SP: atos relembram vítimas da ditadura e da violência estatal

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Publicado Sexta, 29 de Março de 2019 às 11:03, por: CdB

Manifestantes lutam para transformar o antigo DOI-Codi em centro de memória. Caminhada do Silêncio, no Ibirapuera, lembra as vítimas do Estado de ontem e hoje.

Por Redação, com RBA - de São Paulo

Na próxima segunda-feira, o golpe de 1964, que instalou por mais de duas décadas uma ditadura civil-militar no Brasil completa 55 anos. Para marcar a data, entidades da sociedade civil organizam uma série de eventos que relembram as atrocidades cometidas naquele período.
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Dramas insepultos do passado comprometem amadurecimento democrático e perpetuam a violência estatal
Organizações da sociedade civil esperam adesão ainda maior da população aos atos após polêmica criada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que autorizou os quartéis a celebrar o golpe que derrubou João Goulart em 31 de março, apesar de as próprias Forças Armadas sugerirem comedimento. Durante a semana, a hashtag #DitaduraNuncaMais figurou entre as mais comentadas do Twitter, com mensagens em reação às declarações do presidente.

Literatura

Na livraria Tapera Taperá, na região central de São Paulo, o debate Literaturas e Ditaduras conta com a participação da historiadora Adrianna Setemy, professora da PUC-PR e da UFPR, e do escritor Ricardo Lísias, que, entre outras obras, é autor do blogue Diário do Fim do Mundo, de análise da conjuntura política brasileira. Com mediação do jornalista Tomás Chiaverini, o evento foi realizado nesta sexta-feira.

DOI-Codi

Já no sábado, em São Paulo, ocorrerá o 6º Ato Unificado Ditadura Nunca Mais, nas dependências do antigo DOI-Codi. O prédio, que fica na Rua Tutoia, Zona Sul paulistana, é considerado o maior centro de tortura e extermínio do período da ditadura. Hoje, abriga uma delegacia policial. Organizado pelo Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça (CPMVJ) e o Núcleo de Preservação da Memória Política (NM), além de relembrar as vítimas do DOI-Codi, 52 pessoas mortas nas suas dependências ou por seus agentes, segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), os manifestantes reivindicam que o local seja transformado em centro de memória. O edifício  foi tombado em 2014 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Desde então, os movimentos aguardam decisão do governo do estado para transferir a posse do local da Secretaria da Segurança Pública para a Secretaria de Cultura, para que então possa vir a ser transformado num museu, aos moldes do Memorial da Resistência que hoje ocupa o prédio no centro da cidade onde funcionou o antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops). A partir das 10h, haverá atividades culturais, com apresentações teatrais, musicais, slam de poesia, entre outras. "Que esse lugar de tortura, de mortes e assassinatos, seja convertido num espaço de cultura e educação em direitos humanos. É um pleito que sempre foi urgente", afirma o diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurício Politi.

Caminhada do Silêncio

As atrocidades cometidas pelo Estado contra seus próprios cidadãos não se restringem a governo ditatoriais. Contra a truculência, a crueldade e ilegalidades cometidas contra civis, ontem e hoje, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, em parceria com o grupo Tortura Nunca Mais de Salvador, realizam a 1ª Caminhada do Silêncio. Com velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes se concentram a partir das 16h, na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera, neste domingo, em São Paulo. Após programação cultural, os manifestantes saem em caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos Políticos, que fica ao lado do parque. Participantes ficarão em vigília até a 0h do dia 1º. – Nosso foco sempre foi demonstrar que a violência e a impunidade do passado reforçam a confiança dos agentes de Estado nos dias de hoje que podem permanecer com esse tipo de atitude contra populações vulneráveis. Não pode adotar uma atitude terrorista, de prender ilegalmente, sumir com as pessoas, não entregar os corpos – diz a presidenta da comissão, Eugênia Gonzaga, se referindo às violações cometidas nos tempos da ditadura, mas também àquelas que continuam a serem perpetradas contra populações vulneráveis nos dias de hoje, como indígenas e jovens negros nas periferias. Ela diz que o Brasil necessita avançar em políticas da chamada Justiça de Transição, adotada por inúmeros países que passaram por regimes de exceção, que compreende o reconhecimento dos crimes cometidos, a reconstituição de documentos históricos destruídos e a identificação de corpos de presos políticos, dentre outras ações. "A avaliação é que o país que não cumpre com essas medidas não chega a um amadurecimento democrático e não consegue eliminar essas mazelas relativas à violência", diz a procuradora.

Unifesp

Na próxima segunda-feira, o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) da Universidade Federal de São Paulo promove o debate Ditadura, Nunca Mais! 55 anos do Golpe Militar no Brasil, com a presença da ex-ministra da secretaria de Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci e do deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), que presidiu a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva. Participam também os historiadores Elson Silva (membro da Comissão Nacional da Verdade), Janaina Teles (da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos) e Cleber Vieira (diretor da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros - ABPN). O evento ocorrerá a partir das 18h, no auditório da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) da Unifesp, em Guarulhos, na região metropolitana.  
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