Publicado Quarta, 29 de Abril de 2020 às 11:12, por: CdB
Aborrecido com a repercussão da sua fala, na noite passada, em que respondeu com um “e daí?” ao fato de a curva de mortes estar em franca ascendência no país, Bolsonaro não pede desculpas pela falta de empatia.
Por Redação - de Brasília
Extremamente irritado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, nesta quarta-feira, que as mortes causadas pelo coronavírus devem ser cobradas dos governadores e prefeitos. O mandatário neofascista tenta se eximir de qualquer responsabilidade sobre a crise causada pela epidemia que já causou mais de 5 mil mortes. Mais do que na China, onde teve início o contágio com o vírus Sars-CoV-2.
Bolsonaro não pediu desculpas ao povo brasileiro pela total falta de empatia com os mais de 5 mil mortos pela covid-19
Aborrecido com a repercussão da sua fala, na noite passada, em que respondeu com um “e daí?” ao fato de a curva de mortes estar em franca ascendência no país, Bolsonaro não pede desculpas pela falta de empatia.
— Lamento, quer que eu faça o quê? — desafiou os jornalistas que tentavam entrevistá-lo, à entrada do Palácio da Alvorada.
Governadores
Bolsonaro voltou a chamar os repórteres de mentirosos e se desespera:
— Não vão colocar essa conta em cima de mim!
O chefe de Estado reagia, também, à declaração do governador de São Paulo que o desafiou a deixar o Planalto e sair às ruas da capital paulista.
— Saia da sua bolha, do seu mundinho de ódio. Saia dessa sua redoma de Brasília e venha visitar os hospitais em São Paulo, venha ver a gripezinha, as pessoas agonizando nos leitos e a preocupação dos profissionais de saúde — desafiou Doria.
Isolamento
O governador informou, contudo, que está em 48% a taxa de isolamento social, muito em função das declarações de Bolsonaro, contrárias à prevenção das pessoas, nesta pandemia.
— Não é um número bom —critica.
Há 1776 pessoas internadas em UTIs e a taxa de isolamento precisa chegar a 60% para evitar o colapso do sistema de saúde de São Paulo, segundo os setores técnicos do governo estadual.
‘Vá a Manaus’
Doria foi ainda mais contundente na resposta a Bolsonaro e falou dirigindo-se diretamente a ele:
— Pare de praticar essa perversidade, pare de atrapalhar quem está ajudando para salvar vidas. Depois de mais de 5 mil mortes, vai continuar dizendo que estamos vivendo uma gripezinha? — questionou.
Direito à saúde
Além de convidar Bolsonaro para ir a São Paulo, Doria incitou-o a ir ao Amazonas.
— Vá a Manaus ver o colapso da saúde — desafiou.
Outro fato que ajudou a acirrar os ânimos do presidente foram as duras críticas feitas por dois relatores da Organização das nações Unidas (ONU) por colocar a “economia acima da vida” no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. O comunicado do Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos ressalta, ainda, que este tipo de política ameaça o “direito à saúde de milhões de brasileiros”.
Austeridade
“Não pode se permitir colocar em risco a saúde e a vida da população, inclusive dos trabalhadores da saúde, pelos interesses financeiros de uns poucos. Quem será responsabilizado quando as pessoas morrerem por decisões políticas que vão contra a ciência e o aconselhamento médico especializado?”, acrescenta o comunicado.
Na véspera, o Brasil superou a marca de mais de 5 mil mortes causadas pela covid-19 e que desde o início da pandemia o governo Bolsonaro insiste na reabertura da economia, em desrespeito às recomendações das autoridades de saúde. Os especialistas também criticaram a emenda constitucional aprovada pelo governo Michel Temer que limita os gastos públicos por um período de 20 anos.
“Já é hora de revogar a Emenda Constitucional 95 e outras medidas de austeridade contrárias ao direito internacional dos direitos humanos”, destaca o texto.