Laboratórios inventam doenças nas mulheres para faturar milhões

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Publicado Sexta, 03 de Janeiro de 2003 às 09:16, por: CdB

Grandes companhias farmacêuticas estão sendo acusadas de criar uma doença a partir de problemas sexuais femininos com o objetivo de vender remédios. Em um artigo na publicação científica British Medical Journal, o jornalista australiano Ray Moynihan escreve que pesquisadores ligados à indústria farmacêutica estariam tentando estabelecer a noção de que alterações sexuais são na verdade "disfunções". Segundo essa tese, as empresas estariam tentando exagerar os problemas sexuais das mulheres, para passar a impressão de que eles precisam ser tratados com remédios. A venda do remédio contra a impotência masculina Viagra rendeu US$ 1,5 bilhão ao laboratório farmacêutico Pfizer desde o seu lançamento, em 1998. A idéia seria recriar um mercado parecido para as mulheres. Doença "Um grupo de pesquisadores próximos a fabricantes de remédios estaria trabalhando com colegas da indústria farmacêutica para desenvolver e definir uma nova categoria de doença humana em congressos patrocinados por empresas", diz a publicação, voltada para estudantes e profissionais de medicina. Parte da comunidade científica acredita que é perigoso tratar das alterações sexuais femininas - como a diminuição do desejo depois do parto ou com um parceiro de muitos anos - como doença. "Eu acho que há muita insatisfação e talvez desinteresse entre muitas mulheres, mas isso não significa que elas tenham uma doença", afirma Sandra Leiblum, professora de psiquiatria da Escola de Medicina Wood Johnson. "Definir dificuldades sexuais como uma disfunção pode encorajar médicos a receitar remédios para mudar a função sexual quando a atenção deveria ser voltada para outros aspectos da vida da mulher", alerta o diretor do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, John Bancroft. "Também é provável que faça as mulheres pensarem que têm um problema físico, quando não têm." No entanto, o secretário da Sociedade Britânica para a Pesquisa sobre Sexo e Impotência, John Dean, ressalta que os problemas sexuais femininos poderiam ter fundamento médico, embora fatores psicológicos e sócio-econômicos também tenham um impacto significativo no comportamento sexual da mulher. "As drogas têm, sim, um papel como parte de um mecanismo de lidar com desordens sexuais", afirma Dean. Ainda assim, ele alerta para o risco de transformar toda a discussão em uma questão médica. "Ao estabelecer uma definição patológica de alguma coisa, as pesoas acham que têm algo que precisa de tratamento." Dean disse ainda que não há nada de errado no fato de companhias farmacêuticas terem ligações com pesquisadores. Segundo ele, é preciso apenas evitar que a influência da indústria determine a direção da pesquisa.

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