Pavor se transforma em paranóia e norte-americanos podem perder liberdades civis

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Publicado Sexta, 28 de Setembro de 2001 às 17:15, por: CdB

Começam a multiplicar-se nos Estados Unidos as vozes que advertem sobre o excesso de patriotismo a as propostas que ameaçam as liberdades civis surgidas após os atentados de 11 de setembro. A discriminação a estrangeiros, especialmente árabes e seus decendentes, tem crescido na mesma proporção em que aumenta o pavor de novos atentados. Na grande perseguição aos terroristas iniciada no país após os ataques, 350 pessoas foram detidas nos Estados Unidos, quase todas com nomes de origem árabe. Três estudantes sauditas foram presos em Washington depois de terem sido denunciados por um taxista que os levou até a entrada de uma casa noturna. Em Boston, três jovens que chegaram a um hotel para visitar um parente enfermo também foram denunciados pelo fato de um deles ter nome idêntico ao de um suposto terrorista. Em Rhode Island, agentes federais pararam um trem onde viajava Sher JB Singh, um indiano de origem sikh. Ele foi algemado e retirado do trem com armas apontadas para sua nuca. Seu crime: ele usava um turbante. Nenhuma das pessoas detidas até agora foi acusada por crimes relacionados com os ataques de 11 de setembro. Porém, mais de 100 suspeitos ainda estão presos por infrações menores, normalmente ligadas a vistos vencidos que, em outros tempos, poderiam ser resolvidas apenas com uma simples troca de cartas. Por esses e outros motivos, multiplicam-se nos Estados Unidos - e não só entre os defensores dos direitos civis - os temores de que a caça aos terroristas seja acompanhada de diversas violações de algumas liberdades básicas dos cidadãos norte-americanos. Entre a comunidade árabe dos Estados Unidos circula um folheto intitulado "Conheça seus direitos", no qual é explicado em detalhes como as pessoas devem se comportar caso sejam detidas pela polícia. Da mesma forma, corre risco a liberdade de expressão garantida pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Dois jornalistas foram demitidos por terem criticado o comportamento do presidente George W. Bush no dia dos ataques contra Nova York e Washington. No Texas, o editorialista Tom Gutting foi demitido por ter escrito - em artigo publicado no jornal Texas City Sun - que o presidente "voava pelo país como uma criança assustada com um pesadelo que busca abrigo no seio materno". No Oregon, outro jornalista, Dan Guthrie, perdeu seu emprego por escrever que Bush "fugiu" depois dos ataques. O humorista Bill Maher, apresentador de um irreverente programa de televisão sobre política, também enfrentou problemas. Ele acusou de "covardes" os soldados norte-americanos que atiravam mísseis de cruzeiro contra inimigos localizados a centenas de quilômetros de distância. Ele viu-se obrigado a pedir desculpas em público depois de ser criticado por muitos de seus compatriotas e pela própria Casa Branca. "Em momentos como este, todos os norte-americanos devem estar atentos ao que dizem", avisou o porta-voz do presidente.

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