Esporte olímpico busca sair de ressaca pós-Rio 2016

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Publicado Sexta, 04 de Agosto de 2017 às 10:55, por: CdB

Nos meses que se seguiram ao maior evento esportivo do mundo, os atletas do país encararam a realidade da falta de dinheiro e de visibilidade

Por Redação, com Reuters - de São Paulo:

Ainda de ressaca um ano depois da Rio 2016, o esporte olímpico do Brasil mira a retomada de patrocínios e incentivo a novas modalidades vencedoras, em meio a turbulências em algumas confederações que perderam a chance de desenvolvimento durante um ciclo de pesados investimentos pela realização da Olimpíada em casa.

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Esporte olímpico busca sair de ressaca pós-Rio 2016 com reconstrução e novas modalidades

Nos meses que se seguiram ao maior evento esportivo do mundo, os atletas do país encararam a realidade da falta de dinheiro e de visibilidade. Enquanto duas das modalidades olímpicas mais tradicionais do país, basquete e natação, viveram um caos administrativo, com denúncias de irregularidades e má gestão.

– Nós perdemos uma grande oportunidade de massificar o esporte, democratizar o esporte e de tornar o esporte mais presente na vida do cidadão. Isso já foi perdido, e o que a gente quer no futuro é fazer com menos dinheiro o que não foi feito quando tinha mais dinheiro – disse à agência inglesa de notícias Reuters o novo diretor de natação da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Renato Cordani.

Tanto as confederações quanto o Comitê Olímpico do Brasil (COB) estão em busca de novos patrocinadores visando os Jogos de Tóquio 2020. Por contrato, o COB esteve, no último ciclo, atrelado aos patrocínios do comitê organizador da Rio 2016. Quando encerrou o ciclo, o COB perdeu todos os patrocinadores.

Além disso, muitos atletas, incluindo medalhistas como o ginasta Arthur Zanetti. Admitiram ter perdido apoio após a Rio 2016.

Patrocínio

O diretor de esportes do COB, Agberto Guimarães, no entanto, tenta relativizar essas perdas de patrocínio.

– Independentemente de o Brasil ter sediado a última edição dos Jogos Olímpicos, é normal o primeiro ciclo do ano olímpico ter menos recursos. É um ciclo de baixa, em que os próprios patrocinadores que apoiaram no ciclo anterior também precisam ganhar um pouco de fôlego. Todo mundo tira um pouco o pé do acelerador para reestruturar os seus programas – afirmou o Guimarães.

– Entre os atletas também é perfeitamente normal essa redução. A gente vai ver um novo crescimento a partir de 2018.

Outros atletas, no entanto, como os medalhistas de ouro no Rio Thiago Braz e Rafaela Silva, mantiveram o aporte financeiro e incrementaram os ganhos com novas parcerias e palestras.

Há, ainda, uma boa expectativa para o futuro. Graças a resultados recentes. como o bom desempenho dos brasileiros no Mundial de natação, em julho, que animaram os dirigentes, depois que o Brasil passou em branco nas piscinas do Rio de Janeiro.

– A ótima repercussão dos resultados de Budapeste faz com que os patrocinadores procurem a gente – disse o diretor de natação da CBDA.

Novos alvos

No ciclo olímpico para a Rio 2016, somente o COB investiu R$ 700 milhões nas modalidades. Sem contar as verbas do Ministério do Esporte, Forças Armadas e clubes. Mas o Brasil não atingiu a meta de ficar entre os 10 países com mais medalhas.

Ao conquistar 19 medalhas. Sendo sete de ouro, seu recorde histórico. O país terminou em 13º lugar no quadro oficial de medalhas, que ordena os países pela quantidade de ouros, e em 12º no número total de medalhas.

O COB

O COB, no entanto, comemorou a maior quantidade de finais realizada e mira modalidades com alto potencial para os Jogos de Tóquio. Entre as citadas por Agberto Guimarães estão taekwondo, canoagem slalom, remo, boxe e uma modalidade que vai estrear em Olimpíadas, o caratê.

– A gente está dando continuidade ao bom trabalho feito no ciclo passado em algumas modalidades e estendendo esse trabalho para outras modalidade que despontaram como potencial para os Jogos de Tóquio – afirmou o diretor do COB. "A gente ainda está conversando com algumas confederações na definição desse trabalho para o futuro."

Uma confederação que já se planejou foi a do judô, esporte que tradicionalmente conquista medalhas olímpicas. Mesmo admitindo ter tido uma redução de receitas, já estava preparada para isso.

– O planejamento para Tóquio 2020 começou em 2015. Quando demos início ao Projeto Ohayou, que visa à renovação e desenvolvimento da equipe olímpica. Aproveitamos a onda de investimentos da Rio 2016 para dar início ao processo rumo a Tóquio – disse o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson.

Prisões e "desastre"

Enquanto algumas modalidades buscam despontar, outras visam a reconstrução. Em abril, a CBDA foi alvo de uma operação da Polícia Federal na qual dirigentes da entidade. Incluindo o ex-presidente Coaracy Nunes, foram presos como parte de uma investigação. Sobre um suposto esquema de fraude com recursos públicos que pode ter desviado até R$ 40 milhões. Esse valor deveriam ter sido destinados à preparação de atletas para competições.

Uma nova diretoria foi eleita em junho com uma série de desafios. Entre eles conseguir o desbloqueio dos repasses do Ministério do Esporte e do COB. Suspensos em função de problemas na prestação de contas.

Também com as verbas bloqueadas, a Confederação Brasileira de Basketball (CBB) conseguiu a liberação do COB no final de julho. A entidade chegou a ser suspensa de competições de novembro a junho pela federação internacional, a Fiba, por não honrar compromissos.

CBB

Segundo o vice-presidente da CBB, Manoel Castro. Cuja chapa foi eleita em março, a confederação recebeu nos últimos oito anos uma média de R$ 25 milhões anualmente. Mas pouco investiu na base do basquete e também nas seleções, que tiveram um desempenho fraco na Rio 2016.

– Para o basquete foi um desastre. Tivemos uma participação pífia, não houve por parte da CBB nenhum tipo de planejamento. A modalidade involuiu – afirmou Castro. Acrescentando que a CBB perdeu grande parte de seus patrocinadores após a Olimpíada. "Ninguém coloca dinheiro onde não tem credibilidade", acrescentou.

– Você imagina uma confederação que você chega e tem salários atrasados, impostos atrasados. Também sem material esportivo algum, carregada de dívidas, sem campeonato de base, sem projeto. Era um cenário de crise desastroso – completou.

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