O histerismo ideológico do clã Jair Messias e seus seguidores

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Publicado Domingo, 13 de Janeiro de 2019 às 13:16, por: CdB

Viver sem terra, sem direitos e submissos poderia ser assim resumida a perversa ideologia do governo da extrema direita brasileira. Bolsonaro foi capaz de se servir da democracia para impor a ideologia de extrema direita autoritária e repressiva e impor uma agenda neoliberal na economia.

  Por Marilza de Melo Foucher - de Paris   Sem querer ofender o novo presidente, sua posse foi considerada no plano internacional e por muitos brasileiros como um festival de besteirol. Suas primeiras iniciativas não causam nenhuma surpresa: nenhuma mensagem foi destinada aos pobres, nenhuma proposta de garantia de direitos sociais, ao contrário, o governo do clã Bolsomito é simplesmente a continuidade do governo Temer que investiu no retrocesso das conquistas sociais.
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Presidente eleito, Jair Bolsonaro representa os segmentos mais reacionários da sociedade brasileira
Com Bolsonaro as formas de discriminações se fortalecem e as categorias afetadas são as mesmas que ele sempre ofendeu: índios, negros, homoafetivos, LGBT, mulheres. Além disso, nenhuma preocupação com a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade brasileira. A destruição da floresta amazônica ganhou ritmo acelerado. A questão ambiental é secundaria. Para eles não existe ameaça de aquecimento global, poluir e pulverizar os solos de inseticidas não é um problema, assim como não obedecer às regras de caça e pesca. Agrotóxico e agrobusiness estão intimamente associados para garantir a destruição ambiental nos próximos 4 anos! Viver sem terra, sem direitos e submissos poderia ser assim resumida a perversa ideologia do governo da extrema direita brasileira. Bolsonaro foi capaz de se servir da democracia para impor a ideologia de extrema direita autoritária e repressiva e impor uma agenda neoliberal na economia.

Evangélicos

As declarações de Bolsonaro, cada uma mais chocante que a outra, não impediram que ele adquirisse uma forte popularidade entre a população brasileira e fosse eleito Presidente do Brasil. Não esquecer que ele foi capaz de captar os votos de muitas vítimas da crise que foram beneficiários, ontem, de uma política progressista. Sua campanha foi alimentada com argumentos de negação, apontando problemas sem propor soluções, simplesmente designando os culpados, segundo ele, que devem ser punidos, perseguidos e mesmo se possível eliminados. As igrejas evangélicas fundamentalistas foram usadas para o patrulhamento religioso e ideológico, para difundir mentiras e criar seu reduto eleitoral para extrema direita. Ciente da crescente popularidade e influência dos evangélicos no país, a equipe de campanha de Bolsonaro adaptou seu discurso na defesa dos valores morais da família cristã tradicional. A fé em Cristo foi usurpada. No lugar de um Reino de vida, de amor e de justiça, eles forjaram o ódio, a raiva e divisão, manipularam seus fiéis afirmando que eles pertenciam ao campo do bem e tinham que combater o campo do mal, representado por Haddad o candidato do Lula!

Extrema direita

Essa realidade política vai exigir de cada um de nós que combate a ideologia da extrema direita, no Brasil e no mundo, muita paciência e uso de muita pedagogia, pois não existe receita milagrosa para enfrentar esta situação! Diante dessas ameaças, devemos ter capacidade para inovar na militância, no modo de fazer política e saber fazer autocritica para explicar e responder a este novo desafio de ideologia autoritária, repressiva que alimenta a violência e intolerância. Os partidos de esquerda precisam ter estratégia de ação coordenada com as forças progressistas para enfrentar o clã Bolsonaro. E, também, deve ter estratégia de ação internacional com os partidos progressistas, sindicatos e movimentos sociais, tendo em vista, que a vitória da extrema direita no Brasil não pode ser vista de modo isolado, mas como um fenômeno que se expande em diferentes partes do mundo. Localmente, já se sabe do que eles foram capazes durante a campanha surrealista que marcou essas eleições. Não esquecer daqueles que votaram por influência das redes sociais montadas por adeptos do dito “mito”, contando com uma enorme logística das empresas que fizeram uso do WhatsApp para divulgar mentiras e convencer os ignorantes. Eles contaram também com a rede globo de televisão que se calou sobre os resultados negativos do governo Temer. Até parecia que o PT continuava no poder... Aliás essa foi a estratégia de Bolsonaro na campanha e que foi utilizada em seu discurso de posse! A intoxicação mental continua e os fake-news também.

O início da libertação do Brasil do Socialismo 
segundo Bolsonaro

Dizer que os governos petistas eram todos marxistas, vermelhos, socialistas é de um delírio alucinante! Certamente provocaria gargalhadas em Marx, Engels estudiosos, analistas e críticos do modo de produção capitalista. Aliás esses grandes pensadores construíram uma visão de mundo que ninguém hoje pode contestar! Marx que tinha doutorado em filosofia, colocava a teoria a serviço da transformação social. Uma influência que foi considerável no XX século e que sobreviveu a todas as crises, mesmo depois da queda dos regimes comunistas que se reivindicavam da teoria marxista. Até hoje muitos pensadores que leram e estudaram Marx continuam a se questionar e a tentar entender suas previsões, levando em conta o contexto atual da evolução do capitalismo financeiro e as crises que ele vem provocando. Hoje, os velhos críticos de Marx e Marxismo estão levando muito a sério a teoria econômica de Marx. Um número crescente de economistas está estudando de perto os escritos de Marx, na esperança de entender o que deu errado.

Esquerda mundial

Até George Magnus, analista econômico do UBS Bank (Suíço), leu Marx e recomendou sua leitura para compreender a grande crise de 2008 que dura até hoje. Ele escreveu em agosto de 2011 em um ensaio para a Bloomberg View, que tinha como título: Dar a Karl Marx a chance de salvar a economia mundial. "a economia global hoje se assemelha, de maneira preocupante, ao que Marx havia antecipado”. Observa-se que em geral aqueles que não leram Marx e nenhum pensadores do marxismo são os mais ferozes inimigos do marxismo! Certamente desconhecem também as querelas, os debates entre Lenin, Trotsky, Stalin, e desconhecem a pluralidade que representa a esquerda mundial e suas múltiplas tendências. Lamentavelmente desconhecem “O ABC da Dialética”, que Trotsky assim definia: "A dialética não é uma ficção nem uma mística, mas a ciência das formas de nosso pensamento, quando esse pensamento não se limita às preocupações do mundo da vida cotidiana, mas tenta captar processos mais duradouros e complexos.” Ninguém pode decretar a morte das ideologias! A ideologia é mais do que uma ideia, um projeto ou um ideal: é também um movimento, uma luta, muitas vezes conduzida contra outros tantos "ismos". As ideologias continuarão por muito tempo a permear nossa visão de mundo.

Violência

Torna-se crucial, nesse período de predominância obscurantista re-injetar pensamento, ideias na política. A maior contribuição que podemos dar à luta contra o alastramento da ignorância no Brasil é tornar acessível um arsenal conceitual que permita rearticular um pensamento político sólido para desarticular esta ideologia de extrema direita neoliberal e responder à desordem demagógica proposta pelo Clã Bolsonaro e seus iluminados seguidores. A ideologia da esquerda humanista que inspirou os governos petistas criou uma coesão social, garantiu direitos aos trabalhadores — diga-se garantiu direitos a todos os brasileiros — combateu todo tipo de racismo e discriminações, promoveu a paz social, combateu a violência contra as mulheres, reconheceu os índios a terem direito as terras e usufruir de um estatuto, assim como o reconhecimento dos quilombos. Além de retirar o Brasil da crise econômica e pagar sua dívida externa e sair da dependência do FMI. Os governos petistas fizeram um extraordinário trabalho na área das relações internacionais, elevando a respeitabilidade da diplomacia brasileira e estreitando laços de cooperação com todos os continentes.

Casa Grande

O Lula hoje é acusado de perigoso comunista, tudo isto parece surrealista! O socialismo Lulista não expropriou os meios de produção, não promoveu lutas de classe, não criou a autogestão dos trabalhadores, não fez uma verdadeira reforma agraria, não realizou uma verdadeira reforma política. Foi um governo que sempre buscou agir de modo consensual com os detentores da Casa Grande, pois Lula, o humanista, imaginava que eles mudariam de ideologia e iriam permitir a ascensão dos pobres ao acesso à Casa Grande. Lula talvez imaginasse entrar nesta casa grande sem senzala, onde todos os pobres pudessem ter uma bela morada. Lula, o comunista, permitiu as multinacionais continuarem investindo no Brasil. Em seu governo não houve nacionalização de empresas privadas; não houve perseguição da grande mídia. Lula não ousou a enfrentar o monopólio da Globo, não criou um organismo de regulação dos meios de comunicação. Aliás os meios de comunicações continuaram nas mãos das grandes famílias inimigas do PT e de Lula.

Comunistas

Os donos dos meios de comunicações sempre objetivaram derrotar o Lula em todas as eleições. Tudo fizeram para desacreditar os projetos do governo, mentiram e caluniaram Lula até o levarem a prisão para impedir que o comunismo voltasse ao poder! Esse surrealismo tropical intriga qualquer ser humano dotado de um pouco de inteligência! Os governos petistas, ditos vermelhos comunistas, nunca impuseram nenhuma forma de censura! A ampla liberdade de expressão sempre existiu com Lula e com Dilma. Assim como a liberdade política para a ação parlamentar e deram a devida independência da justiça e policia federal. Para o Presidente e porta voz da extrema direita do Brasil isto significa um regime comunista! Daí o Messias assumiu o poder para libertar o Brasil do Socialismo!!!! Por estas razões, não se pode menosprezar o inimigo! Mesmo que o uso do humor e deboche tenham ganhado as redes sociais e sirva de divertimento, dadas as inúmeras gafes e falta de conhecimentos do atual Presidente da realidade brasileira, não podemos nos contentar em rir da catástrofe humana que se prepara no Brasil.

Ideólogos

As asneiras do Presidente e as lucubrações de seus ideólogos, ministros e conselheiro (Olavo de Carvalho, Paulo Guedes, Sergio Mouro, Ernesto Araujo, General Augusto Heleno) devem ser levadas a sério e são de extrema gravidade. Basta analisar como o Bolsonaro chega ao poder. Não é por um acaso que o senhor Jair Messias agradeceu formalmente a Sergio Moro pela sua vitória. Este ao prender o Lula e impedir sua candidatura garantiu a vitória de Bolsonaro, por esta razão ele foi recompensado com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Como imaginar que Bolsonaro conseguiu construir um pensamento se ele não entende a sua própria linguagem? Entretanto, ele teve apoio incondicional dos ideólogos para a implantação da extrema direita no Brasil. Quando eles dizem que vão varrer as ideologias nefastas, (do ponto de vista da extrema direita), eles estão destruindo toda liberdade de pensamento, de manifestação de todas as ideias contrarias a ideologia que eles querem implantar!

Nazismo

Quem não comunga com o seu credo será eliminado! A ideologia do Clã Bolsonaro e de seus Ministros vai levar o Brasil a um impasse de múltiplas consequências: a instabilidade financeira, a crise econômica, a destruição da coesão social, a catástrofe ecológica, fomentação do ódio, violência e mortes. Muitos pensavam que Hitler era um louco e que não chegaria ao poder, pois não teria apoio da sabia elite alemã. Enganaram-se! Muitos acadêmicos, médicos, cientistas, juristas abraçaram o nazismo de corpo e alma. Alguns podem ter se sentido manipulados. Entretanto, a maioria compartilhou de boa-fé uma visão biológica, nacionalista e racista do mundo. Os nazistas não eram apenas um bando de loucos ou bárbaros, ao contrário do que podemos acreditar. A verdade sobre que foi a natureza do nazismo, a essência desumana de sua ideologia, o comportamento de seus seguidores, deve servir de exemplos para lutar contra a sua banalização.

Um povo sem medo, sem medo de lutar: 
Sem violência vamos estimular a ação criativa

O slogan mais lindo que surgiu depois da vitória do Clã Bolsonaro foi: Ninguém larga as mãos de ninguém! Vamos cirandar cantando a resistência e estimulando a ação criativa. Vamos promover encontros intergeracionais para contextualizar esta realidade e juntos preparar respostas. Imaginar formas criativas de educação popular, vamos ocupar todos os espaços possíveis para dialogar com todas as categorias sociais, sejam em praças, botecos, cinemas, teatros, nas associações de bairros, nas pastorais, nas comunidades rurais e urbanas das favelas, nos bairros populares.

Autocrítica

Vamos organizar saraus, encontros com os vizinhos, criar bate-papos de botecos, cafés filosóficos, ir nos espaços associativos para organizar palestras interativas. Com todos os atores sociais articulados se pode formular estratégias de ação não violenta para reconquistar os valores democráticos, dentre estes o exercício da cidadania política. Diante de um governo de extrema direita e as ameaças proliferadas, as forças democráticas progressistas devem se unir para defender os ataques aos direitos fundamentais e assumir um compromisso patriótico com o Brasil. Promover debates sobre todas as medidas de retrocesso social, econômico e cultural e ambiental. Construir bons argumentos para explicar de modo pedagógico cada retrocesso, cada afronta aos direitos humanos e buscar comparar com as dos governos petistas, sem perder, logicamente, a ocasião para a autocrítica em caso de erros cometidos no passado. Sempre buscar onde se errou e se projetar para o futuro, sem medo e com determinação na luta por seus direitos. Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil, em Paris.
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