Cientista política diz que Bolsonaro tem perfil de ‘populista autoritário’

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Publicado Terça, 02 de Janeiro de 2018 às 14:23, por: CdB

O ano de 2017 foi politicamente conturbado no Brasil e 2018 promete ser ainda mais movimentado. Bolsonaro e Lula tendem a se enfrentar, nas urnas.

 

Por Redação, com RFI - de Belo Horizonte

 

Para fazer uma análise desse cenário, a Rádio França Internacional (RFI), do governo francês, ouviu a cientista política Mara Telles. Ela é professora e pesquisadora do Departamento de Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é pré-candidato à Presidência da República

Segundo a professora Mara Telles, o que melhor caracterizou o Brasil e o mundo politicamente no ano que passou foi a perda da confiança na democracia.

Em xeque

— Tanto o Brasil quanto outros países estão num processo de ‘des-democratização’. Tomava-se como certa a democracia e seus valores, eleições livres e competitivas, Estado de direito, direitos humanos e liberdades civis eram instituições consolidadas nas sociedades ocidentais e no Brasil, e que isso iria se expandir em 2016 e 2017. Depois do impeachment da presidente [Dilma Rousseff] não foi isso que aconteceu — disse Telles.

Para a cientista política, “essa lógica de uma democracia liberal, nascida na década de 1980, está sendo colocada em xeque.

— Vemos no Brasil líderes de movimentos e partidos populistas de tendência antiliberal ganhando mais espaço na opinião pública e ocupando classificações importantes na corrida eleitoral prevista para 2018 — afirmou.

Populismo

A professora observa que a geração nascida nos anos 1980 e 1990 demonstra menos apoio à democracia e parte deste público tem se deixado seduzir por candidatos de perfil populista autoritário, como é o caso de Jair Bolsonaro.

— Bolsonaro ameaça a democracia porque desafia seus valores-chave, como o pluralismo, a tolerância social — indica.

Lula

A pesquisadora observa, ainda, que, neste contexto, a presença do ex-presidente Lula no pleito será "um fator importante nas eleições”. Sendo ele condenado ou não.

— O ex-presidente Lula hoje tem um capital político muito forte. As últimas pesquisas do Ipsos apontam que ele seria quase eleito no primeiro turno. Se condenado, ele deve ter a possibilidade de transferir cerca de 40% dos seus eleitores para um outro candidato, ou seja, ele é ainda a principal variável, o principal fator eleitoral em 2018, seja condenado, preso ou livre. Ele é o elemento mais relevante da disputa de 2018— ressalta a cientista política.

Segundo afirmou, a sentença contra Lula parece quase certa.

— A condenação me parece ser o que está previsto em seu segundo julgamento em 24 de janeiro. Alguns juízes do Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-IV) já disseram à imprensa que o prognóstico é que ele venha novamente a ser condenado e que saia do processo eleitoral, o que vai gerar muita incerteza — analisa Telles.

A pesquisadora sublinha que o PT e PSDB estão bastante fragilizados perante a opinião pública - o PSDB não consegue sair dos 8% de aprovação e de intenção de voto.

— Nesse sentido, o crescimento de um candidato antipolítica, de um outsider, de um empresário qualquer, ou de alguém com outro capital não político pode também aparecer e surgir nas eleições de 2018 — afirma.

Indulto de Natal

O Brasil termina o ano com o indulto de Natal de um presidente (de facto) impopular; uma medida muito criticada pela operação Lava-Jato. Para Mara Telles, “a confiança no Congresso é baixíssima; existe uma aversão à classe política brasileira em geral, produzida também em função do papel que a mídia vem exercendo. De descaracterizar a classe política como um reino exclusivo da corrupção.

Com esse indulto, dado por um presidente (de facto) que poderia ser investigado, que não o foi, e que conseguiu maioria no Congresso, só aumenta a desconfiança no Congresso”.

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