Dilma tenta último esforço, diante a derrota iminente no Senado

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Publicado Quarta, 27 de Abril de 2016 às 13:18, por: CdB

A presidenta nega, mas é visível o abatimento nas hostes de seu partido, o PT, nos ânimos de aliados como o PCdoB e parte do PDT

 
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro e São Paulo
Diante da derrota inevitável na primeira votação, em mais dez dias, no Plenário do Senado, quando será exigida apenas maioria simples para que seja afastada do cargo, a presidenta Dilma Rousseff tenta agilizar, ao máximo, algumas medidas para deixar mais leves os seis meses que passará fora do Palácio do Planalto. Em seu lugar, o vice-presidente da República, Michel Temer, tentará que ela jamais volte ao cargo, preparando-se para governar até 2018.
dilma-despedida.jpgDilma já se prepara, diante do afastamento inevitável, para deixar o governo
Dilma contabiliza traições em série naquela que foi sua base aliada, no Congresso, e hoje tem ao seu lado apenas o presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva, fiéis escudeiros no campo da esquerda, como a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), e amizades impensáveis, a exemplo da ministra Kátia Abreu (Agricultura), conquistadas em sua desventurada tentativa de ganhar o apoio da direita. Com o governo em frangalhos, ministérios coordenados por substitutos e a economia do país em compasso letárgico, Dilma chega aos dias finais de sua gestão como a sombra daquela personalidade que se anunciava em 2010. A presidenta nega, mas é visível o seu abatimento e nas hostes de seu partido, o PT; nos ânimos de aliados como o PCdoB e parte do PDT. O desânimo, diante o implacável desfecho do processo, é perceptível nos semblantes e discursos de parlamentares, nos grupos de apoio que circulam nas redes sociais, nas crônicas publicadas por blogueiros aliados e líderes da juventude que, até semana passada, resistiam nas ruas, praças, escolas. O moral da tropa baixou, para além do pior cenário, após o recuo de Dilma Rousseff na sede da ONU, em Nova York, para onde foi com a missão de denunciar o golpe de Estado, em curso no país. No blog O Cafezinho, o editor Miguel do Rosário – fiel defensor da presidenta – faz um desabafo: “É duro também defender um governo que insiste em se dirigir à própria cova, como que atraído pela morte. Os últimos anos tem sido extremamente duros para o campo progressista, porque precisa defender os avanços democráticos não apenas dos assaltos da direita golpista, como também do analfabetismo "republicano" do próprio governo. Temos que conter os terroristas midiáticos que insistem em empurrar o governo para o abismo e conter o próprio governo, que parece sofrer de incontrolável tendência suicida para se jogar no abismo. O não-discurso de Dilma Rousseff na ONU, na última sexta-feira, coroa a trajetória de um governo que, até o fim, desprezou solenemente a política”. Ainda nesta quarta-feira, o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, para o qual Dilma escreveu sua mensagem de Ano Novo aos brasileiros — mesmo após o jornal considerá-la um estorvo ao país —, afirma que o governo, praticamente, jogou a toalha e já avisa aos aliados que se despede até outubro deste ano, quando haverá o julgamento final do mandato. “A presidente Dilma Rousseff admitiu a aliados que seu afastamento temporário da Presidência se tornou ‘inevitável’ e decidiu traçar uma agenda para ‘defender seu mandato’ e impedir que o vice Michel Temer ‘se aproprie’ de projetos e medidas de seu governo. Chancelada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a estratégia tem o objetivo de manter a mobilização da base social do PT e reproduzir o discurso de que Dilma é ‘vitima de um golpe’ e que um eventual governo Michel Temer é ‘ilegítimo”, afirma o jornal que emprestava seus carros para o transporte de prisioneiros, durante a ditadura militar. Ainda segundo a FSP, “a presidente pediu à sua equipe para ‘apressar’ tudo que estiver ‘pronto ou perto de ficar pronto’ para ser anunciado antes de o Senado aprovar a admissibilidade do processo de seu impeachment, em votação prevista para o dia 11 de maio”. Citando “um assessor direto”, o jornal afirma que “Dilma não quer deixar para Temer ações e medidas elaboradas durante seu governo. Nesta lista, estão as licitações de mais quatro aeroportos (Porto Alegre, Fortaleza, Florianópolis e Salvador), concessões de portos e medidas tributárias como mudanças no Supersimples. A ordem, de acordo com um auxiliar, ‘é limpar as gavetas’ e promover um ritual de saída do governo”. Não houve uma resposta, em seguida, que negasse — de forma contundente — o teor da reportagem publicada.

Apoio da UNE

Aguerrida nas manifestações dos últimos dias, a presidenta da União Nacional dos Estudantes, Carina Vitral, afirma que não é a favor do governo, mas contra a legitimidade do impeachment. Em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, na noite passada ela disse que as manobras feitas para retirar uma presidenta do poder provocam danos ao país. — Os movimentos seguem nas ruas para contrapor o que acontece no Congresso Nacional e para derrotar politicamente o impeachment. A gente mesmo (da UNE) tem várias críticas na área da educação, do programa de governo e do que foi esse segundo mandato da presidente Dilma. Mas a gente acha errado 'impichar' (afastar por meio de impeachment) uma presidente sem que haja crime de responsabilidade, sem que haja prova — afirmou. Diante da derrota da democracia, que se aproxima, Vitral responsabiliza a condução do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no golpe de Estado. A estudante também citou a noite da votação, na Câmara, que cristalizou a derrota do campo democrático, no país. — Dilma foi torturada na ditadura e torturada na democracia. O que é Jair Bolsonaro dedicar o voto dele ao torturador da Dilma? — protesta Carina.

Traição de Collor

Aliado até a semana passada, o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello ((PTC-AL) agora beija a mão do provável substituto de Dilma. Alvo de processo de impeachment no Congresso Nacional, em 1992, Collor de Mello entregou, na véspera, ao vice Michel Temer, um conjunto de propostas para um eventual governo do peemedebista. Na companhia de senadores do bloco formado por siglas como PTB, PR e PRB, Collor diz que as propostas, que já foram apresentadas à presidente Dilma Rousseff, têm como objetivo retirar o país da atual crise. — O encontro foi por nós solicitado, senadores que fazemos parte do bloco moderador, para apresentar ao vice-presidente, como já fizemos ao Palácio do Planalto, um programa de reconstrução nacional — disse a jornalistas. Em entrevista à imprensa, o senador, que raramente fala com veículos de comunicação, não quis comentar sobre o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, analisado agora pelo Senado Federal. — Nós estivemos aqui tratando com o vice-presidente sobre uma questão objetiva. O restante é outra crônica — desconversou.

‘Governo Temer’ esfarinha

Na sua corrida para montar um time básico, capaz de levar o país aos seus objetivos, o vice Temer percebe que as dificuldades são abissais. Diante das fraturas expostas no PSDB, partido com o qual Temer conta como auxiliar para a montagem do grupo com o qual pretende cruzar o seu libelo, intitulado “Uma ponte para o futuro”, o possível substituto de Dilma se vê em situação de risco. O senador José Serra (PSDB-SP) tentou repetir o papel desempenhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no governo Itamar Franco, e se ofereceu para assumir o Ministério da Fazenda, para comandar a área econômica e, com a caneta na mão, estruturar sua candidatura ao Planalto, em 2018. Não funcionou. Seu principal desafeto, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) desarticulou a tentativa e ampliou a rachadura no ninho tucano. Neves disse a Temer, em reunião nesta quarta-feira, que os tucanos somente apoiarão um possível governo Temer, se isso não significar apoio direto a Serra. — Se amanhã o presidente Michel Temer optar por querer nossa participação, deverá fazê-lo institucionalmente, com a direção do partido, que não deverá se opor — disse Aécio, colocando-se como único canal de diálogo com os tucanos. Serra disputa, atualmente, com Neves e com o governador Geraldo Alckmin a liderança interna do partido, em busca de uma indicação da legenda para a corrida presidencial, dentro de mais dois anos.
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