O universo das cores e suas curiosidades

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Publicado Sábado, 23 de Julho de 2016 às 06:47, por: CdB

As cores são ondas eletromagnéticas assim como os raios-X, as ondas de rádio e as microondas. A diferença fundamental, naturalmente, é que as cores são ondas eletromagnéticas visíveis

Por Paulo Henrique Tavares – de Minas Gerais:  

As cores desempenham um papel tão importante na vida dos seres vivos que é uma tarefa difícil imaginar o mundo sem elas. Quer chamar a atenção de um bebê? Agite um objeto bem colorido na frente dele e certamente testemunhará um belo sorriso surgindo.

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As cores também desempenham um papel fundamental no processo de seleção natural e sobrevivência dos animais

O ser humano possui uma atração natural pela beleza que, por sua vez, é muitas vezes associada às cores. Pintar o corpo sempre fez parte da cultura indígena, hindu e africana e na sociedade ocidental a maquiagem faz parte do cotidiano da maioria das mulheres. As cores também desempenham um papel fundamental no processo de seleção natural e sobrevivência dos animais. O pavão só consegue acasalar e perpetuar seus genes se sua cauda estiver suficientemente colorida e o camaleão está com os dias contados se for incapaz de trocar a cor rapidamente para se camuflar.

Mesmo de forma inconsciente, a percepção das cores pode nos livrar de situações perigosas:

“Não vou comer isso. Olha que cor estranha. Com certeza deve estar estragado!”

“Não ponha a mão ai! Deve estar muito quente. Está até vermelho.”

“Acho que vou ao médico. Está vendo essa enorme mancha roxa no meu tornozelo?”

Mas o que são as cores e como elas surgem?

As cores são ondas eletromagnéticas assim como os raios-X, as ondas de rádio e as microondas. A diferença fundamental, naturalmente, é que as cores são ondas eletromagnéticas visíveis, isto é, passíveis de serem detectadas e processadas em imagens pelo cérebro humano. Cada tipo de onda eletromagnética oscila em uma faixa de freqüência específica e, quanto maior essa freqüência, maior a energia que a onda é capaz de transmitir.

A visão humana consegue detectar e distinguir bem, exceto pelas pessoas daltônicas, uma gama de cores do vermelho (menos energética) ao violeta (mais energética), passando pelo laranja, amarelo, verde e azul. A luz solar é branca por conter a soma de todas as componentes de cor do espectro visível. Quando os raios solares encontram gotas de água suspensas no ar, geralmente quando o sol surge logo após uma chuva de verão, cada componente de cor que forma essa luz branca viaja com velocidade diferente dentro da gota e o resultado é a separação delas em um belo arco-íris. Se você não quiser esperar pela próxima oportunidade de ver um desses ao vivo, basta pegar um CD e usá-lo para espalhar a luz. Você verá o surgimento das cores do vermelho ao violeta na ordem correta de energia. Isso ocorre porque os CD’s possuem ranhuras microscópicas onde são gravadas e armazenadas as informações digitais. Como essas ranhuras possuem a mesma ordem de tamanho das ondas eletromagnéticas do visível, elas as espalham formando um belo espectro colorido.

As cores surgem quando um objeto é aquecido e essa energia provoca transições de energia nos elétrons presentes na estrutura química do material. Cada uma dessas transições energéticas está associada a uma onda eletromagnética. Você já deve ter percebido que alguns objetos quando aquecidos passam a emitir luz própria, um fenômeno chamado de incandescência. Leve um objeto metálico, como uma faca, à chama do fogão e perceberá inicialmente o aparecimento de uma cor laranja que passará para uma tonalidade azul se a temperatura continuar aumentando. Mas cuidado, isso provocará uma modificação na estrutura do aço que ficará manchado de forma permanente e alguém pode ficar realmente chateado com você.

Na nossa estrela, o sol, uma quantidade de energia equivalente a 4000 trilhões de bombas atômicas como a de Hiroshima é gerada pela fusão nuclear de átomos de hidrogênio em átomos de hélio. Isso faz com que a temperatura estimada do núcleo solar seja de 10 milhões de graus Celsius. Já na superfície a temperatura é bastante amena, apenas 6000 graus. Nessa colossal fonte de energia, ocorrem todas as transições eletrônicas possíveis e o resultado é uma gigantesca bola de fogo emitindo luz branca.

As ondas de menor energia e que não podem ser vistas são as de rádio/TV, as microondas e o infravermelho, que é assim chamada por estar logo abaixo do vermelho. O curioso é que o infravermelho está associado às ondas de calor. Os animais de hábito noturno conseguem enxergar na região do infravermelho e, com isso, encontrar suas presas no escuro da floresta pelo calor gerado por elas. Sensores de movimento que acionam automaticamente as luzes e óculos de visão noturna, usados por combatentes, nada mais são que detectores de infravermelho.

As ondas de maior energia não visíveis começam no ultravioleta, passando pelos raios-X, gama e cósmicos. Todas essas componentes eletromagnéticas já podem ser danosas à saúde humana. No caso do ultravioleta (UV), geralmente temos motivos para nos preocupar apenas em exposições mais intensas e prolongadas. Isto é, devemos usar protetor solar contra os raios UV quando vamos à praia, porém talvez não seja necessário ao irmos a esquina comprar  pão. Essa receita pode não funcionar para o indivíduo que sofra de albinismo. Nesse caso, a proteção natural contra os raios solares, a melanina que dá cor à nossa pele, não é produzida e toda a proteção vinda dos bloqueadores solares é necessária.

 Porque enxergo o meu carro vermelho e não azul?

A primeira resposta, mais superficial e óbvia, é dizer apenas que o meu carro foi pintado com tinta vermelha e o do vizinho com azul. Mas isso não explica o fenômeno. A explicação correta, do ponto de vista científico, seria que um carro é vermelho porque o pigmento que foi usado ali na pintura é capaz de absorver todas as componentes de cor da luz natural, exceto o vermelho. Como o vermelho não foi absorvido, ele é refletido e por isso enxergamos o carro dessa cor. Usando esse mesmo raciocínio podemos dizer que o pigmento no carro do vizinho é capaz de refletir apenas o azul.

Se você estiver fazendo uma trilha de bicicleta e sentir seus braços tostando sob um sol escaldante de verão, vai preferir usar uma blusa de mangas compridas claras ou escuras?

Certamente escolheu a primeira opção, pois sabe que as tonalidades claras são mais “frescas” e isso está correto. Voltando ao exemplo dos carros, uma blusa é branca porque ela refletiu todas as componentes da luz incidente. Uma blusa é preta porque absorveu todas as componentes de cor e não refletiu nenhuma. Boa parte dessa energia absorvida pelo pigmento preto é convertida em calor, explicando o desconforto térmico quando usamos roupas escuras sob o sol intenso.

Paulo Henrique Tavares, é professor do Ibmec-MG com formação em química pela UFMG e doutorado em engenharia de materiais pela UFOP.

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