Coincidências demais entre Bolsonaro e milícia chamam atenção da mídia internacional

Arquivado em:
Publicado Quarta, 13 de Março de 2019 às 19:55, por: CdB

“Estaria a imprensa brasileira insinuando que a família presidencial está envolvida no caso? Não sei. Mas a história é, no mínimo, curiosa”, afirma o jornalista jornalista da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) Thomas Milz, na coluna Realpolitik.

 
Por Redação, com DW - do Rio de Janeiro
  A descoberta que o provável assassino da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) morava ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro, em um condomínio na Barra da Tijuca, Zona Sul da Cidade, abriu um novo horizonte na análise da política brasileira. "Tentar fazer essa relação é mais do que absurdo, é repugnante." Com essas palavras reagiu o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, aos relatos da imprensa sugerindo uma relação do clã com Ronnie Lessa, preso pelo assassinato de Marielle Franco, segundo o jornalista da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) Thomas Milz, na coluna Realpolitik.
bolsonaro-1.jpg
Jair Bolsonaro, que distribui notícias falsas nas redes sociais, não tem sido punido por nenhum de seus arroubos
“Estaria a imprensa brasileira insinuando que a família presidencial está envolvida no caso? Não sei. Mas a história é, no mínimo, curiosa”, acrescenta.

Segurança

Lessa, que segundo os investigadores foi o executor de Marielle, mora no mesmo condomínio de Jair Bolsonaro no Rio. Além disso, o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, deu a entender que a filha de Lessa namorou um dos filhos de Bolsonaro e deverá ser afastado do caso. “Isso leva então à pergunta sobre como um assassino profissional conhecido da polícia pode morar ao lado do presidente da República sem que o aparato de segurança tenha feito nada ao longo de meses”, desconfia Milz. “Acima de tudo: não chamou a atenção que um simples policial possa morar numa mansão no mesmo condomínio do presidente? E não deveria Bolsonaro estar incrivelmente aliviado agora, que um vizinho perigoso como esse tenha saído do caminho dele? Nesse sentido, não ouviu-se nada do presidente.

Fake news

“Em vez disso, Bolsonaro preferiu atacar pelo Twitter a filha do jornalista Chico Otávio, que é responsável no jornal O Globo por cobrir as atividades das milícias no Rio, assim como o caso Marielle Franco”, acrescenta. "Constança Rezende, do 'O Estado de SP' diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otávio, profissional do 'O Globo'. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos", escreveu Bolsonaro no Twitter. O tuíte do presidente se baseou num fake news (notícia falsa, mentirosa) sobre Constança Rezende.

Primeira-dama

“Claro que tudo isso pode ser coincidência. Mas fato é que Jair Bolsonaro nunca fez segredo de sua simpatia por milícias e grupos de extermínio. Seu filho mais velho, o hoje senador Flávio Bolsonaro, empregou durante anos a mulher e a mãe do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega em seu gabinete. Nóbrega é um dos líderes do chamado Escritório do Crime, um grupo de extermínio que comete assassinatos por encomenda”, lembra o colunista. “Membros do grupo chegaram a ser homenageados por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Na terça-feira, a polícia não descartou que o assassino de Marielle faça parte do ‘Escritório”. Claro que tudo isso pode ser coincidência”, reforça. “O próprio Flávio Bolsonaro declarou que seu amigo e motorista Fabrício Queiroz era responsável por todas as coisas estranhas, por assim dizer – inclusive a transferência feita para a hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Câmeras

“O motorista do carro usado no assassinato de Marielle se chama, também, Queiroz. Mas isso é certamente só uma coincidência. Tanto o suspeito de ter puxado o gatilho, Ronnie Lessa, como o motorista, Élcio Vieira de Queiroz, teriam sido avisados de que seriam presos na madrugada de terça-feira. “Eles devem ter, portanto, cúmplices – ou pelo menos bons amigos – em postos-chave no aparato de segurança do estado. Isso ajudaria a explicar por que todas as câmeras de segurança na noite daquele 14 de março foram desligadas. “Mas, é claro, isso pode ser também nada mais que uma coincidência”, reduz Milz, que é mestre em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo