Retirada de Padilha coloca Temer a um passo da queda para Lava Jato

Arquivado em:
Publicado Sexta, 24 de Fevereiro de 2017 às 10:39, por: CdB

Yunes, que chegou a ser assessor especial da Presidência da República, foi citado na delação premiada de Claudio Melo Filho, da Odebrecht, e forçado a deixar o cargo. Ele foi citado porque R$ 4 milhões dos R$ 11 milhões pedidos por Temer à Odebrecht

 

Por Redação - de Brasília e São Paulo

 

Principal capataz do presidente de facto, Michel Temer, na chefia da Casa Civil, o ex-deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) está afastado do governo. O tiro que o abateu partiu de onde ele jamais esperaria. Melhor amigo de Temer, o empresário José Yunes o delatou para a Polícia Federal (PF). E fez pior. Confessou sua participação no tráfico de propina à revista semanal de ultradireita Veja, porta-voz do grupo Abril que, junto com os demais veículos conservadores de comunicação sustentam o golpe de Estado, em curso no país.

eliseu-padilha-abr-1.jpgPadilha deixa o governo sob a suspeita de participar de um esquema de distribuição de propina para a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara

Yunes disse à revista que foi usado como "mula" de Padilha. Com o pleno conhecimento de Temer. “Mula” é um jargão do submundo das drogas. O termo se refere ao indivíduo que, conscientemente ou não, transporta droga em seu corpo, geralmente para outros países.

Yunes, que chegou a ser assessor especial da Presidência da República, foi citado na delação premiada de Claudio Melo Filho, da Odebrecht, e forçado a deixar o cargo. Ele foi citado porque R$ 4 milhões dos R$ 11 milhões pedidos por Temer à Odebrecht, em pleno Palácio do Jaburu, teriam sido entregues em seu escritório de advocacia. O dinheiro saiu do departamento de propinas da empreiteira.

Padilha envolvido

Com a entrevista deste fim de semana, Yunes tenta se livrar da cadeia e transfere a responsabilidade para Eliseu Padilha. Compete, agora, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se for o caso, denunciar Padlha e impedir seu retorno à equipe de Temer. Eliseu Padilha pediu licença do cargo, alegando motivos de saúde. Teria que operar a próstata.

Aos jornalistas, Yunes afirmou que Temer, a quem trata como seu “melhor amigo”, tem conhecimento de que ele foi usado como "mula" por Padilha. Na entrevista, Yunes disse ter recebido Lúcio Funaro em seu escritório, a pedido de Padilha. No encontro, Funaro lhe contou que estava financiando 140 deputados para garantir a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados.

— Contei tudo ao presidente, em 2014. O meu amigo Temer sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre. Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o 'currículo' dele. Nunca havia conhecido o Funaro — disse Yunes.

Versão dos fatos

Yunes acrescenta que Funaro articulava uma estratégia para eleger uma bancada fiel a Cunha, na eleição à presidência da Câmara.

— Ele me disse: 'A gente está fazendo uma bancada de 140 deputados, para o Eduardo ser presidente'. Perguntei: 'Que Eduardo?'. Ele respondeu: 'Eduardo Cunha' — afirmou.

Yunes decidiu falar depois que apareceu nas delações da Odebrecht. De acordo com o delator Cláudio Melo Filho, da propina de R$ 11 milhões acertada com Temer. Ao todo, foram R$ 4 milhões entregues no escritório de Yunes. Por isso mesmo, ele se antecipou e procurou também o Ministério Público para dar sua versão dos fatos.

Tais recursos foram acertados num jantar entre Michel Temer e Marcelo Odebrecht, no Palácio do Jaburu, em 2014, com a presença de Padilha. O dinheiro saiu do departamento de propinas da empreiteira e ajudou a bancar a eleição de Cunha para a Câmara. Uma vez eleito presidente, Cunha passou a sabotar o governo da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT) e aceitou o pedido de impeachment, sem crime de responsabilidade, abrindo espaço para o golpe de Estado que levou Temer ao poder.

Em apuros

Além de Temer, delatado por seu “melhor amigo” José Yunes, seu sucessor direto, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), também está em situação ainda mais delicada. Maia foi delatado, nesta manhã, por Fernando Cavendish, dono da Delta Engenharia, segundo aquela mesma revista.

Em seu acordo, Cavendish afirmou que Maia recebeu R$ 3 milhões como contrapartida pelas obras da construtora no Engenhão – contrato obtido quando seu pai, Cesar Maia, era prefeito do Rio de Janeiro. O empreiteiro afirmou, ainda, que Maia levou ainda outros R$ 500 mil.

Primeiro homem na linha de sucessão presidencial, Maia também aparece nas delações da Odebrecht, como o "Botafogo", e da OAS.
Delatado, ele se enfraquece para conduzir reformas impopulares, como a da Previdência, que pode deixar 70% dos brasileiros sem aposentadoria, segundo um estudo do Dieese. Maia ainda não se pronunciou sobre a denúncia feita por Cavendish.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo