Tudo pronto para o voo da galinha: indústria fecha o ano em queda forte

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Publicado Quinta, 02 de Janeiro de 2020 às 15:29, por: CdB

O PMI, calculado no centro internacional de estudos econômicos IHS Markit, caiu a 50,2 em dezembro, ante 52,9 em novembro. Leituras acima de 50 indicam expansão da atividade, mas a queda no número-índice mostrou que o crescimento se deu em ritmo mais brando. A taxa de dezembro é a mais baixa da atual série de cinco meses de crescimento.

 
Por Redação - de São Paulo
  A indústria brasileira sofreu firme desaceleração no último mês de 2019, com fraqueza em novos pedidos e produção em meio a cortes em vagas de trabalho. Uma medida das exportações sofreu a maior queda em uma década, segundo o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês)
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A produção da indústria nacional está em um de seus patamares mais baixos, em décadas
O PMI, calculado no centro internacional de estudos econômicos IHS Markit, caiu a 50,2 em dezembro, ante 52,9 em novembro. Leituras acima de 50 indicam expansão da atividade, mas a queda no número-índice mostrou que o crescimento se deu em ritmo mais brando. A taxa de dezembro é a mais baixa da atual série de cinco meses de crescimento.

Série atual

O segmento de bens de capital teve a maior influência negativa no número geral, registrando o primeiro recuo em um ano, tendo como pano de fundo “fortes contrações” em vendas e produção, segundo o IHS Markit. O crescimento do PMI foi puxado pelas categorias de bens de consumo e intermediários, com ambos registrando expansão em dezembro. Em contraste com o que dizem os analistas econômicos dos meios conservadores de comunicação, o total de novos negócios mal cresceu em dezembro, com a alta sendo a mais fraca da atual série de sete meses de números positivos. O desempenho foi pressionado em parte por menores vendas aos mercados internacionais. O componente de novas encomendas de exportação caiu na maior velocidade desde o começo de 2009, com fraca demanda de clientes da América Latina, sobretudo Argentina e Chile.

Ritmo leve

O subíndice de empregos foi outro a mostrar debilidade, diante da persistente e ampla capacidade ociosa da indústria. O emprego no setor manufatureiro teve o primeiro declínio desde julho, ainda que discreto. Enquanto isso, os custos dos insumos cresceram de forma ainda mais acelerada, com algumas empresas culpando a depreciação do real frente ao dólar. Contudo, os números mostraram falta de poder de precificação por parte dos produtores de bens, conforme os preços de vendas cresceram em ritmo leve, o menor desde agosto. À frente, os consultados preveem um cenário melhor, com o otimismo alcançando uma máxima em 11 meses, amparado por previsões de mais negócios, maior investimento e clima econômico favorável. O meio empresarial brasileiro, no entanto, comemora precocemente os ganhos de curto prazo – com redução de custos do trabalho, por exemplo –, mas não está sendo parte de um processo de recuperação sustentável e vigorosa da economia. O alerta é do professor Denis Maracci Gimenez, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Univesidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Crescimento

Para Gimenez, doutor em Desenvolvimento Econômico, a análise do cenário econômico nacional, depois de um ano de governo Bolsonaro, ou de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, não há no horizonte nenhuma articulação entre o setor privado nacional e o setor público, sob a gerência do Estado, que aponte para um caminho de retomada do crescimento. O professor acredita que alguns fatores determinantes para um crescimento robusto – como consumo das famílias e investimentos (de governos e empresas) – estão apagados do ambiente econômico. Medidas comemoradas pelo empresariado e por setores da mídia comercial, como a reforma da Previdência e o acirramento da desorganização do mundo do trabalho após a reforma trabalhista, são incapazes de fazer o país voltar a crescer de maneira consistente. A opinião pública, desinformada tanto por um governo neofascista quanto por seus colaboradores nos meios de comunicação, uma ideia falsa, segundo o economista do Cesit, de que algumas reformas feitas e outra que estão sendo prometidas serão capazes de induzir a uma recuperação mais adiante. Projetar por exemplo um PIB de 2% em 2020 como “boa notícia”, depois de cinco anos de economia estagnada por falto de projeto de desenvolvimento, é uma ilusão. — É impossível sair da estagnação sem uma ação ordenada e estratégica do Estado — acrescentou Gimenez, à revista RBA. Nenhum país do mundo, em tempo nenhum da história, conseguiu recuperar e desenvolver sua economia, criar empregos decentes e promover alguma distribuição de renda sem um Estado atuante. E resume Gimezes: “o pensamento de Guedes é criar um Estado ausente”.
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