O clima é de caos, Marina-Barbosa seria solução?

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Publicado Segunda, 10 de Julho de 2017 às 12:00, por: CdB

O Brasil no fundo do poço, vive o caos. A desesperança e a descrença são enormes. Lula, depois das denúncias da Lava Jato, não tem a mesma força para se eleger. Bolsonaro, embora tenha crescido e utilize o populismo tem limites bem marcados - no máximo um terço do eleitorado, reunindo extrema-direita, racistas, homofóbicos, saudosistas do golpe militar, nazifascistas. Resta Marina, de esquerda, criada no PT mas rejeitada pelo PT (o que é sempre bom sinal), ecologista, com ideias novas, num país onde muitos intelectuais apoiam a Coreia do Norte e até hoje não condenaram Stalin. Se Marina tiver Joaquim Barbosa como vice, será imbatível. O clima de hoje é propício para se ler a coluna do filósofo gaúcho Moysés Pinto Neto. Nota do editor Rui Martins.

Por Moysés Pinto Neto, de Porto Alegre:

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Surge a possibilidade de uma chapa Marina Silva com Joaquim Barbosa Fora dos esquemas de corrupção, Marina Silva seria imbatível com Joaquim Barbosa como vice

Lula segue forte concorrente. Sua base não se esqueceu dos "Anos Dourados" da década passada e o comparativo com Temer só o fortaleceu. A acusação de corrupção não comove diante de um novo governo composto de alguns criminosos notórios e, em compensação, teve melhoria de vida, enquanto o projeto de hoje é reduzir direitos por meio das reformas. Vocês conhecem minha restrição à candidatura. Mas negar essa força é negar fatos. Se concorrer, dificilmente não vai para o segundo turno, embora tenha que lidar com uma rejeição gigante.

- Embora o percentual não esteja tão alto, Marina é, por ora, a candidatura com mais chance de crescimento. Tudo indica que irá lançar uma candidatura centrista, estilo Macron, e apostar suas cartas num discurso contra a polarização e pela modernização das instituições, salientando seu apoio ao complexo MP/Judiciário nos últimos anos. Ela pode abocanhar pequena fatia da esquerda, bastante centro e, eventualmente, se disputar com Lula, inclusive uma boa parte da direita.

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- Bolsonaro, por outro lado, imagino que esteja se aproximando do teto. É um candidato com muito pouca plasticidade e uma rejeição muito alta, fazendo sucesso apenas em um segmento jovem masculino agressivo que luta contra o feminismo e direitos de minorias e as parcelas mais autoritárias da população, além de uma razoável fração que quer "avacalhar" colocando um nome fora do tabuleiro. Teria muito voto útil contra, embora um cenário com Lula seja muito preocupante.

- Dória, como Marina, tem boa possibilidade de crescimento, se não esbarrar em Alckmin. É o nome renovado dos tucanos, tem uma administração nas costas, apoio dos 'verde-e-amarelos' e pode se tornar competitivo se souber vender sua posição como "voto útil" em relação aos bolsominions. É presidenciável.

- Ciro só será competitivo se Lula sair do páreo. Aí entra na disputa com Marina pelo lugar da esquerda com um provável Dória no segundo turno e tem chances de roubar o lugar, porque vai abocanhar segmentos que Marina não leva (petistas, trabalhistas, psolistas etc.) e a direita vai se aglutinar em torno a Dória.

O interessante do cenário é que, apesar de toda alavancagem da direita nos últimos tempos, a briga entre Dória e Bolsonaro pode acabar dividindo os votos e colocando Lula e Marina no segundo turno. Teríamos o segundo turno que não houve em 2014 e pautas totalmente diferentes das atuais, que têm forte rejeição popular.

Marina é também quem tem mais chance de bater Lula, pois leva votos de todos os segmentos. Mas, se Lula não concorrer, ela pode perder para Ciro o lugar no segundo turno. Entre Marina e Dória, não há como prever quem leva. Entre Lula e Dória, acho que Lula teria grandes chances, embora não apostasse forte nisso. Acho que Ciro perde no segundo turno em todos os cenários, com exceção do Bolsonaro -- que, paradoxalmente, só teria chance contra Lula, cenário que ocasionaria provavelmente uma quase guerra civil entre nós.

Eu votaria até em Temer contra Bolsonaro. Acho que quem está pensando em avacalhar com esse voto deveria ter vergonha na cara. Eu votaria em Dória, Alckmin, Aécio ou qualquer outro político de direita porque tem uma coisa que importa mais que direita ou esquerda: a democracia. Bolsonaro a põe em risco. Perder a noção dessa linha é perder a decência. A pior corrupção não é comparável ao que poderia vir ali. Corrupção se resolve com controle, investigação e processo; autoritarismo não se resolve, ele nos esmaga com sua violência.

Moysés Pinto Neto, doutor em Filosofia pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professor na Faculdade de Direito da Universidade Luterana do Brasil, Porto Alegre.

Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.

 

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