Legistas comprovam violência nos corpos de sem-terra em massacre no MT

Arquivado em:
Publicado Sábado, 22 de Abril de 2017 às 14:47, por: CdB

A Pastoral da Terra de Mato Grosso divulgou, no início da noite passada, um manifesto contra o massacre dos sem-terra. O texto é intitulado: Em Mato Grosso, o campo jorra sangue

 

Por Redação, com ACSs - de Colniza, MT

 

Técnicos do Instituto Médico Legal de Colniza (MT) deram início, na tarde deste sábado, aos exames de corpo de delito de nove vítimas fatais, fuziladas no massacre ocorrido na última quinta-feira, em uma área rural do distrito de Guariba. Os corpos encaminhados pela Polícia Judiciária Civil do Estado têm sinais de violência.

mst-colniza.jpg
Os corpos foram encontrados em diversos pontos do acampamento dos sem-terra, após o massacre ocorrido no MT

De acordo com o IML, os corpos são de homens adultos. Portanto, não há crianças entre os mortos, como havia sido divulgado anteriormente. Três vítimas eram do Estado de Rondônia e três do próprio distrito de Guariba. A procedência das demais vítimas ainda está sendo averiguada.

Ainda segundo a Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, os homens foram mortos por tiros ou facadas. Eles estavam todos no local onde aconteceu a chacina. Os corpos foram resgatados na véspera, pouco antes do fim do dia e o transporte foi feito durante a madrugada deste sábado. As condições do clima, na região, seguiam desfavoráveis.

Ainda segundo o Instituto, os corpos permanecem em uma sala preparatória, do cemitério de Colniza, onde transcorriam os trabalhos de perícia. A divulgação da lista com os nomes das vítimas será feita pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, nas próximas horas.

Manifesto

A Pastoral da Terra de Mato Grosso divulgou, no início da noite passada, um manifesto contra o massacre. O texto é intitulado: Em Mato Grosso, o campo jorra sangue

“A Prelazia de São Félix do Araguaia, em reunião com suas/seus agentes de pastoral, seu bispo dom Adriano Ciocca Vasino e o bispo emérito dom Pedro Casaldáliga, na cidade de São Félix do Araguaia - MT, manifesta sua dor, indignação e solidariedade com as famílias assassinadas na Gleba Taquaruçu, município de Colniza – MT, no dia 20 de abril.

Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres.

Isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais, como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos.

‘Terra sem lei’

Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos. Vivemos um clima de “Terra sem lei”, uma verdadeira guerra civil em nosso país.

Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam.

As famílias de agricultores da Gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004. Neste período, em decisão judicial, a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt ganha reintegração de posse concedida pelo juiz de Direito da Comarca de Colniza, como anunciada na Nota da Comissão Pastoral da Terra, de 20 de abril deste ano. Em 2007, ao menos 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e, neste mesmo ano, três agricultores foram assassinados.

Massacre dos sem-terra

Como estão, neste momento, as famílias que vivem em Colniza? O município já foi considerado o mais violento do país. Sabemos que na região existem outros conflitos de extrema gravidade. Como o da fazenda Magali, desde o ano 2000. E o conflito na Gleba Terra Roxa, desde o ano de 2004. A população teme que outros massacres possam acontecer.

Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A conseqüente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência.

Na semana em que lamentamos o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1997. A tragédia vitimou 19 lutadoras e lutadores do povo. Somos agora surpreendidos por outro massacre no campo, que quer amedrontar, calar as vozes e submeter a dignidade do povo brasileiro.

Temos a certeza que o massacre ocorrido jamais roubará os sonhos e as esperanças do povo. E jamais calará a voz das comunidades que lutam.

O sangue dos mártires será sempre semente de JUSTIÇA e VIDA!

São Félix do Araguaia, 21 de abril de 2017".

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo