Reflexões sobre racismo e judaísmo

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Publicado Sexta, 14 de Abril de 2017 às 12:00, por: CdB

É  dramático ler nas redes sociais as reações de alguns membros da comunidade judaica ao encontro do deputado Bolsonaro com os membros da Hebraica. Ignorando as conhecidas e bem divulgadas declarações racistas e homofóbicas do deputado, minimizam e descaradamente acham ter sido um encontro dentro do exercício "democrático". Tal falta de memória, pois tantos judeus sofreram e morreram vítimas do racismo, faz nosso colunista, no texto que segue, clamar "Quanto aos judeus extremistas que foram à Hebraica fica a advertência: vocês não aprenderam a lição da história, não têm memória e são farinha do mesmo saco que o ser abjeto chamado Jair Bolsonaro. Vocês na II Guerra Mundial provavelmente agiriam como os capos que prestavam serviços ao opressor denunciando vítimas do nazismo para se safar. Algo vergonhoso e que aconteceu mesmo." (Nota do Editor, Rui Martins)

Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro:

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Como agiriam no passado os judeus que hoje dão tribuna ao racista Bolsonaro?

Está na hora da Justiça enquadrar o deputado Jair Bolsonaro por racismo. Em palestra no clube Hebaica-RJ, o nazifascista, apoiado por judeus de extrema direita seus seguidores, ofendeu quilombolas e o que ele disse é uma demonstração clara de racismo que os brasileiros, sejam negros ou brancos, não podem aceitar calados.

Tão lamentável como o pronunciamento foi a reação da plateia, que envergonha qualquer comunidade, ainda mais a que foi vítima do nazismo do III Reich. É inadmissível que extremistas judeus que foram escutar o parlamentar sigam se pronunciando nas redes sociais como se o que fizeram faça parte de uma normalidade. Não é o que aconteceu no clube localizado na rua das Laranjeiras. Foi de fato uma aberração que merece o repúdio de toda a sociedade brasileira, seja qual for a origem.

Do lado de fora da Hebraica ocorreram protestos por parte de judeus e não judeus que demonstraram repúdio pelo que estava acontecendo, realmente uma afronta às vítimas do III Reich e da ditadura empresarial militar que o parlamentar racista sempre apoiou e chegou até a saudar efusivamente o torturador reconhecido pela Justiça, Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Espera-se que a Justiça brasileira acate a ação contra o deputado racista, porque se não o fizer estará compactuando com uma forma de manifestação abjeta e totalmente ilegal. E que envergonha para brasileiros e brasileiras, minimamente conscientes, o que aconteceu na Hebraica-RJ.

Quanto aos judeus extremistas que foram à Hebraica fica a advertência: vocês não aprenderam a lição da história, não têm memória e são farinha do mesmo saco que o ser abjeto chamado Jair Bolsonaro. Vocês na II Guerra Mundial provavelmente agiriam como os capos que prestavam serviços ao opressor denunciando vítimas do nazismo para se safar. Algo vergonhoso e que aconteceu mesmo.

Com a palavra a Justiça brasileira, que terá de responder ao pedido de abertura de um processo contra quem ofendeu uma parte, a maior parte, representativa do povo brasileiro, ou seja, os afros descendentes, ofendidos por um paramentar boquirroto que não pode mais seguir impune com as barbaridades que costuma vomitar, como repetiu na Hebraica-RJ.

E vale sempre repetir, o deputado defensor de torturadores e tudo mais, é também um apoiador incondicional de outro extremista de direita chamado Benjamin Netanyahu, defendido também pelos que foram a Hebraica prestigiar o aliado racista.

Denunciar e criticar duramente o que aconteceu na Hebraica-RJ é também homenagear os que foram vítimas da ditadura empresarial militar como Vladimir Herzog e tantos outros brasileiros e brasileiras que repudiaram o arbítrio e todas as formas de opressão. Da mesma forma é prestar homenagem às vítimas do nazifascismo e repudiar os capos que faziam  jogo do opressor nazista.

Mário Augusto Jakobskindjornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV transmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançados no Rio de Janeiro.

Direto da Redação é um fórum democrático de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

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