O Brasil e os países não alinhados

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Publicado Segunda, 26 de Setembro de 2016 às 12:00, por: CdB
Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro:
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Colunista comenta o encontro dos países não alinhados na Venezuela
A mídia conservadora Ocidental de um modo geral não só desconheceu a recente Conferência do Movimento dos Países Não Alinhados, realizada na Ilha de Margarida, na Venezuela, como as que deram algum espaço tentaram de todas as formas desqualificar o importante evento político que contou com a participação de 134 países. Os argumentos foram primários, desde a justificativa de que com o fim da Guerra Fria não tem mais razão de ser os Não Alinhados, mas omitiram um fato importante, ou seja, que na Venezuela, cerca de 55% da humanidade estavam lá representados. Segundo informou a Telesul, a oposição procurou desqualificar também a homenagem a Hugo Chavez com a inauguração de uma estátua do presidente venezuelano morto prematuramente há dois anos. Disseram os opositores vinculados ao Departamento de Estado norte-americano que poderá acontecer o mesmo que com uma estátua de Saddam Hussein, derrubada no Iraque, fato acontecido depois da invasão militar dos Estados Unidos. Como se existisse algum grau de comparação, a não ser talvez o desejo da oposição de direita venezuelana e continental que o governo dos Estados Unidos decida também invadir o país bolivariano. O ódio conservador ao Movimento dos Não Alinhados é perfeitamente justificado. Pode-se imaginar, por exemplo, o que se passa na cabeça de um Ministro do Exterior como o do governo ilegítimo de Michel Temer? Este Serra, hoje associado ao Paraguai e a Argentina, que se aliaram contra a Venezuela, impedindo que o país assumisse a presidência pro tempore do Mercosul deve, claro, ter ódio carnal ao referido Movimento que se reuniu na Ilha de Margarida. Serra e os seus seguidores como se sabe assumiram o posto de resgate dos interesses estadunidenses na América Latina e não vão sossegar até conseguirem o intento de fazer voltar ser a região pátio traseiro e quintal de Washington. Desta forma dá para entender melhor como agem Serra e todo o governo golpista e ilegítimo de Michel Temer. O presidente foi discursar na ONU tentando convencer o mundo a uma tese impossível de ser aceita, ou seja, de que a mudança ocorrida com a ascensão de Temer foi absolutamente legal. Temer e Serra sabem perfeitamente que a maioria dos países do mundo está convencida de que aconteceu mesmo um golpe parlamentar e que não adianta Temer falar ao contrário, seja onde for. Delegações de seis países latino-americanos - Venezuela, Equador, Costa Rica, Nicarágua, Cuba e Bolívia saíram ou nem apareceram para ouvir o discurso do presidente brasileiro ilegítimo. Serra foi escalado para dizer que pelo número de países presentes os protestos não foram significativos. O que queria Serra, que todos os países agissem como os seis? Cada país tem a sua forma de não aceitar a representação brasileira atual. Não ter saído do recinto não significa necessariamente a aceitação da tese que não houve um golpe parlamentar. Os próprios tímidos aplausos, apenas protocolares, demonstraram também a frieza em relação à aceitação da tese absurda de Michel Temer. O Presidente ilegítimo do Brasil imagina que discursar na ONU significa conseguir absolvição da tese de golpe parlamentar. Pode ter sido convencido por José Serra, uma figura política sem gabarito para ocupar qualquer cargo ministerial e que só virou Ministro do Exterior porque o governo é o de Michel Temer. Esta é a verdade do momento atual que não é aceita pelo conservadorismo que também não aceita o Movimento dos Países Não Alinhados, que o Brasil em algum momento participou como observador. Com Temer e Serra na área externa, o Brasil seria repelido no encontro realizado na Venezuela, porque os países participantes não aceitam fazer o jogo de Washington. Historicamente devem ser lembradas as figuras do indiano Nehru, do iugoslavo Tito, entre outros. Seria até uma ofensa às suas memórias uma participação na reunião da Venezuela, do Brasil de Temer, Serra e demais figuras golpistas que viraram governo através de um golpe parlamentar com o apoio da mídia conservadora e de setores do Judiciário. Esta é uma realidade, que por mais que não queira a mídia conservadora não pode deixar de ser mencionada.
Mário Augusto Jakobskindjornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV transmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançados no Rio de Janeiro. Direto da Redação é um fórum democrático de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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