Lula recomenda que o Brasil fique longe do conflito entre EUA e Irã

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Publicado Quarta, 08 de Janeiro de 2020 às 16:04, por: CdB

Lula resgatou, na conversa com editores do site Diário do Centro do Mundo, o papel do Brasil como articulador da paz no mundo, lembrou a intermediação feita por seu governo para o acordo nuclear com o Irã e afirmou que o Brasil historicamente sempre foi um país que buscou a paz.

 
Por Redação - de São Paulo
 
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Lula recomenda que o país se afaste do conflito entre os EUA e o governo iraniano
Na primeira entrevista deste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o conflito entre Estados Unidos e Irã e o posicionamento do governo brasileiro, de Jair Bolsonaro, em defesa do atentado cometido por Donald Trump, que matou o general iraniano Qassem Soleimani. Lula resgatou, na conversa com editores do site Diário do Centro do Mundo, o papel do Brasil como articulador da paz no mundo, lembrou a intermediação feita por seu governo para o acordo nuclear com o Irã e afirmou que o Brasil historicamente sempre foi um país que buscou a paz. — Não tem que se meter em confusão com briga externa — ressaltou. Lula referindo-se às últimas ações inconsequentes do Itamaraty, que em nota, defendeu os EUA com "apoio à luta contra o flagelo do terrorismo". — O Brasil sempre manteve uma política diplomática coerente e corajosa, um construtor  de harmonia — acrescentou. O Irã cobrou explicações do Brasil sobre esse posicionamento.

‘Lambe-botas’

Sobre as motivações de Trump, ele avalia que a potência estadunidense historicamente sempre precisou “arrumar um inimigo” e considera que o ataque ao Irã “está cheirando a campanha eleitoral". — Trump sabe que não está fácil uma reeleição com a quantidade de coisas que ele faz e fala, por isso o discurso ‘América para os americanos’, essa coisa bem bairrista, funciona”, disse. "Ele pode perder as eleições, e sempre uma guerra ajuda muito — afirmou. Lula mandou um recado direto para o sucessor: — Bolsonaro, o Brasil não precisa disso. Não precisa ser lambe-botas de ninguém. Precisa ser respeitado pela Bolívia e pelos Estados Unidos, pela China e pelo Uruguai, pelo Paraguai e pela Rússia. É assim que se constrói um país capaz de ser um agregador.

China e Rússia

Lula também disse, aos jornalistas, que acredita na existência de interesses político-eleitorais no ataque promovido pelo governo Trump. — Os Estados Unidos precisam de inimigo sempre. Isso está me cheirando à campanha eleitoral. Uma vez encontrei com o (Bill) Clinton em Davos, mais ou menos em 2003, e perguntei a ele se o Bush iria invadir o Iraque. E o Clinton me disse: olha, Lula, nos Estados Unidos a gente não costuma dar palpite no governo. Mas queria te dizer uma coisa: o Bush é um animal político, tem pesquisa. Se as pesquisas forem favoráveis a uma invasão no Iraque, ele vai fazer. Ele fez e ganhou a reeleição — relembrou. O ex-presidente alertou, contudo, que se aventurar em um conflito bélico contra os iranianos não é tão simples. — O Irã não é um país qualquer, tem uma tradição cultural milenar, tem vizinhos poderosos, a China e a Rússia têm interesses no Irã. E qual o papel de um país como o Brasil nisso? Não se meter — recomendou. Lula chamou a atenção para os riscos comerciais envolvidos. — O Brasil tem um superávit comercial com o Irã de US$ 2,2 bilhões, pode exportar muito e ser parceiro tanto do Irã como dos Estados Unidos”, destacou. “O Brasil não tinha que cair de joelhos nos pés do Trump e logo concordar que o ataque ao general era um ataque a um terrorista. Até porque o cidadão era oficialmente um general, conhecido por todo mundo na região — ressaltou.

Soleimani

Logo após a entrevista de Lula, foi a vez do presidenciável Fernando Haddad (PT) criticar a política externa do governo Bolsonaro de completa submissão aos interesses de Trump. Segundo ele, "a imagem do Brasil no exterior, em toda sua história, nunca esteve tão comprometida". Em reunião com representante do Brasil em Teerã, o governo iraniano manifestou insatisfação com a nota do governo Jair Bolsonaro que, para o Irã, comprou integralmente a versão dos EUA para justificar a morte de Suleimani.
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