Publicado Sexta, 09 de Novembro de 2018 às 15:43, por: CdB
Na prévia do programa, distribuída à mídia conservadora, consta que Ciro prossegue na avaliação negativa ao PT, pela divisão causada na centro-esquerda. Quanto ao presidente eleito, no entanto, Ciro modera o tom e diz que Jair Bolsonaro (PSL), agora, é 'piloto do avião’.
Por Redação - de São Paulo
Candidato do PDT derrotado no primeiro turno das eleições, Ciro Gomes não aliviou nas críticas ao comando do PT que marcaram sua despedida da campanha eleitoral, rumo a um período de descanso, em Paris. Na noite desta sexta-feira, em entrevista ao apresentador Roberto D’Ávila, em um canal de TV paga das Organizações Globo, o ex-governador cearense centra fogo na trincheira petista.
Ciro resolveu se ausentar do país, a duas semanas das eleições, "para cuidar da saúde", segundo assessores
Na prévia do programa, distribuída à mídia conservadora, consta que Ciro prossegue na avaliação negativa ao PT, pela divisão causada na centro-esquerda. Quanto ao presidente eleito, no entanto, Ciro modera o tom e diz que Jair Bolsonaro (PSL), agora, é 'piloto do avião’:
— Ele é o piloto do avião em que todos estamos como passageiros. Sou obrigado a desejar que dê tudo certo.
Divisão
Ao se referir a Lula, no programa, Ciro diz que "mágoa não é um sentimento que vale para a política. Mas o Lula criou o 'nós e eles'. Eu sou o eles”. Mas, da parte do líder petista, isolado em uma prisão, no Estado do Paraná, não há motivo para manter o desentendimento.
Em uma reunião com o candidato petista derrotado no segundo turno das eleições, Fernando Haddad, Lula disse que separa questões pessoais da política e teria elogiado o pedetista.
— Ciro é um ser humano que vale a pena — disse Lula.
Ciro, no entanto, tem demonstrado, seguidas vezes, um grande desapontamento com o ex-presidente. Diz que foi traído por “Lula e seus asseclas”, quanto à neutralidade do PSB nas eleições presidenciais, negociada pelos petistas; e a indicação de um candidato próprio, no caso, Fernando Haddad.
Rumo à direita
Unha e carne, os irmãos Cid e Ciro Gomes agem de forma coordenada na política nacional. Enquanto Ciro, em um programa de entrevistas, amplia o fosso que o separa do PT; Cid conversa com o senador Tasso Jereissati (PSDB), que articula a formação de uma nova legenda, para oposição mais moderada ao governo de ultradireita que se inicia no ano que vem.k
Ambos reuniram-se, na semana passada, em Brasília, para conversar sobre a sucessão para a Presidência do Senado, que acontece em fevereiro do próximo ano. Ambos foram eleitos para o mandato de oito anos. A possível presença de Ciro na nova legenda tende a ampliar o peso da centro-direita como opção ao extremismo pregado por Bolsonaro.
Passados quase dois meses do primeiro turno da eleição presidencial, o PDT tem marcado seu rumo à centro-direita, levando consigo uma parcela das forças da esquerda moderada. O movimento esvazia o PT, que vem tentando aproximar o discurso ao centro. Haddad seria o nome apoiado por amplos setores da legenda, mas não sinalizou ainda se aceita a missão.
Para Val Carvalho, articulista do Correio do Brasil, cita “a banição do PT”, título de capa da revista semanal Isto É dessa semana, que mostra Haddad e Gleisi Hoffmann (PT-PR), como Adão e Eva com tanga vermelha e estrela do PT, sendo “banidos” do paraíso por um deus com o rosto de Ciro.
Fascista
“O uso indevido dessa simbologia cristã pela mídia de direita é para tentar jogar os futuros arrependidos de Bolsonaro no colo de Ciro. Eles sabem que isso vai acontecer, e como o PT saiu das eleições ainda forte e Lula continua influente, seria melhor ‘prevenir do que remediar’, como diz o ditado popular, e tentar fazer de Ciro o único chefe da ‘nova esquerda’, aquela que seria aceitável pelas elites”, disse Carvalho.
Ainda segundo o articulista, a “estratégia embutida na simbologia dessa capa é a de aproveitar o que tem de antipetismo para excluir da política nacional o segmento democrático e popular. Na falta de outras alternativas mais confiáveis, Ciro se presta para isso, pois ele também é da Casa Grande, um parente rebelde, é verdade, mas ainda assim um membro dessa nobreza tupiniquim”.
“Cabe ao PT não aceitar essa provocação, nem cair na armadilha da direita para dividir a frente ampla antifascista. Por mais que tente carreira solo, vamos continuar considerando Ciro parte importante da oposição que luta contra o governo fascista de Bolsonaro e pela retomada do regime democrático”, concluiu.