O vale do Estado do Amazonas é parte de uma região que faz fronteira com Peru e Colômbia, e abriga o maior número de povos indígenas isolados do mundo e outros que só tiveram contato com o mundo exterior pela primeira vez recentemente.
Por Redação, com Reuters - de Brasília Dezenas de indígenas do Vale do Javari, na Amazônia brasileira, contraíram covid-19, e especialistas e autoridades alertam que a doença representa uma grande ameaça para suas vidas e cultura.Infecção viral
A covid-19, uma infecção viral para a qual só existem tratamentos limitados e nenhuma vacina, ataca os pulmões e outras partes do corpo. – Se chegar nas comunidades isoladas, uma doença dessa vai dizimar todo mundo – advertiu Marubo. O Brasil já registrou mais de 57 mil mortes pela covid-19, o segundo maior número de fatalidades do mundo. Mais de 11 mil delas ocorreram na Amazônia, apesar de a região só ter 8% da população brasileira, de acordo com dados oficiais. O presidente Jair Bolsonaro vem sendo amplamente criticado pela maneira como lida com a crise do coronavírus. O país, que perdeu dois ministros da Saúde desde abril, ainda não empossou um novo titular na pasta. Bolsonaro desdenha o distanciamento social e defendeu o uso de dois remédios antimalária, a hidroxicloroquina e a cloroquina, apesar de haver poucos indícios de sua eficiência. Pesquisas divulgadas neste mês pela Coordenação de Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostraram que a taxa de mortalidade do coronavírus entre indígenas é 150% superior à da média brasileira. A taxa de infecção para cada 100 mil habitantes entre indígenas é 84% maior do que a média do Brasil, mostrou o estudo.Enfrentando a ameaça
Em março, agências de governos municipais, estaduais e federal em Atalaia do Norte, no Amazonas, criaram uma comunidade para lidar com a ameaça da covid-19 na Amazônia.
O comitê é responsável pela criação de estratégias de combate ao novo coronavírus, como o treinamento especializado de profissionais de saúde que atuam em Javari.
O Ministério Público Federal no Amazonas, enquanto isso, fez uma série de recomendações a autoridades de diferentes níveis no início de junho.
Aline Morais, procuradora federal no Amazonas, disse que, se as autoridades não implantarem as recomendações, o MPF pode abrir uma ação civil contra elas.
– Para a gente é importante essa atuação preventiva. A preocupação com os isolados existe. Precisamos atuar para que o coronavírus não chegue neles – disse ela à Thomson Reuters Foundation.
Recentemente, o Ministério da Saúde e outros órgãos estatais se mobilizaram para intensificar o atendimento de saúde na região remota em reação à pandemia.
Em parceria com Atalaia do Norte, a principal cidade do Vale do Javari, em junho o ministério inaugurou três leitos para tratamento de indígenas e uma área de recepção separada para eles no hospital local.
O ministério também prometeu 25 leitos hospitalares novos para indígenas em várias cidades próximas.
A pasta disse que seguiu as recomendações do Ministério Público Federal do Amazonas.
Milhares de itens de equipamento de proteção foram enviados a profissionais de saúde locais no começo deste mês, além de 1.320 exames rápidos e remédios.
Adicionalmente, mais de 20 profissionais de saúde foram enviados para se unir a uma força-tarefa na região e 16 ventiladores foram entregues.