Papa Francisco faz história com visita à Península Arábica

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Publicado Segunda, 04 de Fevereiro de 2019 às 12:24, por: CdB

Francisco é primeiro líder da Igreja Católica a visitar região de origem do islã. Estada de dois dias nos Emirados Árabes Unidos prevê missa e reunião com príncipe herdeiro. Conflito no Iêmen deve ser abordado.

Por Redação, com DW - de Abu Dhabi

O papa Francisco chegou neo domingo a Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, na primeira viagem de um líder da Igreja Católica à Península Arábica, o berço do islã.
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Papa Francisco em Abu Dhabi
O destino não foi escolhido por acaso: os Emirados Árabes Unidos abrigam quase 1 milhão de católicos, ou 9% da população, em sua ampla maioria migrantes asiáticos que foram ao país em busca de trabalho. Francisco aterrissou no aeroporto de Abu Dhabi pouco antes das 22h (16 em Brasília) e foi recebido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Zayed al-Nahyan e representantes do Vicariato Apostólico da Arábia Meridional, com sede nos Emirados Árabes. Também estava presente o imã da Mesquita de al-Azhar, Ahmed al-Tayyib, líder da principal instituição do islã sunita no Oriente Médio, com quem o papa saiu conversando do aeroporto. Nesta segunda-feira, ao chegar ao Palácio Presidencial, o pontífice foi recebido com uma parada militar, tiros de canhão e jatos que sobrevoaram o local e deixaram rastros de fumaça nas cores do Vaticano, branco e amarelo. A pompa da recepção militar contrastou com o pequeno Kia preto no qual o papa, que adota um discurso de humildade, chegou ao palácio. O papa ficará 48 horas no país muçulmano, onde participará de uma conferência sobre fraternidade ao lado de outros líderes religiosos. Ele também vai celebrar uma missa ao ar livre nesta terça-feira, num estádio esportivo. O público esperado é de 135 mil pessoas, o maior da história do país. Os Emirados Árabes Unidos têm orgulho de sua tolerância e diversidade religiosa, ao menos para os padrões restritivos do Golfo Pérsico. Na Arábia Saudita, por exemplo, templos e celebrações públicas cristãs são proibidas. Desde o início do seu pontificado, Francisco já visitou vários países de população majoritariamente muçulmana, como o Egito, o Azerbaijão, Bangladesh e a Turquia, dentro de sua estratégia de aproximação do cristianismo com o islã. Em março, ele deverá ir ao Marrocos.

Guerra civil do Iêmen na agenda

No seu encontro com o príncipe-herdeiro, nesta segunda-feira, a expectativa era que o papa abordasse a situação no Iêmen, um país árabe devastado por uma guerra civil com a participação de nações estrangeiras, entre elas os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Num sinal de que o tema seria abordado, o papa expressou, pouco antes de iniciar a viagem, grande preocupação com a crise humanitária no Iêmen e pediu que a comunidade internacional cumpra os acordos alcançados entre as partes em conflito. As Nações Unidas estão tentando implementar um cessar-fogo no porto de Hodeidah, o principal do Iêmen, o que pode abrir caminho para negociações de paz. Os Emirados Árabes Unidos participam da coligação internacional que ajuda militarmente o governo iemenita na luta contra os rebeldes houthis, apoiados pelo Irã, a potência regional xiita. Segundo a ONU, o Iêmen é palco da pior crise humanitária do mundo, que começou com a intervenção da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e seus aliados sunitas. Milhões de iemenitas correm o risco de morrer de fome. Antes da viagem, organizações internacionais, que são proibidas nos Emirados Árabes Unidos, pediram a Francisco que pressione os líderes do país em relação às graves violações dos direitos humanos no Iêmen e à repressão às críticas internas. A organização não governamental Human Rights Watch (HRW) afirmou que a coligação internacional liderada pela Arábia Saudita,  e apoiada pelos Emirados Árabes Unidos – bombardeou casas, mercados e escolas indiscriminadamente no Iêmen, ao mesmo tempo em que impediu que a ajuda humanitária chegasse aos iemenitas. A organização também denunciou que as autoridades dos Emirados realizam detenções arbitrárias de críticos, dissidentes políticos e ativistas de direitos humanos. A HRW pediu que o papa lidere a pressão internacional para responsabilizar os Emirados Árabes Unidos pelos seus atos contra os direitos humanos. "Apesar das suas afirmações sobre tolerância, o governo dos Emirados Árabes Unidos não demonstrou interesse real em melhorar seu histórico de direitos humanos."
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