Falta de recursos leva Uerj a parar pesquisas

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Publicado Quarta, 11 de Janeiro de 2017 às 13:16, por: CdB

A tradição e o prestígio da instituição, no entanto, têm convivido com falta de recursos, que vem paralisando trabalhos e pode desmotivar jovens pesquisadores

Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro:

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) organiza anualmente um vestibular concorrido, é pioneira em ações afirmativas e tem três programas de pós-graduação com nota máxima da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. A tradição e o prestígio da instituição, no entanto, têm convivido com falta de recursos, que vem paralisando trabalhos e pode desmotivar jovens pesquisadores.

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A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) organiza anualmente um vestibular concorrido

Segundo o sub-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Uerj, Egberto Moura, R$ 32 milhões aprovados para pesquisas em 2016 não foram repassados via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), o que tem levado laboratórios e grupos de pesquisa a suspenderem atividades.

– As coisas estão começando a parar em graus variados. Alguns laboratórios também têm recursos de agências federais e estaduais (de outros estados), mas está ficando muito difícil, porque o grande financiador da pesquisa no Rio de Janeiro é a Faperj _ afirma o sub-reitor. "A gente teme que esse pessoal novo que trabalha em áreas de ponta se desmotive e comece a sair da universidade".

Supercomputador parado

Um exemplo dessa situação é o convênio com a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), no qual um supercomputador é mantido em funcionamento na Uerj para auxiliar no processamento de dados gerados nos experimentos com aceleradores de partículas. Entre os temas que movem os cientistas envolvidos no projeto está a origem do universo e a formação da matéria.

O equipamento que protege o supercomputador de oscilações de energia (nobreak) quebrou em novembro, e sem dinheiro para substituí-lo. A universidade teve que paralisar parte da pesquisa, que envolve instituições de todo o mundo.

Um nobreak custa R$ 450 mil, mas a falta do aparelho pode causar prejuízo de aproximadamente R$ 5 milhões se o computador for ligado sem segurança. "A universidade perde prestígio se não consegue manter um sistema funcionando e rompe o contrato com o Cern, por mais que pesquisadores brasileiros continuem participando como associados". Lamenta o sub-reitor, que considera a crise na Uerj a pior que já vivenciou, por afetar os segmentos de ensino, pesquisa e extensão. 

O supercomputador pode voltar a funcionar com uma doação que está sendo acertada com o Comitê Rio 2016, que utilizou um nobreak semelhante nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. No entanto, ainda não há previsão para que seja religado.

Outro projeto afetado pela falta de recursos é a construção de um prédio para o Centro de Estudos Multidisciplinares de Obesidade. O edifício de um pilotis e três andares receberia até mil pessoas por semana para pesquisa sobre obesidade por profissionais de várias especialidades, com acompanhamento de mudança do estilo de vida, avaliações físicas, psicológicas e conscientização.

Crise

A diretora do centro, Eliete Bouskela, conta que a obra começou em 2013 e parou em 2015. Enquanto não fica pronta. O número de atendimentos não passa de 80 por mês. A abordagem multidisciplinar é prejudicada pela falta de um espaço adequado. "Praticamente todas as nossas pesquisas estão sendo afetadas.

Estão faltando insumos básicos", disse a diretora, que lidera um grupo que tinha cerca de 40 pesquisadores. "Perdemos três doutores que foram para o exterior".

No Instituto de Biologia, o professor associado Israel Felzenszwalb conta que faltam recursos de editais aprovados nos últimos dois anos. "Isso vem dificultando trabalhos de tese de doutorado e dissertação de mestrado e causa uma desmotivação que pode acarretar em, no futuro. Não termos recursos humanos", disse o professor, que pesquisa na Uerj há mais de 45 anos.

– É a maior crise que já vi a Uerj atravessar. De cada tijolo que foi posto na pesquisa, eu fiz parte, e é muito triste ver que isso pode desmoronar – afirmou, acrescentando estar otimista para que a situação melhore.

Falta de recursos

A falta de recursos nos laboratórios, exemplifica o professor, impede a pesquisa de musgos. Extraídos na Antártida que podem guardar propriedades farmacêuticas e dermatológicas. Interfere no monitoramento da poluição da região metropolitana do Rio. "A coisa mais impactante foi não estarmos recebendo os salários de novembro, dezembro e décimo terceiro. Isso é uma afronta".

Assim como muitos servidores do Estado. Os professores, pesquisadores, bolsistas e técnicos da Uerj estão sem receber os vencimentos integrais. Desde novembro. Bolsistas da Faperj em outras universidades também estão sem receber. O décimo terceiro e o salário de dezembro não foram pagos 0s funcionários temem sobre o pagamento do salário de janeiro.

Segundo o sub-reitor. A Uerj não recebe os R$ 13 milhões mensais de custeio desde agosto, e pagamentos de empresas terceirizadas. Contas como energia elétrica e água estão atrasados.

Governo do Rio

A Secretaria de Estado de Fazenda reconhece que, "em meio à gravíssima situação financeira do estado", foi repassado 65% do orçamento total da Uerj em 2016.

– Como o salário de dezembro e o décimo terceiro salário ainda não foram pagos. Para a maioria do funcionalismo público do Estado do Rio de Janeiro. Encontram-se pendentes de pagamento R$ 212,4 milhões em pessoal. Representam 18,9% do orçamento total da Uerj. Em custeio e investimento, ficaram pendentes de pagamento R$ 83,9 milhões. Representam apenas 7,5% do orçamento total da universidade – diz a nota da secretaria.

Sobre a Faperj, a secretaria informou que o valor pago pela fundação à pesquisa em diversas instituições. Foi de R$ 445,9 milhões em 2015 e de R$ 267,5 milhões até novembro de 2016. O órgão não detalhou quanto desses recursos eram da Uerj e qual deveria ter sido o repasse.

Faperj

A Faperj informa que destinou o dinheiro acordado com a Uerj. Mas o pagamento efetivo depende da Secretaria de Fazenda. Por meio de nota, a fundação afirma que houve redução de seus recursos com a crise econômica e que tem priorizado o pagamento dos 5 mil bolsistas que desenvolvem projetos de pesquisa em instituições fluminenses.

–  A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro destina um quarto do seu orçamento anual. O que equivale a R$ 100 milhões, ao pagamento das bolsas. A quitação das bolsas tem sido feita após o pagamento dos salários dos servidores.

– As demais pesquisas, em torno de 3,5 mil projetos desenvolvidos em instituições de ensino e pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Continuam aguardando o aumento da arrecadação para voltar a receber financiamento da Faperj – complementa o texto.

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