Pacote de bondades não convence caminhoneiros, que ameaçam parar

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Publicado Quarta, 17 de Abril de 2019 às 13:05, por: CdB

Segundo os coordenadores do movimento, a paralisação ocorrerá caso haja novos reajustes no preço do óleo diesel.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
  O pacote de medidas positivas anunciado por ministros do governo de Jair Bolsonaro (PSL) em favor dos caminhoneiros não convenceu os profissionais do transporte de carga, no país. Eles organizam uma nova paralisação nacional para o dia 21 de maio, um ano depois da greve que abalou o governo Temer em 2018 e atingiu, em cheio, a economia brasileira.
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Caminhoneiros bloquearam rodovias por todo o país, provocando um forte impacto na economia que são percebidas ainda hoje, quase um ano depois
Segundo os coordenadores do movimento, a paralisação ocorrerá caso haja novos reajustes no preço do óleo diesel; e se o piso mínimo do frete for, mais uma vez, descumprido. — Se o diesel aumentar um centavo que seja e não houver efetiva fiscalização da aplicação do piso, a gente para no dia 21, quando a greve do ano passado completará um ano — adiantou a jornalistas o caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedéco, de Curitiba (PR), um dos integrantes da rede de líderes da categoria.

Emergências

De acordo com o manifestante, as representações que atuam hoje em Brasília junto ao governo federal não têm controle sobre caminhoneiros de todo o país. — Há de 20 a 30 lideranças espalhadas por todos os Estados se comunicando em articulação. Eles podem dizer com todas as letras que não vamos parar, mas nós vamos se nada for feito — avisou Alves. Na opinião do consultor econômico Cláudio Frischtak, da empresa de consultoria Inter.B, do Rio de Janeiro, em artigo publicado na mídia conservadora, nesta quarta-feira, o governo age sob pressão dos caminhoneiros, que ameaçam reeditar uma paralisação. “O governo tomou duas medidas emergenciais: adiou o aumento do diesel e lançou um pacote de benefícios de forma a melhorar a rentabilidade da atividade e as condições de trabalho da categoria”, constata.

Repique

“Tal qual o tabelamento do frete e outras medidas tomadas pelo governo Temer — que permanecem —, as iniciativas não serão eficazes. São, na melhor das hipóteses, paliativas, em razão de um cálculo político realista: o país ainda é refém dos caminhoneiros autônomos, e quebrar a espinha de uma greve necessitaria com toda a probabilidade da aplicação da Lei de Segurança Nacional e de uma intervenção das Forças Armadas em caráter decisivo. Não se vislumbra apetite no governo para exercer essa opção”, acrescentou. O problema estrutural do mercado de fretes rodoviários, segundo Fischtak, está no “desequilíbrio entre oferta e demanda que levou à queda dos fretes e à dificuldade de segmentos dos caminhoneiros de pagar seus custos profissionais e suas contas domésticas”. “A situação se tornou crítica pela combinação de baixo crescimento econômico e aumento do preço do petróleo (e, logo, do custo direto e de oportunidade da Petrobras). Infelizmente, esses fatores continuam a operar neste ano: estamos contratando um repique do ano passado — um crescimento medíocre, e o preço do barril permanece acima de US$ 70 o barril, próximo aos valores de 12 meses atrás, antevéspera da greve”, observa.

Cargas

A saída para o quadro de dificuldades, de acordo com o analista, estaria no “médio prazo”. “O mercado de frete necessita se ajustar, reduzindo a sobreoferta. Controle de preços, tabelas e outras intervenções levam na realidade a aprofundar o desequilíbrio: os caminhoneiros menos competitivos adiam a saída do mercado; e os donos de carga verticalizam suas frotas e procuram alternativas (ferrovias, cabotagem, hidrovias)”, indica. Para Fischtak, “esse processo já está acontecendo, e o mercado para os autônomos tende a encolher, agravando a situação particularmente desse segmento. As medidas do governo pouco fazem para suavizar o ajuste do mercado, ainda que melhorar a qualidade das estradas mais perigosas, ou prover áreas de descanso (desde que seguras), ou ainda desburocratizar esse mercado sejam ações bem-vindas”. “No longo prazo, o desafio é ampliar os investimentos em transportes e melhorar sua alocação e eficiência. Nossa matriz de transportes é distorcida, com uma participação excessiva de rodovias no transporte de cargas (entre 63% e 71%, dependendo do critério adotado), muito acima de países de grande extensão territorial, a exemplo dos EUA (38%)”, conclui.
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