário do que se espera do poder público em um momento como este: pratica a desproteção. “Das pessoas, da produção, dos postos de trabalho”, afirma, apontando contrassensos.

— Para a própria concepção dele (ministro Paulo Guedes), de que é a economia que importa, a vacinação é uma condição para a atividade econômica voltar — observa o ex-diretor do Dieese. Mas não houve planejamento sequer para compra de seringas, acrescenta.

Guedes precisou interromper suas férias, nesta manhã, para uma reunião no Palácio do Planalto, convocada por Bolsonaro um dia depois de afirmar que o "Brasil está quebrado" e que não consegue fazer nada. Outros 16 ministros também foram chamados, mas nem todos atenderam à convocação.

Reformas

Na realidade, o governo não conseguiu, dois anos depois, cumprir as promessas de campanha quanto à economia. Eleito com um programa econômico liberal e reformista, Bolsonaro não conseguiu aprovar reformas estruturais para além das mudanças nas regras de aposentadoria , em 2019.

Tem tido dificuldades para fazer privatizações e controlar as contas públicas. Também pretendia substituir o Bolsa Família por um benefício de valor maior e mais abrangente, batizado de Renda Brasil e depois de Renda Cidadã. Sem espaço fiscal, a ideia não avançou.

Faltam recursos também para investir em obras públicas, outro plano que enfrenta limitações para sair do papel. Economistas, no entanto, criticaram a declaração do presidente. Disseram que o país vive uma situação de grave crise fiscal, que pode levar à insustentabilidade da dívida pública. Mas está longe de estar quebrado.

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