O troco para o pivete

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Publicado Sexta, 21 de Julho de 2017 às 12:00, por: CdB

A cidade do Rio de Janeiro não é segura e pode-se morrer de uma bala perdida. Em Brasília não há tiroteios e nem pivetes, mas ali se pratica o alto roubo tanto por apreciadores como por críticos de Marx. Em síntese, a corrupção endêmica ali matou a ideologia. Nossa colunista Maria Lúcia Dahl, que vive no Rio, sentiu a transformação da cidade e colabora hoje com uma poesia ao pivete, excelente por sinal. (Nota do Editor)

Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:

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Uma poesia aos pivetes do asfalto

Engraxate, flanelinha, menino de rua, pivete.
Versão moderna do Negrinho do Pastoreio
Zumbi dos Palmares do asfalto,
Rebento do ventre livre
O saldo da escravidão.
Mas que bandeira é esta que imprudente
Na gávea tripudia
Na porta do Hotel Othon
Negociando comida por comportamento bom?
Pivete
Tripulante, vingativo do antigo Navio Negreiro.
Mas que bandeira é esta de colorido berrante, 
Vestidos de cobertores, descalços no calçadão?
Vendedores de limão, pivetes.
Sem código, sem lei, sem diálogo
Passa a bolsa aí, tia
Copacabana, de dia.
Frutos de fraudes, licitações, falcatruas,
Bandos de meninos de rua
Aprendendo um beabá:
Dá um trocado dá, dá.
Produto da História do Brasil
Eterna guerra civil.
Pivete: a inversão de papéis.
O troco. Me dá um trocado?
Trocando o roubo do seu futuro
Pela morte de presente
Crianças armadas de verdade por falta de
Revólver de brinquedo
Tentando vencer o medo.
O troco. Me dá um trocado?
Escadinhas de bandidos neste país sem mocinhos
Onde todos são maninhos em progressivo arrastão,
Vendedores de limão, pivetes.
Sem cara nem coração.
Meninos de vida curta, opostos de Peter Pan
Colados aos companheiros
Na porta da catedral
Vergonha e dor nacional.

Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.

Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.

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