Juízes e suas condições de deuses

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Publicado Sexta, 09 de Junho de 2017 às 10:48, por: CdB

Por que juízes tem só 100 vezes o ganho de um trabalhador? E sua condição de deuses, amos e senhores da vida?

 

Por Maria Fernanda Arruda - do Rio de Janeiro

 

Qualquer pesquisador que procure identificar o vetor infectante que impõe risco à sociedade e pessoas, irá certamente ao nascedouro como ocorreu aos descobridores de meios para combater doenças e pragas.  Quando o mal que assola a sociedade é a corrupção, nada mais correto do que a verificação de o que a sustenta ou lhe deu origem.  Se há nas regras sociais um esquema de freios e contrapesos, por que não funciona para estancar essa praga?

O mosquito da dengue se procria em águas paradas. Nem é difícil ver que há águas paradas servindo de viveiro aos corruptos. Quando se promoviam workshops em resorts caríssimos no litoral da Bahia em que ministros togados eram homenageados com 'boca livre' e transporte em jatinhos etc, tudo sob o patrocínio de empresas figurava como normal.

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Maria Fernanda Arruda é colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras

Eram reuniões de 'altos estudos' para o bem da sociedade. E nem uma esbórnia ocasional deslustraria o alto propósito de probos juízes... Férias em iates facultadas a togados também não são compra de sentenças. No máximo, uma convivência salutar e esclarecedora dos altos propósitos dos empresários que "dão duro"para a evolução. De quem?

Deuses remunerados

Quando algum ministro federal soube que togados estaduais estavam se locupletando com benesses salariais para filhos ou para compras de livros, nem pensar em reprovação. Era como uma luz a ser imitada em sua esfera. Muito bem bolada essa jogada, como foi escapar de ser prevista na Lei Orgânica da Magistratura (Loman)?

É preciso uma revisão da Loman. Está ficando arcaica em relação ao que se quer. Por que juízes tem só 100 vezes o ganho de um trabalhador? E sua condição de deuses, amos e senhores da vida? Quem não conhece não sabe, ou não quis ver na república de Curitiba que personagens tinham direito a fita adesiva sobre seus nomes 'acidentalmente' colocados em processos?

Por que se tornou famosa a frase 'isso não vem ao caso' quando se interrogava o "tal" que conduzia e que, por sua vez tinha um contra-cheque com dobro ou triplo do que dispõe a lei para retribuição salarial dos mais bem pagos funcionários da União? Com um desenvolvimento social desse porte, tal seria que se dispusessem a ser ingratos aos empresários que lhes dão tanto prestígio!

Juízes temerosos

Como se diz, noblesse oblige. Para se viver com fausto de marajás há que se ser leniente com quem se convive. Pensam - somos todos filhos de deus - porque nosso saber imenso tem de ser pago somente pelo erário? O mundo é maior do que esse brasilzinho chinfrim e precisam comprar paletós e gravatas nos brechós de Miami, ora essa!

Agora, com a brecha de delação premiada será mais fácil a composição de acordos com o mundo rico. Teremos mais poder de força. A distribuição de riquezas será equânime e togados terão participação além de viagens e banquetes. O caso Yousseff será padrão e amostra de nossa força. Pode-se pensar em pena de 100 anos reduzida a 3 por decisão monocrática?  Todos ficarão como o presidente: Temerosos.

Maria Fernanda Arruda é escritora e colunista do Correio do Brasil.

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