Deputados ‘comprados’ por Temer garantem a permanência no cargo

Arquivado em:
Publicado Quarta, 02 de Agosto de 2017 às 17:44, por: CdB

Temer alcançou os votos necessários por volta das 20h. Presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou, nesta quarta-feira, que após esta votação retomará os trabalhos legislativos.

 

Por Redação - de Brasília

 

Ao conseguir os 171 votos necessários para escapar, por enquanto, à denúncia de corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente de facto, Michel Temer, preparava-se para uma declaração pública. Pelas redes sociais, porque na TV pública arriscava-se às manifestações de repúdio popular.

temer.jpg
Temer permanece no governo, por tempo ainda indeterminado, após a Câmara barrar o julgamento no STF

Em uma votação cheia de declarações despropositadas, gritos e ameaças de enfrentamentos, parlamentares da oposição e alguns da base aliada tentaram derrubar o relatório do deputado tucano Paulo Abi-Ackel.

— O Planalto é o centro do crime organizado — afirmou, em seu voto, o petista Wadih Damous (PT-RJ). Referia-se, entre outros pontos, à ‘compra’ de votos favoráveis com a liberação de cerca de R$ 4 bilhões em emendas aos parlamentares aliados

Temer, no entanto, alcançou os votos necessários por volta das 20h. Presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou, nesta quarta-feira, que após esta votação retomará os trabalhos legislativos.

— Enquanto a denúncia não tivesse sido votada, a gente não iria reconstruir a agenda da Câmara. Isso era fundamental — disse Maia.

Nova denúncia

Ao encerrar a votação, Maia disse que ninguém estava "animado" com a votação da denúncia de corrupção passiva contra Temer, mas era o papel institucional da Casa apreciar o caso. Segundo afirmou, os prazos da apreciação da denúncia foram cumpridos e os ritos respeitados.

Assim que a Câmara impediu o andamento da denúncia, o titular da Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, comentou com interlocutores deverá apresentar, em breve, uma nova denúncia contra Temer. Baseará a nova peça jurídica na delação dos executivos da JBS. Desta vez, porém, a ação será "turbinada" com novos fatos previstos em colaborações premiadas. Estas tem sido firmadas por sua equipe, informou à reportagem do Correio do Brasil uma fonte próxima à força-tarefa da Operação Lava Jato.

Janot e sua equipe de procuradores têm trabalhado na nova acusação criminal e esperam apresentá-la, brevemente. Não há, ainda, uma data prevista. Ainda não está definido, segundo a fonte, se ele será acusado por obstrução de investigações e organização criminosa em uma única peça ou em duas separadas.

Outro inquérito

O procurador-geral gostaria que fosse uma única denúncia com os dois crimes, segundo a fonte, mas o martelo ainda não está batido.

— Se for por obstrução, tudo bem, mas, se for por obstrução e organização criminosa, melhor ainda", disse uma fonte ligada a Janot, desta vez à agência inglesa de notícias Reuters.

Para tomar uma decisão, o chefe do Ministério Público Federal (MPF) espera a conclusão das investigações feitas pela Polícia Federal (PF). Estas seguem no inquérito que apura a existência de uma organização criminosa, formada por integrantes do PMDB da Câmara. Entre os integrantes está o grupo a que Temer sempre teve ascendência. O outro inquérito, que apura a obstrução das investigações, está na PGR.

Lobista

A equipe de Janot não vincula a apresentação de uma ou duas denúncias ao fechamento dos acordos de delação premiada com, por exemplo, o empresário Lúcio Funaro; ou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O acordo em curso com Funaro está mais "encorpado" do que o de Cunha. Por ora, entretanto, a tendência é que a peça ou peças acusatórias venham a ser apresentadas ao STF, sem as colaborações.

Mas, futuramente, a acusação poderia ser aditada com as delações. Previsto em lei, o aditamento ocorre quando o Ministério Público apresenta um adendo à acusação inicial no qual apresenta novos fatos.

Se ocorrer, essa medida não seria inédita na atuação de Janot nas investigações da operação Lava Jato perante o STF. Em outubro de 2015, o procurador-Geral aditou uma denúncia contra o peemedebista Eduardo Cunha, então presidente da Câmara. Usou informações da delação feita pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano.

A equipe de Janot trabalha para oferecer ao menos uma acusação ainda em agosto. O último dia de trabalho dele à frente da PGR é 15 de setembro.

Corrupto contumaz

O procurador-geral e pessoas ligadas a ele tratavam com naturalidade a rejeição pela Câmara da denúncia oferecida por corrupção passiva. Janot e a equipe consideraram que a decisão dos deputados de barrar a autorização para que o STF julgue a acusação contra Temer era uma prerrogativa prevista na Constituição.

Mais cedo, Janot já havia se adiantado ao resultado da votação. Ele afirmou, em entrevista depois da sessão do Conselho Superior do Ministério Público Federal, não ter qualquer expectativa sobre a decisão da Câmara.

— Não tenho nenhuma expectativa. A Câmara é a Câmara, o Ministério Público é o Ministério Público, o Judiciário é o Judiciário — afirmou.

Atitude vergonhosa

Em meio ao processo de votação, que livrou Temer da perda imediata do mandato, os deputados da tropa de choque do peemedebista, Beto Mansur (PRB-SP) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que foi exonerado da Secretaria de Governo para votar pela rejeição da denúncia de corrupção contra Temer, foram flagrados com uma lista das emendas parlamentares já liberadas pelo governo. O objetivo seria pressionar os deputados favorecidos com a liberação dos recursos a votarem conforme os interesses do governo.

Segundo um dos diários conservadores paulistanos, deputados que pretendem votar a favor de Temer também teriam contatado o líder do Governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Foram cobrar as promessas e contrapartidas feitas pelo governo em troca do apoio na votação desta quarta-feira.

Deputados que pretendiam votar a favor do presidente Michel Temer também têm procurado o líder do Governo. Têm cobrado as promessas feitas pelo Planalto em troca do apoio.

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), foi visto questionando Ribeiro sobre assuntos de interessa da Paraíba. Ao ouvir que seus pleitos seriam encaminhados, Efraim abraçou Ribeiro e sorriu. Ciente da movimentação do governo para pressionar os parlamentares, o deputado Carlos Gaguim (Podemos-TO) usou a tribuna. Ele denunciou a compra de votos pelo governo no plenário da câmara. Momentos depois, no entanto, votou favoravelmente a Temer.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo