Ao pegar o jornal, depois do café da manhã, vejo uma foto do Cabral, ex-Governador do Rio, sendo transferido do presídio de Bangu pra Curitiba. O que será que Pedro Alvares Cabral diria de uma foto tão triste que dá ideia de que o Brasil que começou com ele iria acabar com um possível descendente dele? Seria este o que se chamava de “País do Futuro”, e que o “futuro”, no caso, seria o fim?
Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:
Com as notícias cada vez mais estarrecedoras nos jornais, os assaltos no Rio, o roubo da bicicleta de um rapaz que veio aqui em casa , deixando-a no estacionamento, o que fez com que ele ficasse desesperado, resolvo ir pra Petrópolis, pra onde sempre volto pra um tipo de bem estar infantil quando ia pra lá com a minha família nas férias do colégio
Mas, dessa vez, quando cheguei lá, ao pegar o jornal, o que sempre faço, depois do café da manhã, vejo uma foto do Cabral, ex-Governador do Rio, sendo transferido do presídio de Bangu pra Curitiba. O que será que Pedro Alvarez diria de uma foto tão triste que dá ideia de que o Brasil que começou com ele iria acabar com um possível descendente dele? Seria este o que se chamava de “País do Futuro”, e que o “futuro”, no caso, seria o fim?
Então pra não acabar sozinha, resolvi visitar uma amiga pra falar de outras coisas, , mudando de assunto, o que não foi fácil, com a primeira página do Globo em cima da sala de visitas da casa dela, espalhando a notícia do” futuro” do Brasil pelo mundo. Como encarar este presente tão esperado que o “futuro” nos deu?
Desde que nossos pais eram crianças, já ouviam falar do futuro brasileiro como um paraíso que chegaria até nós cheio de honestidade, independência, saúde, paz, dinheiro e amor ao próximo. Cadê o amor ao próximo? Quem é o próximo? É a sua mulher, seu marido, seus filhos que herdam milhões em dinheiro, joias, postos de trabalho e propinas , e quem paga tudo é o próximo? Era por isso que deveríamos trata-lo tão bem?
Dei um mergulho na piscina, peguei um solzinho, de repente, minha amiga me chamou pra ver um bicho estranho no gramado. Saí da piscina e fui até ela, que me parecia estupefata olhando pra grama, e vi o bicho, que era, realmente, uma novidade pra todas nós. Nunca tínhamos visto um caramujo daqueles, de mais ou menos um palmo com uma casa imensa nas costas até ele botar metade do corpo pra fora. Nenhuma de nós tinha visto um corpo tão estranho que parecia uma crepe fina que ia se estendendo pra fora da casa até aparecer sua cabeça, com dois chifres e duas patas que enchiam sua boca imensa de grama.
Nunca, na vida tinha visto um caramujo tão grande. Será que ele também faz parte do “futuro” do Brasil?
Os cachorros ficaram pasmos, mas não chegavam perto com medo de uma visão tão estranha. E como a casa toda parou pra ver o bicho de perto, cheguei a pensar “Será que essa também é a população do “futuro” e se sairmos pela rua só vamos ver “gente” assim?”.
Então fui fazer uma meditação pra voltar ao tempo presente por mais difícil que ele estivesse.
Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.
Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.