Confissão de Cunha rejeitada pela Lava Jato revela estrutura do golpe

Arquivado em:
Publicado Quinta, 26 de Dezembro de 2019 às 12:20, por: CdB

Com o arsenal de votos, Cunha teria obtido o apoio necessário para ser eleito presidente da Câmara, no período que coincide com o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).

 
Por Redação - de Brasília
  A delação premiada proposta por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e pivô do golpe de Estado contra a presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), em 2016, foi rejeitada por um grupo de procuradores da Operação Lava Jato, por ser “superficial demais”. A peça jurídica conteria, na verdade, sérias acusações contra parlamentares e, se aceita pela Justiça, revelaria o roteiro sobre a manobra política.
eduardo-cunha-1024x575.jpg
Cunha permanece preso em Curitiba, onde cumpre pena por uma série de crimes cometidos
O texto vazou para a agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil e o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, que o publicou nesta quinta-feira. Segundo a delação, o ex-deputado federal Eduardo Cunha admite que financiou, em 2014, a campanha de 60 candidatos a deputados federais. Com o arsenal de votos, Cunha teria obtido o apoio necessário para ser eleito presidente da Câmara, no período que coincide com o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT). O objetivo final seria levar adiante o processo de impeachment contra a petista. Michel Temer Além de ter distribuído cerca de R$ 140 milhões aos 60 deputados, Cunha teria citado outros políticos e um total arrecadado de R$ 270 milhões, entre doações oficiais e caixa 2 (equivalente a cerca de 70% dos recursos). Ele afirma ainda, em seu relatório, que o dinheiro vinha de grandes empresas como JBS, bancos privados, Odebrecht, montadoras, empresas de ônibus e outras companhias interessadas na sua influência no Parlamento. Eduardo Cunha teria encaminhado sua proposta de delação a procuradores em meados de 2017, mas seus relatos foram considerados pelos investigadores “superficiais demais”, e não houve acordo, diz o jornal. O grupo de procuradores que rejeitou a delação inclui integrantes do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná, DF, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e da Procuradoria-Geral da República. Na delação, Cunha ainda afirmou que cresceu na política quando passou a atuar para o grupo de Garotinho, no Rio de Janeiro. E que conseguiu “crédito ilimitado” com Joesley Batista, da JBS, porque teria convencido Michel Temer a nomear Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, após o impeachment.

Ressentimento

A reportagem não divulga os diálogos dos procuradores, limitando-se a lembrar uma reportagem anterior, na qual o então juiz de primeira instância Sergio Moro mandou mensagem para o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, deixando claro que “era contra” a delação de Cunha e que esperava que as notícias sobre a negociação com o Ministério Público não passassem de “rumores”. A delação do ex-deputado faz também menções ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Cunha diz que Maia foi beneficiário de R$ 300 mil repassados pelo empresário Natalino Bertin a Moreira Franco, em 2010, em contrapartida a um financiamento obtido no governo federal. Os citados na delação afirmam que Cunha mente. Ele teria tentado implicar adversários políticos nos crimes previstos em Lei, por ressentimento. Cunha continua preso, em Curitiba, onde cumpre pena por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e evasão de divisas, entre outros crimes.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo