O fim de agosto

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Publicado Sexta, 26 de Agosto de 2016 às 10:07, por: CdB

Os desonrados Senadores da República, neste fim de Agosto, têm seu preço fixado em placa que anuncia produtos para venda: querem o ponto final da Operação Lava Jato e a transferência do pré-sal para as mãos dos mafiosos do petróleo

 
Por Maria Fernanda Arruda - do Rio de Janeiro
  Agosto chega antecipadamente ao seu final, e rezemos com ele o réquiem de um governo que foi escolhido pelo povo, e pretendido para o povo. Por isso, não há espaço para ele na sociedade escravocrata da casa grande & senzala. Que tenhamos um final, o arremate de uma era de maldades e início de tempos mais venturosos. Dilma Rousseff estará na próxima segunda-feira no edifício que Niemeyer projetou para abrigar um Senado da República e que interesses mafiosos fizeram ser o antro da bandidagem mais sórdida já produzida nesse país. Seja qual for o desfecho dessa história patife, a coragem de Dilma Rousseff será o ponto de partida para a Historia de Libertação do Povo Brasileiro.
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Paulo, o Apóstolo, não está por aqui para lançar um raio de lucidez sobre o Senado
O que se pode desejar? Não que a bandidagem que abriga pistoleiros, exploradores de trabalho escravo, coronéis anacrônicos exploradores do Nordeste, políticos de mãos e mentes sujas, sustentados na palavra de vida fácil dos togados do STF, seja atingida por raio de lucidez, tal como se fez com Paulo, o Apóstolo. Votariam pelo NÃO ao golpe, mas voltariam, em Setembro, ser o que sempre foram: sujos e covardes. Os desonrados Senadores da República têm seu preço fixado em placa que anuncia produtos para venda: querem o ponto final da Operação Lava Jato e a transferência do pré-sal para as mãos dos mafiosos do petróleo.
unnamed2.jpgMaria Fernanda Arruda é colunista do CdB, às sextas-feiras
Negociar sobre as regras de exploração da riqueza do pré-sal, isso já ficou mostrado e provado como viável. Mas a anistia aos propineiros e propinados, isso não se negocia com a presidenta. A sua deposição será, em pouco tempo, mostrada como fruto desse assalto que foi e é promovido por cidadãos desrespeitáveis. A operação comandada por Sérgio Moro será jogada aos esgotos, e isso depois de rápidas e eficientes negociações com os dignos representantes do Ministério Público, suscetíveis ao tilintar de mais moedas, a começar do Procurador Geral, o Janot, figura desconjuntada que Lula retirou do limbo a que se destinava. Até que a caminhada rumo a antecipação de eleições, fazendo-se prévia e protocolar consulta ao povo, poderá ser aceita pelos senadores, desde que Eduardo Cunha seja posto a salvo e com ele todos os denunciados pelo furor inquisitório dos asseclas de Sérgio Moro. Mas seria preciso que a Máfia do petróleo aceitasse aguardar por mais alguns (não muitos) dias. Penso que alguns dos assessores e gente de confiança da Presidenta aceitariam negociar. Mas não ela, estejamos certos disso. Dilma Rousseff falará em defesa própria e se oferecerá à inquirição. Por parte de quem? Quantos dos senadores são portadores de moral ilibada, que os autorizaria a condenação? Durante todas as etapas, as que já foram percorridas, mostraram-se as vozes e as feições animalescas de homens e mulheres que praticaram e praticam toda a sorte de patifarias, muitos deles analfabetos, confundidos na sordidez de suas vidas criminosas. Quem terá o despudor de acusar, olhando em seus olhos? É verdade, patifes não são dotados de pudor. Mas terão que enfrentar a vontade inquebrantável de uma mulher que já se experimentou na tortura. Faltará coragem a eles. A decisão de Dilma Rousseff, de se apresentar no Senado, enfrentando a hostilidade lastimável dos que, eleitos para representar a vontade da República, curvaram-se aos interesses do dinheiro,essa sua atitude corajosa é que alimenta a esperança de dias de dignidade. Não importa o que possa acontecer amanhã ao presidente interino, covarde, que fugiu às suas responsabilidades.

Agosto decisivo

Consumado o golpe, o povo brasileiro, jovens, operários, trabalhadores, os aposentados, todos sofrerão as consequências do desrespeito das elites. Entre os promotores do golpe estão os empresários postos em suas poltronas acomodadas nas salas da FIESP, deleitando-se com a vingança pífia da derrota que lhes impôs o líder sindical de São Bernardo do Campo, em 1978. O Brasil sofrerá a rapinagem de suas riquezas, repetindo-se os crimes cometidos no passado construído pelo PSDB de FHC e de José Serra. Porém, Dilma , ao enfrentar a torpeza,estará ensinando mais uma vez que não se baixa a cabeça à tortura, nem a física e nem a moral. A partir do que vier a acontecer em 29 de Agosto, é preciso ter os olhos voltados para o horizonte. É preciso que, para que sejam validados os princípios de um regime democrático, o povo seja despertado da letargia provocada por vinte anos de ditadura e pela estupidificação criada por uma imprensa deformada e deformante. Não se trata de criar slogans, cartazes e faixas. É preciso deixar de lado grandiosidades, para que se possa pensar o "grande". Antes de chegarmos a uma Presidência de República vestida na autoridade do voto popular, será preciso trabalhar nas eleições municipais, pensando-se nos vereadores e nos prefeitos, para que se possa em seguida a isso eleger governadores, deputados e senadores. Um partido político, para obter a delegação do povo, vai as ruas e ganha votos. Para governar, é preciso que esse partido se mantenha ligado ao povo, ouça a sua vontade, dialogue e, ao mesmo tempo, saiba como, quando e com quem negociar. Não foi Dilma Rousseff, mas foi o PT que trocou as ruas pelos palácios, não se preocupou com a formação competente de seus quadros, não deu atenção às bases, às câmaras de vereadores, aos prefeitos, aos governadores estaduais e suas assembleias. Ninguém a ajudou a não errar. Nem políticos, nem a opinião pública. Iniciou seu segundo mandato compondo um ministério péssimo, equivocado em tudo, resultado de ajustes e acordos de bastidores que não foram feitos por ela. Lula pediu que se tivesse com ela a paciência devida à mãe. Dilma deu a Lula a fidelidade e respeito que se devem a uma figura paterna. Madura e equilibrada foi ela, enfrentando a pior forma de solidão, que é a do convívio com maldades, vaidades, incompetências, quem praticou a virtude tão esquecida da fidelidade. Dilma Rousseff, muito possivelmente, fora de um cargo que foi aviltado pelas instituições, será de mais valia para o esforço de reconstrução nacional. A sua integridade, somando-se ao respeito devido a uma mulher martirizada pela boçalidade dos que vestiam coturnos e desrespeitada pelos que vestem a toga da Justiça, será avalizadora de todas as vozes que preguem a verdade e os direitos do povo. Lula foi se fazendo a figura carismática, capaz de ser o condutor de seu povo, a partir da prisão arbitrária e fraudulenta que a Ditadura lhe impôs, fazendo com que um líder sindical se tornasse um guia da Nação. Dilma, ao ser confirmado o crime de sua condenação, por ser justa, fiel e honesta, poderá ser feita a Líder condutora de uma Nação vocacionada para o messianismo. É óbvio, o primarismo dos que querem destruí-la os impede de enxergar o óbvio. Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
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