Este ano comemoramos os 12 anos da Lei Maria da Penha sob a sombra de um golpe que sequestrou, não apenas os 54 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff, mas qualquer possibilidade de avanço para as políticas de combate à violência contra a mulher

Além dessa falta de prioridade para com esta política, o ataque diário à democracia é terreno fértil para a intolerância, o preconceito e a disseminação de discurso e ações derivadas do ódio. Quanto mais precisamos reforçar as políticas de combate à violência, menos se investe nelas.
Neste ambiente, a Lei Maria da Penha, à exemplo do que já aconteceu com a legislação trabalhista, corre enorme risco de retrocesso. Mais grave, porque, neste caso, o desgoverno não precisará de qualquer esforço para promover alterações. Basta matá-la por inanição.
Por isso, quando comemoramos os 12 anos de Lei Maria da Penha, urge lutar por nossa democracia e pelos direitos das mulheres. Lutar pela implementação de uma Lei que fez toda a diferença na prevenção e no combate à violência doméstica.
Tirar os casos de violência doméstica contra as mulheres dos juizados especiais criminais foi uma grande conquista. Não havia como esperar efetividade de uma pena que só piorava a situação das vítimas, expondo-as à mais violência. E elas se calavam. Por elas e por seus filhos. Temendo “provocar” a ira daqueles para os quais a justiça era condescendente. A existência e aplicação da lei já criaram um novo marco no sistema de justiça brasileiro, já ultrapassamos 1 milhão e 400 mil processos, milhares de prisões em flagrante e salvamos mais de 300 mil vidas. Mas os dados de violência e feminicídio ainda são alarmantes e demonstrativos da sociedade machista e patriarcal em que vivemos, agravada pela restrição democrática.
Num país onde 2 milhões de mulheres são espancadas por ano, uma a cada 24 segundos, há que se dar prioridade para reverter este quadro. Isso não se efetivará nesta escalada de retirada de direitos e asfixia dos investimentos. Onde a prioridade é mais concentração de riqueza e poder ao capital financeiro em detrimento do que é melhor para os brasileiros e brasileiras.
Nossa luta deve ser diária. Sem trégua para o avanço conservador e fascista sobre nossos direitos. Nossa voz deve se elevar em defesa da democracia e do que ela representa para uma sociedade onde homens e mulheres são iguais em direitos e deveres.
Jandira Feghali, é médica. Está no 6º mandato de deputada federal (PCdoB-RJ), foi secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói-RJ e secretária municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Relatora da Lei Maria da Penha, foi líder do PCdoB na Câmara dos Deputados e atualmente é vice-líder da Oposição.