Fascismo latente eleva risco de morte para ativistas de todo país

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Publicado Quarta, 21 de Março de 2018 às 13:59, por: CdB

Doutor em Arqueologia, no Pará, e padre paulistano sofrem atentados e ameaças de grupos ligados ao fascismo. Muitos agressores deixam mensagens de ódio em redes sociais.

 
Por Redação - de Belém e São Paulo

A execução sumária que encerrou a vida da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, há uma semana, no Rio de Janeiro, é apenas o sinal mais evidente da ação promovida por grupos de ódio e preconceitos, integrados por ativistas do fascismo, do Norte ao Sul do pais. No Pará, o arqueólogo Raoni Valle foi alvo de uma tentativa de assassinato. Em São Paulo, o alvo é o padre franciscano Julio Lancellotti. Ele trabalha com pessoas em situação de rua.

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O arqueólogo Raoni Valle foi alvo de um atentado, típico de grupos ligados ao fascismo, no interior do Pará

No caso do doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP) e mestre em História dedicado ao estudo da Pré-História Raoni Bernardo Maranhão Vale, de 41 anos, ele escapou da morte durante uma tentativa de homicídio, no interior do Pará. Zeze Weiss, jornalista socioambiental que milita na região, relata que Valle foi alvo do atentado “na noite do último dia 09 de março na varanda de  sua casa de Alter do Chão, no Estado do Pará”.

Ameaças

“Dois homens (possivelmente três) com rostos encobertos portando ‘garruchas’, espingardas adaptadas de cano serrado, atiraram contra o arqueólogo”. Ainda segundo relato de Weiss, “imediatamente, ao perceber a invasão, o pesquisador se atracou com os dois homens. O primeiro disparou contra seu 
rosto, mas o cartucho explodiu dentro da arma. O segundo ainda mirou mas antes que disparasse, Raoni mergulhou embaixo de sua mesa de trabalho em seu escritório, virando a mesa por cima dos meliantes e lhes empurrando contra ela para fora de casa, gritando por socorro”.

“O tiro e seus gritos alertaram moradores e a dupla fugiu. Ainda um terceiro elemento havia sido encurralado por sua esposa e pelo seu cachorro e ao ser ameaçado pelos dois evadiu-se.  O pesquisador sequer viu o terceiro homem”, relata.

Em São Paulo, há cerca de três semanas, internautas começaram a aparecer mensagens ofensivas e ameaças, algumas de morte, contra o padre Julio Lancellotti em comunidades, grupos e no perfil do religioso no Facebook. Em uma delas, o agressor, um advogado, segundo o padre, diz “morte ao padreco”. Um outro comentarista diz:

Fascismo

“Tem que começar mandando esse padre pro inferno, e depois seus seguidores…”, sendo saudado com aplausos virtuais.

Lancellotti tem 69 anos, com 34 deles dedicados à causa dos moradores de rua e outros grupos marginalizados. Pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca, região central e vigário episcopal para a população de rua da Arquidiocese de São Paulo, ele atribuiu as ameaças ao tipo de trabalho que desenvolve e à crescente onda de intolerância dos dias atuais.

— O discurso de ódio sempre existiu. Mas esses intolerantes, antes, ficavam restritos, não se impunham. Nesse momento que estamos vivendo, sinto que essas pessoas se sentem livres; não têm mais o menor pudor. Sentem-se legitimadas para falar o que bem entenderem — concluiu.

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