O País dos Dedos-duros

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Publicado Sexta, 09 de Agosto de 2002 às 05:58, por: CdB

Em seu primeiro dia à frente do governo da Colômbia, e sem se deixar abalar pelos atentados que marcaram sua posse, o presidente Alvaro Uribe, anunciou nesta quinta-feira um plano para criar uma rede de informantes que pretende mobilizar um milhão de civis e envolver as Forças Armadas e a Polícia."Temos que superar o medo", disse Uribe em visita à comunidade de Valledupar, cerca de 900 km ao norte de Bogotá. "Não há lugar para hesitações, nem desculpas, todos têm que participar". Uribe propôs que um milhão de civis fiquem conectados com as forças de segurança governamentais usando transmissores de rádio dados pelo governo, para comunicar movimentações dos rebeldes. Na onda de atentados que marcou sua posse, atribuídos às chamadas Forças Armadas de Libertação da Colômbia, com explosões de bombas e ataques de morteiros inclusive diante do prédio do Congresso, onde ocorreu a transmissão do poder, pelo menos 19 pessoas morreram e mais de 60 foram feridas, segundo dados atualizados das autoridades em Bogotá. Uribe, com roupa informal e sem paletó, parecia relaxado ao chegar a Valledupar, uma capital provincial, abaixo das montanhas de Sierra Nevada de Santa Marta, para detalhar seus planos de tornar as rodovias mais seguras e sem ameaças de seqüestros. Participaram da cerimônia os 600 primeiros voluntários do projeto lançado pelo presidente. A campanha prevê o alistamento de milhares de motoristas de taxi e de caminhões em todo o país. O representante comercial dos Estados Unidos, Robert Zoellick, que chefiou a delegação norte-americana para a posse do novo presidente, disse admirar a coragem de Uribe em assumir comando do combate à violência no país. "O serviço público não é fácil em país algum e muito menos quando se tem a vida ameaçada todos os dias", disse Zoellick. "Os narcotraficantes tentaram impedir a eleição e, depois disso, tentaram impedir a posse matando gente inocente". O prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, disse que duas das casas de onde foram lançados os morteiros haviam sido alugadas duas semanas antes da posse, o que demonstrava que os ataques haviam sido planejados com antecedência.Os ataques ocorreram apesar do intenso esquema de segurança montado na capital, incluindo a mobilização de helicópteros, aviões de reconhecimento, e o bloqueio de estradas, com um total de 25.000 homens colocados nos principais pontos da cidade. Cerca de 3.500 pessoas morrem todos os anos em função do estado de guerra na Colômbia. O próprio pai de Uribe foi morto durante uma tentativa de seqüestro, e o novo presidente sobreviveu a vários ataques terroristas, inclusive um que causou a morte de seus guarda-costas durante a campanha eleitoral. Um advogado de 50 anos, formado em Harvard e com dois mandados como senador, Uribe conta com 77 por cento de apoio popular, segundo pesquisa divulgada pelo jornal El Tiempo no dia de sua posse. Um comunicado dos rebeldes das Farc divulgado nesta quinta-feira reiterou o propósito de negociar o fim da violência com base nas condições que definiu no dia 15 de maio e que compreendem a desmilitarização dos departamentos sulinos de Caquetá e Putumayo, além de garantias de combate às forças paramilitares. O novo governo colombiano não se pronunciou sobre o comunicado das Farc.

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