Dilma conclui ter sido derrubada porque não aceitou privatizar o Brasil

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Publicado Quarta, 28 de Setembro de 2016 às 12:00, por: CdB

“Eles vão confessando. A última confissão foi feita pelo presidente ilegítimo e usurpador, atualmente no cargo”, aponta Dilma, no discurso de Michel Temer sobre o plano denominado A Ponte para o Futuro

 
Por Redação - de Salvador
  Presidenta cassada, a economista Dilma Rousseff reafirmou que sua deposição ocorreu porque não compactuar com o plano neoliberal do PMDB. O plano conhecido como Ponte para o Futuro. Dilma concedeu ao jornalista Bob Fernandes, na TVE Bahia, uma de suas melhores entrevistas, segundo avaliação de analistas políticos. Solta, sem falar ‘aos arranquinhos’ e com um sorriso largo, Dilma se superou.
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Dilma, em uma de suas melhores entrevistas, conversou com o jornalista Bob Fernandes
— Eles vão confessando. A última confissão foi feita pelo presidente ilegítimo e usurpador, atualmente no cargo. Ele disse o seguinte: 'nós fizemos o impeachment para poder aplicar o programa Ponte para o Futuro. Ora, o programa, que tira direito trabalhistas, tira direitos sociais, que privatiza, que vende as terras a estrangeiros, não foi aprovado nas urnas. Então, essa é uma outra razão do golpe — afirmou Dilma.

Prisão de Lula

Entre outras motivações, a ex-presidenta afirmou que o golpe teve um viés machista. Dilma disse não acreditar na possibilidade de prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. — Não acredito que eles cometam este absurdo, não porque sejam bons, mas acredito que também não são burros. Acho que transformará a prisão de uma pessoa visivelmente injustiçada em um herói. Acho que eles não irão querer — afirmou. Na outra ponta, Dilma também afirmou que existe uma estratégia que pretende inviabilizar Lula para as eleições de 2018. — O golpe só se completa com isto. As forças que deram o golpe têm muito interesse que ele seja julgado e condenado. Eles tiram o Lula do jogo e se livram da Lava Jato — disse. Dilma também condenou a ânsia punitiva dos promotores que integram a Operação Lava Jato. Ela enfatiza a ação que prendeu o ex-ministro Guido Mantega. — Prender o Mantega é expô-lo a uma condenação que não existe, é a condenação da mídia, e a distorção que essa publicidade dá. Lamento imensamente a prisão dele dentro de um hospital — pontuou. A ex-presidente também defendeu a isonomia das investigações que, segundo ela, devem atingir a todos: — Por que prender o Mantega e deixar o Eduardo Cunha solto? Assista, adiante, a entrevista de Dilma:

Golpe neoliberal

O presidente Michel Temer deixou escapar um "segredo" em discurso para empresários e investidores nos EUA. Segundo o jornalista Glenn Greenwald, editor do site Intercept, o impeachment de Dilma Rousseff ocorreu para implementar um plano de governo radicalmente diferente do que foi votado nas urnas em 2014, “quando o PT ganhou a Presidência pela quarta vez, e não por irregularidades praticadas pela ex-presidente”.
Leia o texto do Intercept:
Na sede da Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA), em Nova York, nesta quarta-feira, dia 21, Temer disse que ele e seu partido começaram a articular o afastamento de Rousseff em consequência direta da não aceitação do programa neoliberal do PMDB pela ex-presidente. "E há muitíssimos meses atrás, eu ainda vice-presidente, lançamos um documento chamado Uma Ponte Para o Futuro, porque nós verificávamos que seria impossível o governo continuar naquele rumo. E até sugerimos ao governo que adotasse as teses que nós apontávamos naquele documento chamado 'Ponte para o futuro'. E, como isso não deu certo, não houve adoção, instaurou-se um processo que culminou agora com a minha efetivação como presidência da República." O Ponte para o futuro prescreve a desvinculação dos recursos da saúde e da educação, desindexação dos benefícios e do salário mínimo, mudança de idade para a aposentadoria, parcerias com o setor privado e abertura comercial. Essas ideias estavam claramente refletidas na fala de Temer na AS/COA, que visava dar seguimento à incansável empreitada de privatizações e facilitação da entrada do capital estrangeiro no país, listando as vantagens e garantias que seu governo planeja implementar para assegurar o lucro dos membros da plateia, que o ouviam (não tão atentamente) enquanto desfrutavam de suas refeições.

Eufemismos neoliberais

Marcadas pelos já conhecidos eufemismos neoliberais para o que poderia simplesmente chamar de venda do patrimônio nacional, as garantias listadas pelo presidente incluíram a "universalização do mercado brasileiro", o "restabelecimento da confiança", uma tal "estabilidade política extraordinária", parcerias entre os setores público e privado e o avanço de reformas "fundamentais" nas áreas trabalhista, previdenciária e de gastos do governo. "Venho aqui convidá-los a participar dessa nova fase de crescimento do país," concluiu em tom de leilão. Os dois grupos são compostos por representantes de corporações multinacionais e membros do estabelecimento de política exterior dos EUA em América Latina. Foram fundados pelo industrialista americano David Rockefeller e têm John Negroponte como presidente emérito – um político neoconservador fundamental para a guerra suja da CIA em Honduras e para a invasão do Iraque em 2003. Em seu site, o Conselho das Américas se define como uma "organização internacional cujos membros compartilham um compromisso comum com o desenvolvimento econômico e social, mercados abertos, estado democrático de direito e democracia por todo o hemisfério ocidental". Essa é apenas mais uma singela confirmação de que o impeachment de Dilma não se deu por conta das supostas "pedaladas fiscais", como quis fazer crer a facção que agora ocupa o executivo federal. Não foi pela família brasileira, não foi por Deus, não foi contra a corrupção. Foi contra o trabalhador e em favor do empresariado. Foi por impunidade, lucro e poder.
Assista ao vídeo de Glenn Greenwald:
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