Megainvestidor diz que Brasil tem '50%' chances de ir à moratória

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Publicado Terça, 08 de Outubro de 2002 às 20:43, por: CdB

O megainvestidor George Soros disse nesta terça-feira em Londres que o Brasil "tem mais de 50% de possiblidades de ter que reorganizar a sua dívida". Soros fez a declaração numa palestra na London School of Economics and Political Science (LSE), para uma platéia de mais de 400 alunos e professores da instituição. Soros disse que a primeira providência do novo presidente - "quem quer que seja" - deveria ser mandar alguém a Washington para ver se o FMI e a comunidade internacional estão dispostos a reduzir para 10% os juros pagos pelo Brasil nos empréstimos internacionais, atualmente em torno de 25%. "Se conseguirem empréstimos a 10%, mas eu não acredito que consigam, eles pagam. Se não, é melhor para o Brasil não pagar e ir para o ralo devagarinho", afirmou Soros numa entrevista depois da palestra. Críticas Soros disse que a moratória brasileira causaria mais dano a outros países do que ao próprio Brasil. "O Brasil tem superávit primário e superávit na balança comercial e por isso provavelmente seria capaz de crescer razoavelmente bem depois da reorganização", afirmou Soros. "No entanto, para o resto da América Latina isso significaria ficar fora do mercado internacional de capitais". Soros voltou a repetir a proposta que fez em junho, de que as instituições financeiras internacionais se juntem para negociar e garantir a redução dos juros brasileiros. Ele havia dito na época e voltar a afirmar nesta terça-feira que os juros elevados dificultam ainda mais a situação do país e aumentar a chances de que a dívida se torne impagável. "Mas ninguém deu muita atenção", lamentou. Soros evitou falar sobre o processo eleitoral brasileiro e quando foi perguntado se as chances de moratória cresciam com a eleição do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva disse que "não necessariamente" e falou como se o não pagamento da dívida brasileira fosse inevitável, independentemente de quem for o novo presidente. "Sistema falhou" Soros criticou várias vezes o sistema financeiro internacional durante a palestra. "Se um país como o Brasil, que fez todas as coisas certas, está nesta situação, então a globalização falhou", afirmou. "O Brasil seguiu o consenso de Washington, mas isso não significou crescimento". Ele disse que, quando o sistema não está funcionando bem, é preciso modificá-lo. "O sistema precisa mudar para cuidar dos seus membros", afirmou. Se isso não acontecer, ele acha que existe um risco grande de o Brasil reestruturar seu débito e impor um controle de capitais. "Seria uma pena." Soros também criticou o governo americano. "Me preocupa muito a nova doutrina do país", afirmou. "O governo americano vê a soberania do seu próprio país como algo que não pode ser violado. Mas não vêem da mesma maneira a soberania do resto do mundo." Ele também criticou a reação exagerada dos mercados às eleições brasileiras. "A democracia é boa, desde que o eleito seja o candidato dos mercados", afirmou. "Isso é inaceitável".

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