Trump veio para confundir

Arquivado em:
Publicado Sábado, 04 de Fevereiro de 2017 às 13:00, por: CdB

Por um êrro de edição, a coluna Trump, o presidente que veio para confundir, de Antonio Tozzi,  saiu prematuramente do ar, razão pela qual retorna hoje ao destaque. Aproveitamos para informar que os primeiros desvarios do magnata presidente Trump foram frustrados pelo juiz federal americano James Robart, do Estado de Washington, que bloqueou o decreto anti-imigração. Nota do Editor.

Para Trump, governar a nação mais poderosa do planeta é um grande reality show. Na terça-feira à noite, ele anunciou em horário nobre o nome do juiz indicado por ele para integrar a Suprema Corte dos EUA. Neil Gorsuch foi anunciado por Trump após ele ter indicado dois possíveis candidatos. Ou seja, para ele, tudo se resume ao concurso, à disputa e à conquista de índices de audiência.

Por Antonio Tozzi, de Miami, EUA:

DIRETO-CONVIDADO23.jpg
Para o cineasta e escritor Mike Moore, Trump é ameaça de Golpe de Estado nos EUA

Donald Trump sempre foi visto como um empresário controverso. Destacou-se no mercado imobiliário com métodos discutíveis. Seus adversários o acusam de ter enriquecido às custas de despejo de viúvas e famílias menos favorecidas a fim de comprar propriedades com preços abaixo do real valor de mercado. Além disto, deixou de pagar vários fornecedores, usando o recurso de pedir bancarrota para se livrar dos débitos com os credores. Verdade ou não, conseguiu construir um império e popularizou a marca Trump, presente atualmente em várias cidades do mundo em hotéis, resorts, spas e campos de golfe.

Homem com verve comunicativa, partiu para o mundo do entretenimento ao adquirir os direitos de realização do Miss Universo e, depois, foi protagonista do reality show “The Apprentice”, no qual ficou famoso com esta frase: “You are fired!” O sucesso foi tão grande que este programa foi replicado em vários outros países, inclusive no Brasil, sob o comando do publicitário Roberto Justus.

Como tem um ego do tamanho do universo, decidiu partir para a política. Ao contrário de todas previsões, elegeu-se catalisando as frustrações dos homens brancos com baixa instrução do interior dos Estados Unidos, que são fiéis aos preceitos dos cristãos evangélicos. Em menos de duas semanas na Casa Branca já provocou mais controvérsias que seus antecessores durante todo o mandato.

Em seu primeiro ato, assinou um decreto para construir um muro na fronteira com o México, e jacta-se ao dizer que o México é quem pagará custo do indigitado muro. Claro, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto reagiu à este disparate e cancelou até mesmo a visita que faria aos EUA, ultrajado pelo discurso racista de Trump.

Como se não bastasse, vem criticando fortemente os líderes europeus e prega a dissolução da União Europeia, afastando assim dois grandes aliados e importantes parceiros comerciais: México e União Europeia.

Ao melhor estilo de um Chacrinha ianque, ele baixou outro decreto discutível ao banir cidadãos de sete países majoritariamente muçulmanos: Síria, Irã, Iraque, Iêmen, Somália, Sudão e Líbia. As reações contrárias não se fizeram esperar. Diplomatas e governantes de outros países estão protestando pelo açodamento da medida. Ora, em que seu governo se baseou para marginalizar estes países e não incluir outros países muçulmanos? A Casa Branca avaliou que isto coloca em risco cidadãos desses países que se tornaram tradutores e informantes das tropas americanas? E como isto está colocando em risco as vidas dos próprios soldados americanos que encontram-se nestes países? Aliás, o militar William Owens, da Navy SEAL, morreu em uma ação de represália do Estado Islâmico. Nem mesmo o ISIS imaginou que o presidente que assumiria os EUA seria o maior propagandista para recrutar radicais dispostos a morrer pela causa islâmica.

Para Trump, governar a nação mais poderosa do planeta é um grande reality show. Na terça-feira à noite, ele anunciou em horário nobre o nome do juiz indicado por ele para integrar a Suprema Corte dos EUA. Neil Gorsuch foi anunciado por Trump após ele ter indicado dois possíveis candidatos. Ou seja, para ele, tudo se resume ao concurso, à disputa e à conquista de índices de audiência.

Essa guinada à direita mais radical vem assustando tanto os democratas como os republicanos que valorizam os preceitos partidários. Os senadores John McCain e Lindsey Graham, por exemplo, condenaram veementemente a postura de Trump ao autorizar métodos de tortura para arrancar informações de inimigos capturados em guerra. Como enfatizou McCainn – ele próprio vítima de tortura quando combateu na Guerra do Vietnã -, a tortura, além de cruel, é um método ineficaz de interrogatório, pois o torturado fala qualquer coisa para livrar-se do suplício.

Ele ainda está dentro daquele período de graça que todo presidente americano tem – os chamados 100 dias. Porém, com seu jeito impositivo vem enfrentando cada vez mais resistência aos seus métodos. Para piorar, efetivou Steve Bannon no Conselho de Segurança Nacional. Bannon, que foi suboficial da Marinha, fez seu nome com um site de ultra-direita chamado Breitbart e transformou-se no chefe de campanha do então candidato Trump. Ele vem sendo a consciência de Trump e incentivando-o a cometer essas barbaridades. Sem nenhuma formação para ocupar um cargo tão importante, está provocando queixas de aliados e opositores. Seria como Dilma Rousseff tivesse nomeado João Santana para integrar o Conselho de Segurança Nacional.

Aliás, não é difícil prever que nessa toada Trump pode vir a ter o mesmo destino de Dilma: o impeachment. O problema é que o vice dele, Mike Pence, é bem pior do que Michel Temer…

Antonio Tozzi começou a carreira no Grupo Estado de S. Paulo, onde trabalhou como revisor e repórter e redato do extinto Jornal da Tarde. Também atuou em assessorias de imprensa na ZDL de Comunicação e Burson Marsteller, além de ter atuado no Departamento de Comunicação da Souza Cruz e feito free lancers para diversas publicações. Nos Estados Unidos, foi editor chefe de publicações como Florida Review e AcheiUSA, além de trabalhar na CBS Telenotícias, PSN e TNT. Atualmente atua como tradutor e também redator da revista In Miami Magazine. Tem o blog dicasdotozzi.com

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo