A questão é que o labirinto onde os petistas estão perdidos foi o próprio PT que entrou nele, por sua livre e espontânea vontade
Por Val Carvalho - do Rio de Janeiro
Findo o segundo turno de eleições, que foram além de meras disputas municipais ao expressarem certa legitimação da direita golpista, o PT precisará concentrar suas energias na superação de seus grandes problemas. Temos de consertar a nossa casa, pois foi como se um furacão tivesse arrancado o telhado e abalado sua estrutura.
A questão é que o labirinto onde os petistas estão perdidos foi o próprio PT que entrou nele, por sua livre e espontânea vontade. Não será fácil, portanto, encontrar a saída. Muitos tentarão justificar a decisões tomadas no passado para não fazer a indispensável autocrítica dos erros acumulados nesses 13 anos de governo. Muito especialmente no segundo mandato da presidenta Dilma, interrompido pelo Golpe.
O último momento em que o PT se apresentou para a sociedade enquanto partido, de fato, foi no segundo turno das eleições de 2014. De lá para cá, em grande parte pelos erros cometidos por nós e pelo governo Dilma, ficamos na defensiva e perdemos, rapidamente, o protagonismo político. O que acabou nos alijando do governo e dos votos do povo.
Esquerda forte:
uma necessidade da democracia
Mas o golpe contra Dilma e o PT, apoiado entusiasticamente pelas classes médias e tolerado à distância pelo povo, contraditoriamente, mostrou não apenas a fragilidade institucional do PT mas também a sua força política para o avanço histórico da democracia e da igualdade social no Brasil. Em apenas seis meses de governo, os golpistas já extinguiram os direitos sociais e trabalhistas conquistados pelos trabalhadores e entregaram o pré-sal para o capital estrangeiro.
É um quadro de destruição reacionária tão profunda que acaba revelando o quanto a existência de um forte partido de esquerda é necessário para a democracia e garantia dos direitos do povo. Visto por esse ângulo, a reconstrução do partido, com a renovação militante, ética e programática do partido, é uma exigência da agenda democrática.
É essa necessidade da democracia o que pressiona a crise interna do PT e coloca para a militância o desafio da renovação como única alternativa de futuro para o partido. À medida que se aproxima a data da reunião do Diretório Nacional, marcado para a segunda semana de novembro, mais o debate interno fica aceso. Nesse sentido vai se firmando o consenso de que o VI Congresso do PT, já convocado, tem de ser plenipotenciário para não apenas eleger a nova direção, mas poder cortar os “nós górdios” que represam a força militante do partido.
Busca do
consenso interno
O maior desses “nós górdios” é o chamado PED – Processo de Eleições Diretas do presidente e das direções do partido. Aprovado no 2º Congresso do PT, em 1999, o PED tinha por objetivo fortalecer a participação da massa de filiados nas decisões do partido.
O PED cumpriu relativamente bem esses objetivos, negligenciando, no entanto, a formação dos filiados e o debate interno – o que lamentavelmente tornou-se sua característica permanente. A partir da eleição de Lula presidente o PED foi gradualmente se desviando de seu papel e virando um meio inchar filiações, usadas como massa de manobra nas disputas internas. O que era democrático virou antidemocrático e tornou-se um obstáculo estrutural para o debate interno e a mobilização da militância petista.
Para o bem da luta pela redemocratização, o que se espera do PT é a formação de seu consenso interno para poder superar seus erros. Talvez o principal erro do PT no governo, e que qualquer experiência no futuro tem de levar em conta, é o de ter trancado a governabilidade no âmbito parlamentar quando esta deveria ser buscada principalmente na democracia de massas, junto aos movimentos sociais e com um intenso trabalho de educação política da juventude e dos trabalhadores.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.