Publicado Terça, 18 de Dezembro de 2018 às 07:59, por: CdB
Entre os movimentos atabalhoados do novo governo a se iniciar em primeiro de janeiro, salta aos olhos o modo inábil como pretende se relacionar com o parlamento.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Sob o pretexto de repudiar os partidos, que seriam instituições “nocivas” e prestigiar bancadas temáticas, evangélica, ruralista, da bala, etc. , a montagem do ministério teria ocorrido até agora à margem de qualquer negociação com dirigentes partidários e líderes parlamentares.
O capitão futuro presidente não é dado a aprender com a História e tem demonstrado imaginar que o céu é perto
Entretanto, deputados não reeleitos, integrantes do chamado baixo-clero, recrutados para ajudarem diretamente o futuro ministro Onix Lorenzoni (ele também elemento dessa camada pouco qualificada do Congresso), passaram a negociar diretamente com parlamentares avulsos, oferecendo-lhes cargos nos Estados e vendendo a ideia de que, assim, eles se tornarão uma forte liderança regional, segundo reportagem da Folha de S. Paulo de domingo.
Também aí a intenção é fragmentar mais ainda as já fragmentadas bancadas partidárias e enfraquecer seus líderes.
Esse esquema estaria encontrando guarida principalmente entre parlamentares do PSD e do PR, que juntos constituirão bancada de 67 deputados na próxima legislatura.
Mas há resistências.
Sobretudo no PP e MDB, que se dispõem a ser base do governo, próceres mais experimentados alimentam a expectativa de que esse “modelo” faça água já na primeira votação importante para o governo.
Aí entrariam em cena a turma experimentada e realmente influente, forçando o governo a mudar de atitude.
Contam inclusive com a falta de experiência do capitão presidente quanto à dinâmica parlamentar, pois em seus sucessivos mandatos jamais passou de integrante, ele também, do baixo clero, ausente das tratativas para a aprovação ou a rejeição de matérias importantes e de qualquer negociação entre lideres e a Mesa das Casas legislativas.
Ao campo oposicionista, cabe observar os acontecimentos com atenção e presteza para, quando possível, explorar competentemente contradições nas hostes governistas.
Vale lembrar o ex-presidente Fernando Collor, que anos após o seu indigitado governo, veio a reconhecer que um dos seus erros crassos foi precisamente não ter valorizado as relações entre o Executivo e o Legislativo.
O capitão futuro presidente não é dado a aprender com a História e tem demonstrado imaginar que o céu é perto...
Que futuro terá?
Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil