Janot o considera corrupto e FHC pede renúncia, mas Temer se agarra ao cargo

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Publicado Segunda, 26 de Junho de 2017 às 11:18, por: CdB

Janot afirma, sem margem para dúvidas, que Temer cometeu “crimes de corrupção”. Para Janot, “é cristalina” a atuação conjunta de Loures e do peemedebista nos crimes descritos nas delações da JBS.

 

Por Redação - de Brasília

 

Presidente de facto, empossado após o golpe contra a presidenta cassada Dilma Rousseff, em Maio do ano passado, Michel Temer não considera a hipótese de deixar o Palácio do Planalto. Acusado por crimes de corrupção passiva e formação de quadrilha, entre outros, Temer é alvo de denúncia do procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot. Em artigo publicado nesta segunda-feira, seu ex-aliado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), pede que renuncie. Mas Temer recusa-se a sequer considerar a possibilidade. Ele afirmou, nesta manhã, que “não há Plano B”. Permanecerá no cargo até não poder mais.

pgr-janot.jpgJanot apresenta sua denúncia contra Temer, nas próximas horas, ao STF

Embora não tenha sido vazado o teor da denúncia de Janot contra Temer, ainda, em parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a manutenção da prisão do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB) deu uma prévia do tom que pretende usar contra o peemedebista. No documento, Janot afirma, sem margem para dúvidas, que Temer cometeu “crimes de corrupção”.

Para Janot, “é cristalina” a atuação conjunta de Loures e do peemedebista nos crimes descritos nas delações da JBS. A denúncia contra Temer deverá desembarcar no STF nas próximas horas. Trata-se do primeiro passo para torná-lo réu. 

Renúncia

No artigo publicado por FHC, em um dos diários conservadores paulistanos, nesta segunda-feira, o ex-presidente diz que não vê mais viabilidade no governo de Michel Temer. O tucano volta a chamar a administração do peemedebista de "pinguela" e diz que a crise é grave. FHC deixa claro que Temer deveria renunciar, “a bem do Brasil”.

"Neste quadro, Michel Temer tem a responsabilidade e talvez a possibilidade de oferecer ao país um caminho mais venturoso, antes que o atual centro político esteja exaurido, deixando as forças que apoiam as reformas esmagadas entre dois extremos, à esquerda e à direita”, diz FHC.

O tucano afirma, ainda, que Temer poderia aproveitar o desejo por mudanças e promover uma reforma no Congresso, com uma proposta de emenda constitucional que adiantasse as eleições.

Confira, adiante, os principais trechos do artigo:

“As dificuldades políticas pelas quais passamos têm claros efeitos sobre a conjuntura econômica e vêm se agravando a cada dia. Precisamos resolvê-las respeitando dois pontos fundamentais: a Constituição e o bem-estar do povo.

“Mormente agora, com 14 milhões de desempregados no país, urge restabelecer a confiança entre os brasileiros para que o crescimento econômico seja retomado.

“A confiança e a legalidade devem ser nossos marcos. A sociedade desconfia do Estado, e o povo descrê do poder e dos poderosos. Estes tiveram a confiabilidade destruída porque a Operação Lava Jato e outros processos desnudaram os laços entre corrupção e vitórias eleitorais, bem como mostraram o enriquecimento pessoal de políticos.

Pinguela

“Não se deve nem se pode passar uma borracha nos fatos para apagá-los da memória das pessoas e livrar os responsáveis por eles da devida penalização.

“A Justiça ganha preeminência: há de ser feita sem vinganças, mas também sem leniência com os interesses políticos. Que se coíbam os excessos quando os houver, vindos de quem venham –de funcionários, de políticos, de promotores ou de juízes. Mas não se tolha a Justiça.

“Disse reiteradas vezes que o governo de Michel Temer (PMDB) atravessaria uma pinguela, como o de Itamar Franco (1992-1994).

(…) Nunca neguei os avanços obtidos pela administração Temer no Congresso Nacional ao aprovar algumas delas, nem deixo de gabar seus méritos nos avanços em setores econômicos. Não me posiciono, portanto, ao lado dos que atacam o atual governo para desgastá-lo.

Questão ‘agônica’

“Não obstante, o apoio da sociedade e o consentimento popular ao governo se diluem em função das questões morais justa ou injustamente levantadas nas investigações e difundidas pela mídia convencional e social.

“É certo que a crítica ao governo envolve todo tipo de interesse. Nela se juntam a propensão ao escândalo por parte da mídia, a pós-verdade das redes de internet, os interesses corporativos fortíssimos contra as reformas e a sanha purificadora de alguns setores do Ministério Público.

“Com isso, o dia a dia do governo se tornou difícil. Os governantes dedicam um esforço enorme para apagar incêndios e ainda precisam assegurar a maioria congressual, nem sempre conseguida, para aprovar as medidas necessárias à retomada do crescimento.

“Em síntese: o horizonte político está toldado, e o governo, ainda que se mantenha, terá enorme dificuldade para fazer o necessário em benefício do povo.

“Coloca-se a questão agônica do que fazer”, afirma o ex-presidente.

Vai ficando

Mesmo diante dos obstáculos na Justiça e do pedido para que deixe o cargo, Temer afirmou que não há “plano B”. E que nada “destruirá” a ele ou aos seus ministros. Este foi o recado que deixou, no final de seu discurso em cerimônia no Palácio do Planalto nesta segunda-feira.

— Ninguém duvide, nossa agenda de modernização do Brasil é a mais ambiciosa de muito tempos. Tem sido implementada com disciplina, com sentido de missão. Não há plano B, há de seguir adiante. Nada nos destruirá, nem a mim, nem aos nossos ministros — insistiu.

Temer está sendo investigado por corrupção passiva, participação em organização criminosa e obstrução da Justiça, a partir de informações levantadas na delação premiada de executivos da JBS.

Resultados

Em seu discurso, ao sancionar a lei que permite a cobrança de preços diferentes para pagamento com cartão de crédito, dinheiro ou cheque, Temer fez um balanço de medidas econômicas tomadas desde que assumiu. Entre elas, o teto de gastos, e afirmou que seu governo “está tendo resultados”.

— Esse governo sabe que é de transição. Chegou aqui para fazer o que muitas vezes as questões eleitorais impedem. Por isso estamos tomando medidas de racionalidade econômica — afirmou.

Segundo ele, a reforma trabalhista tende a ser aprovada, nesta semana.

— A Reforma da previdência deu uma parada, mas vai ser retomada — acrescentou.

Impeachment

Na semana passada, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, chamou ao Planalto os líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e no Congresso, André Moura (PSC-SE). Na reunião, refez o mapa de intenções de voto e verificou os estragos causados pelas denúncias contra Temer.

De acordo com informações levantadas pela Reuters com parlamentares que acompanham as negociações, o governo teria hoje cerca de 230 votos pela reforma, longe dos 308 necessários. Teria perdido pelo menos 30 desde o início da mais recente crise política.

Temer voltou a dizer que seu governo está colocando o país "nos trilhos" e defendeu as medidas adotadas até agora.

No fim de semana, porém, pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que o governo Temer é avaliado como ótimo ou bom por apenas 7% do eleitorado. Trata-se do pior nível desde os 5% do governo Sarney, em 1989. O levantamento mostrou que 76% são favoráveis à renúncia do presidente e 81% apoiariam seu impeachment.

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