Investigações sobre Flávio Bolsonaro avançam, mas sem promover alguma comoção

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Publicado Sexta, 21 de Agosto de 2020 às 10:29, por: CdB

A informação consta de relatório vazado para a reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculada na noite passada, obtida após acesso exclusivo dos jornalistas aos extratos bancários da empresa.

Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
As investigações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) chegaram a um novo ponto de inflexão sobre a loja de chocolates do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). O primogênito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu 1.512 depósitos em dinheiro entre 15 de março e dezembro de 2018.
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Flávio Bolsonaro e agora seu irmão, o 02, são suspeitos de contratar funcionários fantasmas em seus gabinetes, ao longo de quase uma década
A informação consta de relatório vazado para a reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculada na noite passada, obtida após acesso exclusivo dos jornalistas aos extratos bancários da empresa, com a quebra de sigilo bancário do senador e dos negócios em que ele participa. As ações foram autorizadas pela Justiça. Os depósitos suspeitos ocorreram de forma sucessiva, em dinheiro vivo e com os mesmos valores, segundo os documentos. Entre as operações realizadas, houve 63 depósitos de R$ 1,5 mil em dinheiro, outros 63 de R$ 2 mil e mais 74 transações em espécie no valor de R$ 3 mil, valor máximo permitido para os depósitos em caixa eletrônico.

‘Rachadinha’

Os extratos bancários revelam, ainda, que em 12 datas diferentes houve dezenas de depósitos de R$ 3 mil. Em 28 de novembro de 2016, por exemplo, foram sete, um total de R$ 21 mil. Já em 18 de dezembro de 2017, 10 depósitos de R$ 3 mil, somando R$ 30 mil.  Em 25 de outubro de 2018, 11 depósitos de R$ 3 mil, totalizando R$ 33 mil. De acordo com a legislação, à época, os depósito em numerário acima de R$ 10 mil precisariam ser reportados às autoridades, como forma de combate à lavagem de dinheiro. Depósitos fracionados, no entanto, driblavam a fiscalização, mas chamaram a atenção dos investigadores como suspeita de ocultação da origem da quantia em espécie. De acordo com o MPE-RJ, “os depósitos são desproporcionais ao faturamento da loja e coincidem com o período em que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador, arrecadava parte dos salários dos servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no esquema conhecido como ‘rachadinha”, constata a reportagem. No STF Os promotores responsáveis pela investigação afirmaram aos repórteres que a franquia da rede Kopenhagen teria sido usada “como conta de passagem” para que as verbas desviadas voltassem a Flávio Bolsonaro como lucros fictícios. O valor “lavado” na loja pode chegar a R$ 1,6 milhão. Entre junho e julho de 2017, a conta pessoal do então deputado estadual recebeu 48 depósitos em dinheiro vivo. As transações tinham sempre o mesmo valor, R$ 2 mil, e foram feitas no autoatendimento da agência bancária da Alerj. Embora haja todos esses indícios, as investigações contra Flávio seguem a passos lentos, em razão de uma série de manobras da defesa. A principal foi o pedido para que ele tenha foro especial, manobra que abriu dúvidas quanto a quem investiga o senador – se a primeira instância, na Justiça criminal do Rio, ou um tribunal especial. A decisão, ainda não proferida, cabe ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Descaso Caso seja denunciado, o filho do presidente deve responder pelos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenado, ele pode perder o mandato. Após a prisão de Fabrício Queiroz há dois meses, vários pagamentos suspeitos à família do presidente vieram à tona. O policial aposentado Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões de servidores do gabinete entre 2007 e 2018 e era responsável pela arrecadação dos repasses. A defesa do senador nega qualquer irregularidade nas contas do cliente e disse à imprensa que todas as informações sobre o caso foram prestadas ao MP. Diante dos fatos, o ex-prefeito Fernando Haddad, potencial candidato à presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT), lamentou o descaso da população brasileira com o avanço das mortes por covid-19 e com os depósitos nas contas de Flávio Bolsonaro. — O número de mortes diárias por covid-19 só perde para o número de depósitos em dinheiro na conta de F. Bolsonaro. E os dois números não chocam mais ninguém. Triste — escreveu o presidenciável, nas redes sociais.
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