OMS: vacina contra zika só será testada em 18 meses

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Publicado Sexta, 12 de Fevereiro de 2016 às 08:26, por: CdB

 

Pesquisas devem levar ainda um ano e meio para alcançar fase de testes em larga escala, para organização, ligação entre vírus e microcefalia é cada vez mais provável e confirmação científica deve ocorrer em breve

  Por Redação, com DW - de Londres:   A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou nesta sexta-feira que testes em larga escala de uma vacina contra o vírus zika devem acontecer somente em 18 meses. – Apesar do cenário encorajador, as vacinas estão pelo menos 18 meses longe da fase de testes em larga escala – afirmou a vice-diretora de sistemas de saúde e inovação da OMS, Marie-Paule Kieny. A OMS listou 15 empresas e grupos que desenvolvem atualmente pesquisas na aérea. Kieny acrescentou que duas candidatas à vacina estão em um estágio mais avançado: uma desenvolvida pelo Instituto Nacional para Saúde dos Estados Unidos e outra da empresa farmacêutica Bharat Biotech, na Índia.
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A OMS listou 15 empresas e grupos que desenvolvem atualmente pesquisas na aérea
A declaração da organização é mais cautelosa do que a do governo brasileiro. Na quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse que uma parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas, no Pará, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, possibilitará que a vacina contra o zika seja desenvolvida em até 12 meses. Após essa etapa, a vacina ainda precisa passar por testes clínicos para, em seguida, começar a ser produzida e disponibilizada à população. Essa fase deve durar mais dois anos, totalizando três anos para que todo o processo seja concluído.

Microcefalia

A diretora da OMS disse que a organização acredita cada vez mais na probabilidade da relação entre o vírus zika, casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barre, mas ressaltou que a confirmação científica deve ocorrer dentro de quatro a oito semanas. – Temos algumas poucas semanas para ter certeza da causalidade, mais a ligação entre zika e síndrome de Guillain-Barre é altamente provável – disse Kieny. O Brasil é o país mais afetado pelo surto de zika, com mais de 1,5 milhão de infectados e três mortes confirmadas. A Venezuela também confirmou na quinta-feira três mortes por complicações de saúde ligadas ao vírus. O surto se espalhou rapidamente pela América Latina e levou a OMS a decretar emergência sanitária mundial por causa do elevado número de casos de microcefalia e outras complicações neurológicas no Brasil, possivelmente relacionados ao zika.

Cérebro de microcéfalo

A ciência pode estar mais perto de desvendar o mistério que vem intrigando cientistas mundo afora: a possível ligação entre o vírus zika e a microcefalia. Em artigo publicado no New England Journal of Medicine na última quarta-feira, cientistas da Eslovênia afirmam ter detectado a presença do patógeno no cérebro de um feto de uma mulher europeia que ficou grávida no Brasil. Uma autopsia no feto comprovou a microcefalia e também revelou diversas lesões cerebrais graves e a presença de níveis elevados do vírus zika em tecidos cerebrais. A quantidade de agentes infecciosos no cérebro do feto era maior do que a normalmente encontrada em amostras de sangue, afirmaram os pesquisadores do Centro Médico Universitário, em Liubliana. Segundo a cientista que coordenou o estudo, Tatjana Avsic Zupanc, a descoberta de sua equipe pode apresentar "a evidência mais convincente até agora" de que os defeitos de nascimento associados à infecção de zika na gravidez podem ser causados pela replicação do vírus no cérebro. Ela ressaltou, porém, que mais estudos são necessários para confirmar essa hipótese. De acordo com a pesquisa da Eslovênia, a mulher que estava no Brasil apresentou sintomas da infecção durante a 13ª semana de gravidez. As ultrassonografias realizadas entre a 14ª e a 20ª semana apresentaram, porém, resultados normais. Somente quando ela retornou à Europa, graves anomalias no feto foram verificadas na ultrassonografia, na 29ª semana de gestação. A mulher também notou a redução dos movimentos fetais. Ela solicitou um aborto, que foi aprovado pelo Estado e por uma comissão de ética médica e realizado na 32ª semana de gravidez.

Resultado positivo

De fato, o feto tinha microcefalia, e a mãe não tinha nenhum histórico familiar de anormalidades genéticas. Numa autópsia, pesquisadores descobriram que a superfície cerebral de feto era mais uniforme do que o normal e que havia várias calcificações. Amostras cerebrais também deram resultado positivo para o zika. A equipe não encontrou o vírus em nenhum outro órgão do feto, o que sugere que o vírus ataca somente o tecido cerebral. Os pesquisadores ainda não sabem como isso ocorre. Os exames de outros vírus da mesma classe, como dengue ou febre amarela, e de outras doenças infecciosas que podem causar microcefalia, como rubéola ou toxoplasmose, deram negativo. A partir das amostras cerebrais, os pesquisadores identificaram ainda a sequência genética completa do genoma do vírus, que era semelhante à do presente na Polinésia Francesa e no Brasil. Num editorial do New England Journal of Medicine, que acompanhou a publicação do artigo da Eslovênia, pesquisadores de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts afirmaram que a descoberta ajuda a fortalecer a associação biológica entre o zika e a microcefalia. Para os pesquisadores, o estudo sugere também que anomalias fetais só podem ser identificadas pelo ultrassom quando a gravidez já está em estado adiantado. Em janeiro, pesquisadores do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, confirmaram que o zika consegue ultrapassar a placenta durante a gestação e identificaram sua transmissão placentária. Estudos anteriores haviam revelado a presença do vírus no líquido amniótico.
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