Tensão entre Temer e Maia cresce e base não está mais tão aliada assim

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Publicado Segunda, 10 de Julho de 2017 às 11:01, por: CdB

Desde a rápida conversa entre o presidente de facto, Michel Temer, e Rodrigo Maia, nervosismo só aumenta no Palácio do Planalto.

 

Por Redação - de Brasília

 

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) alterou, sensivelmente, o tom de seu discurso. Antes de assumir a Presidência da Câmara, demonstrava ser um aliado de primeira hora do golpe de Estado que empossou o governo de Michel Temer. E não poupava palavras de otimismo. Agora, depois da conversa com o presidente de facto, no Palácio do Jaburu, na tarde de domingo, já não esconde mais que mudou de lado.

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Já se apagaram os sorrisos entre Michel  Temer, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)

A reportagem do Correio do Brasil apurou que Maia não garante a sobrevivência de Temer, com uma votação mais rápida da denúncia, ainda neste mês. O processo tende a se arrastar até agosto. Temer não gostou do que ouviu de Maia, segundo apurou o CdB. Segundo interlocutores próximos à dupla, Maia teria avisado a Temer que a votação da denúncia, em Plenário, está ligada, diretamente, ao desempenho da base que o peemedebista ainda tem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Após deixar o Jaburu, Maia teria desabafado, junto a alguns líderes no Parlamento, que o relacionamento entre ele o Temer estaria no limite. O deputado fluminense reclamou de “um profundo incômodo”, segundo interlocutores, com a forma como foi tratado por assessores diretos do peemedebista. O governo, diz ele, tem exigido dele um posicionamento mais ativo em favor do mandatário em queda. Entre eles, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Novas denúncias

Os prazos na CCJ, no entanto, pesam contra a pressa de Temer e seu grupo. O principal entrave para as tentativas de dar velocidade ao trâmite foi uma decisão do presidente da Comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), de ouvir os 132 titulares e suplentes da comissão, além de deputados e líderes partidários.

Os debates devem levar cerca de 40 horas, mas o governo vai tentar limitar o número de falas. O Planalto busca, ainda, brechas nas regras de tramitação para tentar garantir a votação no plenário ainda nesta semana. A aliados, Maia tem relatado que seguirá o regimento interno, a Constituição e os acordos feitos entre os deputados. Descartou, portanto, quaisquer manobras que possam ser vistas como benefícios a Temer ou à oposição.

Ainda em Agosto, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, poderá apresentar novas denúncias contra Temer. Há também receio sobre as delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do corretor Lúcio Funaro.

Troca-troca

Em uma tentativa desesperada de conquistar uma vitória na CCJ, os partidos aliados de Temer tentam substituir integrantes da CCJ que tendem a votar pela admissibilidade da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Seu grupo político ainda tentava, na manhã desta segunda-feira, mudar os votos de 11 deputados que o governo considera indecisos em sete partidos –DEM, PDT, PPS, PP, PMDB, PSB e PSDB.

Uma vez lido o parecer do relator, Sergio Zveiter (PMDB-RJ), sobre a denúncia, nesta tarde o advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, responsável pela defesa de Temer tende a pedir a palavra. Depois disso, espera-se o pedido de vista. O caso voltará a tramitar, assim, somente na quarta-feira, com as 40 horas de debates.

Os aliados mais otimistas de Temer calculam que haja 11 deputados indecisos, 39 favoráveis e 15 contrários ao peemedebista.

Delatado

Caso Temer seja substituído por Maia, porém, nada indica que este último chegue ileso a 2018. Maia aparece em delações premiadas da JBS como beneficiário de R$ 100 mil para campanhas eleitorais. Joesley Batista, no entanto, não teve qualquer contato com o filho do ex-prefeito César Maia. Assim, parece não dispor de nenhuma munição mais pesada contra o parlamentar do DEM.

O presidiário Eduardo Cunha, por sua vez, também citou Maia nas conversas em que tenta fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Nas delação da Odebrecht, no entanto, Maia é citado como receptador de cerca de R$ 1 milhão durante três campanhas eleitorais. E é investigado sob a suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro junto ao STF.

Vice comprometido

Caso Rodrigo Maia substitua Michel Temer no Planalto, quem assume o comando da Câmara dos Deputados inicialmente é o primeiro-vice-presidente da Casa, Fábio Ramalho (PMDB-MG). Ele também consta em uma lista de contribuições ilegais feitas pela Odebrecht entre 2008 e 2014. O documento foi entregue pelo ex-executivo da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior à Justiça.

No dia 11 de abril, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, autorizou investigações contra políticos. Atendeu a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A PGR fez o pedido com base nas delações dos ex-executivos da Odebrecht.

Segundo a lista do ex-executivo do setor de propinas da Odebrecht, Ramalho tem o apelido de ‘Barrigudo’. Em 2010, ele teria recebido R$ 50 mil para apresentar emendas e projetos de interesse da empreiteira.

O deputado diz que todas as doações recebidas na campanha foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E de forma absolutamente legal.

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