DEM sai fortalecido das eleições e tende a liderar centro-direita antibolsonarista

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Publicado Sexta, 27 de Novembro de 2020 às 12:13, por: CdB

Apesar do resultado, o DEM continua atrás de outras agremiações como MDB, que elegeu 775 prefeitos, o PP com 681, o PSD, com 539, e o PSDB, 512. Será necessário, no entanto, considerar que, a partir de 2002, o DEM passou por uma fase de forte retração durante os governos petistas, ao longo de 14 anos.

Por Redação, com Sputnik Brasil - de Brasília
As eleições municipais de 2020 selaram o retorno do DEM como partido de peso na política nacional, após anos de ostracismo. Os resultados das eleições municipais de 2020 marcaram o retorno de partidos tradicionais e o fim da onda da antipolítica entre o eleitorado brasileiro. O partido Democratas (DEM) foi um dos partidos que tiveram maior aumento no número de prefeitos eleitos neste ano.
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O DEM nasceu do PFL de Antônio Carlos Magalhães (BA), na foto ao lado de João Baptista de Figueiredo, o último general da ditadura militar
— No primeiro turno das eleições de 2020, o DEM teve um surpreendente crescimento de 74% no número de prefeitos eleitos, passando de 268 a 459 — afirmou o professor e pesquisador do Departamento de Ciência Política e do Centro de Pesquisas em Humanidades da Universidade Federal da Bahia, Wendel Cintra, em entrevista nesta sexta-feira à agência russa de notícias Sputnik Brasil. Apesar do resultado, "o DEM continua atrás de outras agremiações como MDB, que elegeu 775 prefeitos, o PP com 681, o PSD, com 539, e o PSDB, 512”. Será necessário, no entanto, considerar que, a partir de 2002, o DEM passou por uma fase de forte retração, desgastado por ter-se mantido na oposição aos governos petistas por 14 anos. — Esse tempo de vacas magras foi importante para a renovação geracional do DEM. Os quadros do partido mais propensos ao fisiologismo procuraram outras agremiações, o que se por um lado diminuiu a força política do partido, por outro tornou-o mais coerente do ponto de vista programático — acredita Cintra.

Com os tucanos

Para o professor, "o DEM pode ser definido com um partido ideologicamente identificado com as pautas do liberalismo econômico", com "bom trânsito entre as elites regionais e empresariais". — Sua agenda e atuação legislativa desde então se caracterizou pela defesa de pautas como privatizações, redução do papel do Estado e desregulamentação da economia — explicou Cintra. Essa agenda explicaria o apoio que o partido, que se chamava PFL até 2007, selou com a gestão Fernando Henrique Cardoso e o PSDB, na década de 1990. A ênfase no liberalismo econômico se manifesta atualmente na atuação de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que apoiou a reforma da previdência e "promove as reformas administrativas e tributária". — O êxito do partido nas eleições municipais de 2020 tem a ver com sua capacidade de se organizar nacionalmente, renovar suas lideranças e fazer alianças — disse Cintra.

Sucessor

O partido foi capaz, por exemplo, de eleger Rodrigo Maia para a presidência da Câmara mesmo ocupando somente 29 cadeiras de um total de 513 na casa. — A ascensão de novos líderes, como ACM Neto e Rodrigo Maia, evidencia essa renovação interna e mostra que se trata de uma organização partidária resiliente — declarou Cintra. Antônio Carlos Magalhães Neto, prefeito de Salvador entre 2012 e 2020, fez mandato "bem avaliado pelo eleitor soteropolitano" e elegeu seu sucessor, com facilidade, no primeiro turno, com 64% dos votos. Atual presidente nacional do DEM, ACM Neto "logrou costurar uma aliança com nada menos que 15 partidos políticos em torno da candidatura de Bruno Reis (DEM)", relatou Cintra. Para o pesquisador, as proporções da vitória do partido não devem ser exageradas, "mas mostra que o partido tem força e potencial de crescimento e certamente será um ator importante nas negociações para as eleições presidenciais de 2022".

Medo do DEM

A ascensão do DEM como um partido de direita clássico será um desafio tanto para a esquerda, que poderá ter um adversário pragmático e bem organizado nacionalmente, quanto para a extrema-direita, que pode perder votos do eleitor cansado de agendas mais radicais. A relação entre o DEM e o bolsonarismo não é de alinhamento, e as chances de o partido integrar uma coalisão de apoio à reeleição do atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), são relativamente baixas. — O DEM faz parte de uma direita tradicional, completamente distinta no seu modo de operar e fazer política da extrema-direita bolsonarista — disse Cintra. Para o professor, "a agenda da guerra cultural e o modus operandi da extrema-direita são estranhos ao universo da direita tradicional representada pelo DEM". — Na Presidência da Câmara, Rodrigo Maia atua como um poder moderador, exercendo veto à agenda extremista do presidente [Bolsonaro] na área dos costumes e freando medidas autoritárias — lembrou Cintra.

Transição

Apesar das desavenças, a defesa do liberalismo econômico e da diminuição do papel do Estado na economia aproxima essas duas forças políticas. Na avaliação de Cintra, o DEM deve trabalhar para construir uma candidatura de centro-direita, que deve se opor à candidatura bolsonarista em 2022. — É de se esperar que (…) o DEM desempenhe um papel importante nas negociações em uma eventual chapa antibolsonarista de direita ou centro-direita, não necessariamente com candidato próprio — resumiu o professor. O partido Democratas foi criado com o nome de PFL durante o período de transição democrática, por figuras como José Sarney e Marco Maciel, para se opor à candidatura de Paulo Maluf (PDS) à presidência da República em 1985.
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