Presidente foge de estudantes após declarar apoio à ditadura militar

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Publicado Quarta, 27 de Março de 2019 às 11:13, por: CdB

Bolsonaro cancelou a visita prevista à Universidade Presbiteriana Mackenzie, nesta quarta-feira, em razão do repúdio à presença do presidente. A informação foi confirmada pela reitoria da faculdade.

 
Por Redação - de São Paulo
  A recomendação do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), para que a caserna passasse a comemorar, com alarde, a passagem de 31 de março a 1º de Abril, data do golpe de Estado que mergulhou o país em uma ditadura militar, por 20 anos, levou-o mais alguns pontos abaixo na opinião pública. Uma estridente manifestação de estudantes de classe média alta, nesta manhã, na capital paulista, obrigou o mandatário a mudar a agenda oficial.
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Alunos da Mackenzie foram às ruas contra a presença de Bolsonaro na universidade
Bolsonaro cancelou a visita prevista à Universidade Presbiteriana Mackenzie, nesta quarta-feira, em razão do repúdio à presença do presidente. A informação foi confirmada pela reitoria da faculdade. Alunos da instituição e entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes (UEE) articulavam-se para uma série de atos na rua Maria Antônia, local emblemático para a luta estudantil no período da ditadura. "Ô Bolsonaro, seu fascistinha, os mackenzistas vão botar você na linha”, gritavam os estudantes:

Lado certo

A visita previa uma incursão de Bolsonaro ao centro de pesquisa de grafeno da faculdade, o MackGraphe, juntamente com o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. O anúncio da agenda foi divulgado nas redes sociais, desde a semana passada. Na segunda-feira, Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa que sejam feitas comemorações em unidades militares, com a intenção de homenagear a ditadura. Diferente do presidente, os alunos da instituição posicionaram-se pela democracia e contra discursos de ódio. “O avanço do extremismo político, do nacionalismo e da intolerância traz consequências diretas para o modelo de educação que estará vigente pelo próximo período. Após os 50 anos da Batalha da Maria Antônia, vamos mostrar que nós, mackenzistas, estamos ao lado certo da história”, escreveram os organizadores.

Repúdio

Ainda nesta quarta-feira, a Defensoria Pública da União pediu que a Justiça Federal em Brasília proíba o governo federal e as Forças Armadas de realizarem comemorações, sob pena de multa. O Ministério Público Federal também contestou Bolsonaro. A recomendação de Jair Bolsonaro também mereceu o repúdio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal. Para o órgão, a decisão tem "enorme gravidade constitucional", pois configura desrespeito ao Estado democrático de direito, na medida em que celebra um regime ditatorial, caracterizado por violações aos direitos humanos e crimes internacionais. "O golpe de Estado de 1964, sem nenhuma possibilidade de dúvida ou de revisionismo histórico, foi um rompimento violento e antidemocrático da ordem constitucional", afirma a PFDC, em nota pública. "Se repetida nos tempos atuais, a conduta das forças militares e civis que promoveram o golpe seria caracterizada como o crime inafiançável e imprescritível de atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático previsto no artigo 5°, inciso XLIV, da Constituição de 1988", acrescentam.

Ato criminoso

Assim, apontam, "festejar a ditadura é festejar um regime inconstitucional e responsável por graves crimes de violação aos direitos humanos". A iniciativa "soa como apologia à prática de atrocidades massivas e, portanto, merece repúdio social e político, sem prejuízo das repercussões jurídicas”. Os procuradores observaram que usar "a estrutura pública para defender e celebrar crimes constitucionais e internacionais atenta contra os mais básicos princípios da administração pública, o que pode caracterizar ato de improbidade administrativa", conforme prevê a Constituição.
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