Morre João Gilberto, aos 88 anos de uma vida pródiga em talento, voz, violão e silêncio

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Publicado Sábado, 06 de Julho de 2019 às 13:57, por: CdB

Pilar central da da bossa nova, João Gilberto desceu dos palcos, nos últimos anos de vida, para mergulhar em uma fase complexa da vida, repleta de querelas familiares, gestão duvidosa de seus recursos financeiros e da carreira.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  Celebrado no mundo entre os maiores compositores de uma era, o músico João Gilberto morreu em seu apartamento na Zona Sul da Cidade, neste sábado, aos 88 anos. O artista deixa três filhos,  João Marcelo, Bebel e Luisa. A causa da morte ainda não foi comunicada.
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O compositor João Gilberto tornou-se o ícone da bossa nova, no mundo
Pilar central da da bossa nova, João Gilberto desceu dos palcos, nos últimos anos de vida, para mergulhar em uma fase complexa da vida, repleta de querelas familiares, gestão duvidosa de seus recursos financeiros e da carreira. Seu reconhecido talento foi, aos poucos, cedendo lugar a um homem triste e cada vez mais silencioso. Sem João Gilberto, a bossa nova não teria alcançado desde os ambientes mais sofisticados, ao redor do mundo, até os elevadores e consultórios de dentista. Seu jeito único de lidar com as cordas vocais e de seu inseparável violão tornou-se inconfundível. Em sua obra prima, o disco "Chega de saudade", lançado em 1958, influenciou os maiores artistas brasileiros e foi reverenciado no meio musical.  

Desde o adolescente que se apresentava no alto-falante da Praça da Matriz de Juazeiro, no sertão baiano, o brilho se acentuou na capital baiana, para onde se mudou ainda jovem.

Baiano

Na sua chegada ao Rio de Janeiro, tentou revelar seu estilo no grupo vocal Garotos da Lua, mas a forma peculiar de viver a vida já não cabia mais em um espaço tão pequeno. Gravou, em seguida, um disco que simplesmente passou despercebido pelas rádios, na época. Enfrentou tempos difíceis na Cidade Maravilhosa, sem ter onde morar ou um trabalho remunerado, Aproximou-se do astro daquele período, o cantor Orlando Silva, mas também não conseguiu levar adiante a parceria. 

Diante da muralha que enfrentou no Rio, migrou para Porto Alegre, em 1957. Vagou pelas casas noturnas no Sul do país, Minas Gerais e, sem sucesso, voltou a Juazeiro. Mas não desistiu. Seu retorno à Guanabara de então revelaria o seu estilo inconfundível.

Silêncio

Em plena ditadura, anos depois de se recolher no interior do Brasil, João Gilberto mostra a bossa nova ao poeta Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Chico Buarque e tantos outros ícones da Música Popular Brasileira (MPB) que estavam, ainda, em seus primeiros passos. Tom Jobim, que conheceu João Gilberto ainda aos 26 anos, no raiar da década de 60 do século passado, foi profético ao afirmar que ele influenciaria “toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores”. João Gilberto gravou nos EUA, apresentou-se pela Europa, em festivais e nas grandes salas da Alemanha, Canadá e Japão. Senhor de uma batida inédita e um timbre dificílimo na voz, sempre repetia um mantra à platéia, antes de dedilhar as cordas do violão. — Silêncio.
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