Direita se divide entre Maia e Temer

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Publicado Terça, 18 de Julho de 2017 às 13:11, por: CdB

Enquanto Temer busca apoio de evangélicos, Maia conta com suporte da mídia conservadora e da nata empresarial.

 

Por Redação - de Brasília

 

Uma considerável parcela do PSDB, na Câmara, distancia-se do grupo que inaugurou a ponte de diálogo com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e permanece na base aliada aos atuais inquilinos do Palácio do Planalto. Quase a metade da bancada, 21 deputados do PSDB declaradamente favoráveis às investigações contra Temer. Mas os demais 25 integrantes da legenda ainda não se definiram, integralmente.

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Temer e Maia, outrora aliados no golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff, hoje inimigos não declarados

Dez deles dizem ser contra a investigação contra o presidente de facto, Michel Temer, por corrupção passiva. Mas há outros 15 indecisos ou que não revelaram qualquer tendência em enquetes promovidas junto aos parlamentares. Esta mesma divisão se segue nos demais partidos da base aliada. Menores em número de deputados, as outras bancadas também se questionam se vale o risco permanecer com Temer ou passar a apoiar Rodrigo Maia.

Na manhã desta terça-feira, a jornalistas, os deputados tucanos Pedro Vilela (AL) e João Paulo Papa (SP) anunciaram o desembarque da base aliada ao Planalto. A pressão da Executiva do partido junto aos deputados tem crescido nos últimos dias. A revoada de tucanos, assim, tende a aumentar, principalmente na ala dos chamados "cabeças pretas”.

Insatisfeitos

O PSDB votou, em peso, contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Foram cinco votos a favor da denúncia, e apenas dois contra. Após a votação na CCJ, integrantes do Centrão passaram a cobrar, de forma enfática, que os quatro ministérios hoje ocupados pelo PSDB sejam redistribuídos.

Os principais assessores de Michel Temer seguem na tentativa de barrar a movimentação do presidente da Câmara. Primeiro na linha de sucessão presidencial, Maia tem recebido o apoio de parlamentares insatisfeitos do PSB. Eles objetivam ampliar a bancada do DEM na Casa.

Nesta manhã, Temer reuniu-se com a líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS). Ele fez uma contraproposta aos “socialistas” insatisfeitos para que ingressem no PMDB.

Cargos e recursos

Após a decisão do PSB de romper com o governo Temer, cerca de metade dos 36 deputados da legenda se rebelaram contra a direção e permaneceram na base aliada. Este grupo é que tem sido alvo da movimentação de Maia e, agora, também de Temer. Maia quer ampliar a bancada do DEM na Câmara para 50 deputados, tirando do PSDB o posto de terceira maior bancada da Casa.

A distribuição de cargos e recursos para emendas parlamentares, no entanto, é um expediente que ficou perigoso para o Planalto. Na noite passada, o PSOL e a Rede Sustentabilidade protocolaram, cada um, representações na Procuradoria-Geral da República (PGR). Pedem para que o órgão investigue se Michel Temer comprou votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.

O objetivo de Temer foi barrar a denúncia de corrupção passiva contra ele. Esta acabou rejeitada no colegiado, após a troca de diversos parlamentares que eram titulares da comissão e favoráveis à admissibilidade da denúncia.

Denúncia

Pesquisa da ONG Contas Abertas mostra que o governo liberou emendas parlamentares a deputados pró-Temer em um total de R$ 134 milhões. Segundo Chico Alencar (PSOL-RJ), que assinou o documento junto à PGR, apesar de negociações e acordos fazerem parte da política institucional, "existem limites que precisam ser preservados", em nome do interesse público.

Temer e seus associados, no entanto, não jogaram a toalha. Eles seguem com o movimento de cooptação dos parlamentares com promessas de cargos para que mantenham o voto, desta vez, em Plenário, contra a denúncia. O deputado Alessandro Molon (RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (AP) assinam a representação da Rede.

"A ação do Poder Executivo, além de ser empreendida em desvio de finalidade, tem como objetivo obstruir a instauração do processo contra o presidente da República perante o Supremo Tribunal Federal (STF), configurando hipótese clara de obstrução à Justiça", afirmam os parlamentares na representação.

Sobre as emendas, Temer disse por meio de nota ser "absolutamente normal" gastar R$ 15 bilhões para se defender na CCJ.

— O Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão esclarece que a liberação de recursos para municípios trata-se de procedimento absolutamente normal. Tais recursos serão utilizados obedecendo a critérios como seleção pública e avaliação de risco de crédito, entre outros — respondeu às críticas.

Dissidência no PMDB

O quadro é tão grave para o Planalto que, mesmo dentro do PMDB, o número de dissidentes tem aumentado, nos últimos dias. A Executiva do partido calcula que oito deputados se voltaram contra contra o presidente. Este número tende a aumentar, segundo dirigentes da legenda, quando a denúncia for a voto no plenário da Câmara. A dissidência atual representa mais de 10% dos 63 deputados da bancada, mas não são números finais.

O peemedebista será processado no STF caso a denúncia seja aceita por 342 dos 513 deputados. A votação está marcada para 2 de agosto, na volta do recesso parlamentar.

Na semana passada, a cúpula peemedebista ameaçou suspender eventuais rebeldes por três meses das atividades partidárias. Afastando-os, inclusive, das comissões que integram. Em última instância, o Conselho de Ética do partido pode determinar a expulsão desses peemedebistas. Temer teria, no PMDB, 55 votos garantidos. Mas o tempo, segundo o deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), “joga contra Temer”.

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